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Língua de Vaca ou Azedinha

Língua de Vaca ou Azedinha

No outono ou no inverno, em algum gramado, jardim, terreno ou beira de estrada, você já deve ter visto uma plantinha rasteira com folhas verde-escuro alongadas que parecem línguas brotando do chão. Com o passar do tempo, se a planta não tiver sido removida, ela cresce de forma ereta, pequenas flores discretas aparecem e pequenas sementes marrom-esverdeadas envoltas por um tipo de “pele” surgem em pendões. Muitas vezes, em algum dia, a gente passa no local onde a planta estava e percebe que ela desapareceu após algum jardineiro ou trabalhador do serviço público de limpeza cortar a grama. Mas alguns dias depois ressurgem novas plantinhas, jovens, com cor verde ainda mais reluzente. No verão, elas quase desaparecem.

Essa planta é popularmente conhecida como Língua-de-vaca, mas também por labaça e azeda-graúda (Paraná), e no exterior por Lengua de vaca ou Romaza em espanhol e Bitter dock em inglês. São três as subespécies de Língua-de-vaca mais comuns no Brasil: Rumex brasiliensis Link., Rumex crispus L. e Rumex obtusifolius L. A Língua-de-vaca, Rumex obstusifolius L., é nativa da Europa, porém, há muito tempo cresce espontaneamente quase em todo Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, em áreas de altitude, terrenos agrícolas, pomares, jardins, pastagens e terrenos baldios. Já existem diversas variantes da planta no mundo. A Rumex acetosa L., conhecida como azedinha, é muito parecida com as demais citadas.

As Línguas-de-vaca são herbáceas perenes, que possuem raízes pivotantes profundas com pequenos rizomas na base. Gostam de solos úmidos, compactados e ricos em matéria orgânica. E toleram o frio. Na primavera, florescem e nos verões de calor intenso hibernam. Suas folhas são simples, apresentam pecíolos e parecem línguas, como já foi citado acima. Suas flores são reunidas em inflorescências e frutos pequenos, secos, com a semente presa à parede do pericarpo. Sua propagação se dá através das sementes e rizomas.

As folhas da Língua-de-vaca são comestíveis. Podem ser consumidas cruas, em saladas, ou cozidas, em refogados, cremes, panquecas e sopas. As folhas jovens têm sabor mais agradável e as mais velhas são mais fibrosas. Quando a planta floresce as folhas ficam amargas. As sementes, quando secas ao forno e depois trituradas, podem ser usadas para produzir farinha. É uma hortaliça folhosa muito subutilizada no país. A Crioula | Curadoria Alimentar costuma fazer molho Pesto com Língua-de-vaca e fica uma delícia!

Agora que você conheceu um pouco mais sobre a Língua-de-vaca, que tal experimentá-la em algum preparo culinário?

Caso você queira coletar na rua, em algum terreno, praça ou jardim, evite locais sujos, como calçadas, ao redor de vias de trânsito de veículos, locais onde cães e gatos costumam defecar e urinar, próximo a esgotos e águas possivelmente contaminadas. Na dúvida, compre Língua-de-vaca em feiras, e caso ainda não tenha para vender, converse com a/o feirante, pergunte se conhece a planta e se sim, pergunte se a cultiva, se pode fornecê-la, assim você poderá obter a planta para consumo. Algumas plantas comuns, não-convencionais e espontâneas são cultivadas e consumidas pelos produtores, mas seu valor comercial é baixo ou a planta é tão desvalorizada socioculturalmente que nem sequer é considerada para a venda.

Faça um bom proveito!

Texto por André Torresini

Revolução Ecológica JÁ!

Revolução Ecológica JÁ!

Por Kellen Vieira

“Se quando está quente chamamos de aquecimento global, quando está frio fora do normal como se chama?”

Bom, que tal chamar de mudanças climáticas para não alimentar a dúvidas daqueles que ainda acreditam que tudo isso é balela?

Para essas pessoas que ainda não acreditam nas mudanças climáticas, o sexto relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) divulgado em é bem enfático: não serão as pequenas mudanças que irão amenizar essa realidade não, são aquelas mudanças RADICAIS mesmo.

A primeira alteração a que temos que aderir, se tratando de mudanças climáticas, é pararmos  de falar das possíveis consequências caóticas que tais mudanças podem gerar, como se fossem acontecer no futuro: está tudo acontecendo hoje, aqui e AGORA.

O aquecimento global não é mais uma perspectiva, ele é uma realidade dura e difícil que já impacta nossas vidas. 

Já não há mais tempo, nem motivo, para debater se a causa das mudanças climáticas é um fenômeno cíclico e natural da terra, ou causado por ação humana. Já temos uma resposta, com base em evidências científicas: a causa é ação humana. A avidez completa e desmedida por consumo, lucro, produção e competição são alguns dos fatores estruturantes no modelo econômico vigente que causam a destruição dos recursos naturais e ecossistemas.

Para solucionar os problemas, e evitar catástrofes ainda maiores, nós temos que avançar com propostas reais. Se, como diz o jingle famoso, “o futuro já começou”, nós não começamos nada bem. 

No acordo de Paris, em 2015, foi acordado que deveríamos tentar controlar esse aumento da temperatura em, no máximo, 2ºC, sendo o ideal apenas 1.5ºC. Um dos principais pontos citados no relatório foi o aumento geral da temperatura da terra em 1.1ºC  no período de 2011 a 2015, em comparação à segunda metade do século 19. Mudança essa que afetou diretamente diversos biomas e, como temos visto, a vida de muitos e muitas.

Segundo o relatório, uma das soluções possíveis está diretamente ligada ao investimento em tecnologias sustentáveis, além do monitoramento constante dos nossos avanços e retrocessos sobre o assunto. Outro ponto importante é a identificação de áreas que ainda não estão tratando as mudanças climáticas como prioridade, com o objetivo de  fomentar a priorização desse assunto nessas regiões. 

Ou seja, você pode substituir falar de voto impresso, desfile de carros de guerra e armar a população, por falar sobre as queimadas na Amazônia, pantanal e cerrado, a crise hídrica e elétrica e a desertificação dos nossos biomas, por exemplo.

Não sei se avisaram o agronegócio, mas eles vão precisar de chuva para continuar plantando esse tanto de soja e criando esse tanto de gado.

Esse é o momento para pensarmos em âmbito global, deixando diferenças de lado. Não se trata de um problema urbano ou rural, doméstico ou internacional, é um problema que engloba a humanidade e cada um dos indivíduos que compõem esta. Temos que pensar em uma trajetória daqui para frente focada em solucionar esses problemas que já estão acontecendo e nos afetando.

As mudanças climáticas são um fenômeno sistêmico, transgeracional, e previsível. Isso significa que as soluções para os problemas terão de ser coletivas, com planejamento e execução de curto, médio e longo prazo, e com base em evidências científicas.

Como solução para o mundo, nós da Crioula alimentamos o discurso sobre a revolução ecológica, uma revolução gentil que nos garante sobrevivência através do conhecimento e práticas possíveis seja no campo ou na cidade. Para saber mais e ter acesso ao nosso conteúdo especial de assinantes, faça parte do nosso clube de assinaturas, econtribua com essa revolução!

Conflitos no campo

Conflitos no campo

Por Kellen Vieira

Temos direito à terra. Em um modo literal esse direito se faz presente em constituição, onde diz que a terra deveria cumprir um papel social, econômico e ecológico de preservação e produção. Inclusive, também consta em lei que o interesse social da sua utilização pode prevalecer o individual. Ou seja, o interesse coletivo para a utilização ou aproveitamento da terra sobrepõe interesses individuais, isso é considerado principalmente quando se trata de desapropriação para reforma agrária, ou no “uso capião”, por exemplo.

 

Compreender o papel social da terra, não se trata apenas de sua produtividade em um sentido numérico de produção em larga escala, mas também como um local de permanência e cultivo de raízes, que vão além da mandioca: As raízes culturais e ancestrais de um povo, a forma de viver e ver o mundo. O papel social da terra trata de sociabilização, cultura, ancestralidade, diversidade e pertencimento. 

 

No Brasil temos uma distribuição fundiária que privilegia aqueles que têm maior poder econômico e político. Na prática, isso quer dizer que aqueles que detém a maioria de terras, não as têm de maneira produtiva. E quando as possuem, esses grandes produtores são responsáveis pela monocultura das chamadas commodities (soja, milho, cana de açúcar, algodão e carnes) destinadas para a exportação.

Dessa forma, além da produção em larga escala não ser responsável pela alimentação da sociedade brasileira, ela só se torna possível por meio da monocultura, que faz parte do ciclo do agronegócio, é responsável pela degradação da terra e de biomas naturais, e compromete a biodiversidade natural e alimentar, que afetam a nossa soberania alimentar.

 

Os grandes latifundiários aumentam suas fronteiras agrícolas através da especulação imobiliária em novas fronteiras. Essa especulação, aumenta a desigualdade de acesso à terra, uma vez que supervaloriza os preços – e dessa forma, somente pessoas muito ricas viabilizam a compra –  e alimenta o êxodo rural. Ela também diminui o acesso à terra, o que culmina em um ciclo de violências no campo, envolvendo posseiros, ambientalistas e grandes fazendeiros.

 

A especulação imobiliária é um dos diversos fatores que estão presentes nas raízes dos conflitos no campo. Todavia, este não é um problema que se limita ao meio rural. Aqui, no ambiente urbano das grandes cidades, vemos um déficit habitacional enorme, com diversas pessoas em situação de rua contrastando com uma imensa disponibilidade de imóveis vazios . O aumento no preço de aluguéis, e compra de imóveis para especulação, faz com que as pessoas se afastem de certas áreas, até mesmo consideradas nobres, e vão procurar as chamadas ocupações, sejam elas as favelas ou a reapropriação de imóveis abandonados.

Um resultado que evidencia a necessidade da reforma agrária. O mesmo documento define ligação entre interesses empresariais e conflitos, sendo o grupo denominado de “ grandes fazendeiros” o principal responsável pela violência no campo, seguidos de empresários.

25 de Julho: uma luta por sobrevivência

25 de Julho: uma luta por sobrevivência

Por Kellen Vieira

O movimento de emancipação de mulheres tem trazido à tona realidades sobre o Brasil, que é um país marcado pela violência contra a mulher, onde 30 mulheres são agredidas por hora (fonte: 14° Anuário Brasileiro de Segurança Pública/ 2019).

Quando falamos do movimento de mulheres, temos que compreender as diferentes particularidades de cada uma delas. Se tornar mulher, como disse Simone de Beauvoir, perpassa por diversos processos que condizem com a posição social, posição geográfica e até mesmo características físicas.

Ter a pele preta é só uma característica, mas traz uma carga ancestral e social muito significativa. A colonização foi um processo abrupto que fez com que essa pequena característica se tornasse alvo de discriminação e segregação. A escravização dos negros foi a maior calamidade da história da humanidade e reverberou de maneira negativa na construção das sociedades, em especial nos continentes que foram explorados, tendo como destaque os países da América Latina e do Caribe.

No caso Brasileiro, a escravidão acabou por força da lei, mas os processos sociais e econômicos da segregação ainda continuam vigentes. Ser negro é uma luta diária. 

A interseccionalidade entre ser mulher, negra, Latino Americana e Caribenha, traz à tona o apagamento histórico e social, silenciamento e marginalização.

Nesse sentido, no ano de 1992, em um encontro histórico de mulheres negras da América Latina e Caribe, foi determinado o dia 25 de julho como data para evidenciarmos as agendas políticas coletivas e autônomas de mulheres negras – Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.

A partir de 2013, o Odara – instituto da Mulher Negra – iniciou a agenda do chamado “Julho das Pretas”, que todo ano traz uma pauta para debate.

Neste ano o tema é: “Para o Brasil Genocida, Mulheres Negras apontam a Solução!” . Mulheres negras são a força motriz da nossa sociedade. Esse tema tem o intuito de denunciar o projeto em execução do genocídio da população negra e que se agravou com a pandemia da Covid-19, e, também, evidenciar o trabalho que tem sido feito durante todos esses anos por mulheres negras que solucionam os problemas estruturais da sociedade. 

Mulheres são as estruturantes na sociedade, e são responsáveis pela chefia de cerca de 44% dos domicílios brasileiros, segundo o IPEA/2018.

Para além de uma proposição social, mulheres são responsáveis pelos afazeres domésticos. Isso inclui o preparo e a garantia da alimentação nos lares, tornando as mulheres as garantidoras da SSAN na sociedade. Quando incluímos o trabalho doméstico a essa mistura, revelamos que as mulheres negras estão à frente dessa garantia. Afinal, apesar da Dona Benta ter a fama, quem faz o bolo é a Tia Anastácia.

E falando de base da sociedade, coincidentemente, no dia 25 de julho também é celebrado o dia da Agricultura Familiar, garantidores da segurança alimentar dos brasileiros.

A luta pela valorização e existência da agricultura familiar é contínua e constantemente ameaçada pelo avanço do agronegócio. Este, por sua vez, se baseia na distribuição fundiária brasileira, que tem resquício em uma divisão colonial que, por muito tempo, negou aos negros o acesso à terra. E são eles, os grandes latifundiários, que dificultam o acesso àqueles que não tem poder econômico. 

Apesar de parecerem distantes, as lutas pela agricultura familiar e reforma agrária garantem a segurança e soberania alimentar, o acesso à terra e, consequentemente, aos direitos para as mulheres negras.

A atual divisão de terras e a limitação da reforma agrária, tem como base o racismo, e a luta constante de mulheres negras para não morrer, para solucionar e para progredir e é o que garante o nosso sustento enquanto sociedade.

“Quando uma mulher negra avança, ninguém fica para trás! Estamos em marcha neste 25 de julho!”

Temos Orgulho!

Temos Orgulho!

Esse mês trouxe algumas reflexões sobre o que são essas diversas letrinhas que compõem a sigla LGBTQIAP+. Críticos dizem que são muitas letras, que já se perdeu nesse “alfabeto”. Mas essas pessoas mal sabem que a ideia é AGREGAR e, que muito mais do que o mês do pink money para as empresas, falar sobre orgulho LGBTQIAP+ é falar sobre luta, sobre quebra de paradigmas e sobre respeito.

Eu poderia também falar sobre amor. Mas o amor é muito mais complexo do que uma normatividade, ele é muito mais plural do que o relacionamento romântico e erótico. O amor é muito individual para eu ter que explicar sobre o que é e sobre como ele pode ser empregado dentro da vida de vocês. Mas já deixo aqui a minha vontade de que as pessoas se amem mais.

Falar de escolhas quando se trata dessa realidade parece incabível, mas tem gente que ainda aposta nisso. Afinal, quem escolheria sofrer inúmeras violências e silenciamentos? A morte é o final, a última das violências. Mas no meio do caminho tem a coação, o bullying, a expulsão de casa… tem a VERGONHA

Somos o país que mais mata LGBTQIAP+. Acredite ou não, essa é uma das poucas estatísticas em que o Brasil segue sendo o líder. Somos um país intolerante, apesar de não sermos juridicamente intolerantes. E é nesse vácuo entre leis e o dia a dia que mais um corpo LGBTQIAP+ é encontrado no chão. 

Esse mês representa um dos vários acontecimentos que marcam a luta LGBTQIAP+ por reconhecimento de suas liberdades individuais. A revolta de Stonewall foi o estopim para o reconhecimento e estabelecimento de um movimento, que já estava por se consolidar.

As pessoas LGBTQIAP+ não foram inventadas junto com a internet, aliás, essas pessoas não foram inventadas, nada disso é um complô do governo para o pecado, e não existe nenhum plano de ditadura “gayzista”.

A luta pelo reconhecimento de DIREITOS dessas pessoas fala sobre liberdade individual. É sobre poder se casar, mas, além disso, é sobre ter a integridade física e emocional respeitadas.

Ao aumentar a abrangência de direitos, garantimos dignidade e condições melhores de vida a um maior número de pessoas. Isso não significa que vão ser tirados os direitos de ninguém, mas sim que terão mais pessoas sendo respeitadas, mais pessoas se amando, e mais pessoas sem medo.

E, ao falar “se amando”, quero abrir para falarmos de amor próprio também. Viver com medo dói. Para fechar esse mês de orgulho, eu peço, não acreditem que é melhor morrer do que ser assim. Falar de orgulho, é falar sobre não se esconder e não ter medo de ser quem se é. Tenha orgulho de você!

Por Kellen Vieira

Conheça o Lírio-do-Brejo!

Conheça o Lírio-do-Brejo!

A PANC de hoje é nativa da Ásia Tropical, isto é, da região de clima tropical da Ásia, que inclui Bangladesh, Camboja, Índia, Indonésia, Laos, Mianmar, Tailândia e Vietnã. Ela é conhecida como lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) e se tornou espontânea no Brasil, sendo encontrada em quase todos os estados do país, principalmente em Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Na Ásia, a planta é chamada de gandasuli em diversos idiomas, como no bengalês, hindi, indonésio e javanês. Há relatos de que, no período colonial da História do Brasil, o lírio-do-brejo era utilizado pelos africanos escravizados para acolchoar o chão onde se deitavam.

O lírio-do-brejo é uma planta herbácea que dá o ano todo, verdejante, com hastes não ramificadas e folhas laminares, sem pecíolos, que se desenvolvem desde a base, chegando a medir até cerca de dois metros de altura. O lírio gosta de terrenos alagados, banhados, brejos, charcos e várzeas pantanosas. A planta não tolera regiões e terrenos secos. Ela é, muitas vezes, considerada uma planta invasiva pelos agricultores e que prejudica a biodiversidade local.

O lírio-do-brejo também é chamado de gengibre-do-brejo, porque seus rizomas são muito semelhantes aos rizomas do gengibre (Zingiber officinale). Seus rizomas são comestíveis e ricos em amido. Eles possuem um perfume intenso e o sabor é adocicado. É muito difícil descrever o sabor dos rizomas dessa planta, pois é singular. O lírio-do-brejo vai muito bem em doces. 

Embora os sabores sejam diferentes, ele pode também substituir o gengibre em pratos e bebidas comumente preparados com os rizomas [de Zingiber officinale], como o quentão, o suco de abacaxi com gengibre, torta de limão com gengibre, sorvete com gengibre, geleia de abacaxi com gengibre, dentre outras possibilidades culinárias. Basta substituir o gengibre pelos rizomas de lírio-do-brejo. Fica uma delícia!

Jasmim-borboleta também é outro nome dado para a espécie Hedychium coronarium, devido ao seu odor semelhante ao de algumas espécies de jasmim; e, vistas de longe, as flores de lírio-do-brejo se parecem com borboletas brancas! Por isso o nome jasmim-borboleta. Há também uma variante da planta com flores rosadas, mas que é muito incomum.

A propagação do lírio-do-brejo se dá através do enraizamento dos rizomas, por sementes ou por divisão de touceiras. Ele cresce muito rápido e se difunde com facilidade. Possui grande capacidade de adaptação. O lírio deve ser cultivado à sombra e em solos ricos em matéria orgânica. 

Se você mora em uma região de clima tropical ou subtropical úmido, você com certeza vai encontrar essa planta em praças com pequenos açudes ou em terrenos alagados. No município de Três Forquilhas, no Rio Grande do Sul, por exemplo, além dos bananais, há centenas de lírios-do-brejo ao longo de banhados e do Rio Três Forquilhas. Dá para sentir o perfume das plantas de longe!

Texto por André Torresini

Saiba mais em:

CASTRO, Wagner Antonio Chiba de. Ecologia da invasora Hedychium coronarium J. König (Zingiberaceae). 2014. 97 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2014.

KINUPP, V.F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa: Instituto Plantarum de estudos da flora Ltda., 2014.

MARTINS, A.Q. Contribuição para o conhecimento de Hedychium coronarium K. (lírio-do-brejo). Lilloa, v.16, p.243-49, 1949.

MARTINS, M.B.G et al. Caracterização anatômica e fitoquímica de folhas e rizomas de Hedychium coronarium J. König (Zingiberaceae). Rev. bras. plantas med., Botucatu, v. 12, n. 2, p. 179-187, Junho, 2010.

SANTOS, S.B.; PEDRALLI, G.; MEYER, S.T. Aspectos da fenologia e ecologia de Hedychium coronarium (Zingiberaceae) na estação ecológica do Tripuí, Ouro Preto-MG, Planta Daninha, v.23, n.2, p.175-80, 2005.

Conheça a uva-japonesa!

Conheça a uva-japonesa!

A Hovenia dulcis é uma planta ornamental que se tornou uma alimentícia não convencional!

Ela é conhecida pelos nomes comuns de Uva-do-japão, uva-japonesa, caju-do-japão e tripa-de-galinha. Trata-se de uma árvore que perde as folhas no inverno ou na estação mais seca do ano, cresce até cerca de 30 metros de altura, possui tronco cilíndrico, grosso e com casca espessa, com até 50 cm de diâmetro. 

As folhas da Uva-do-japão são simples, têm forma oval, flexíveis, sem penugem e são perpassadas por nervuras. Suas inflorescências possuem flores brancas. Os ramos das inflorescências se tornam espessos e suculentos (pseudofrutos) ao amadurecer, adquirindo a cor marrom e sabor agridoce, em cujas extremidades se formam bolinhas (os verdadeiros frutos) que armazenam minúsculas sementes marrons.

A Uva-do-japão é nativa do leste da Ásia: China, Península Coreana e Japão. No Japão, é chamada de Kemponashi. Na China, chama-se de kouai tsao. Atualmente, é possível encontrar a planta também na Argentina, Brasil, Cuba, Estados Unidos, Paraguai, Uruguai, Sul da Europa e Norte da África. No Brasil, a Uva-do-japão é amplamente cultivada na arborização paisagística da Região Sul, tornando-se subespontânea. É muito comum ver árvores de uva-do-japão nas ruas das cidades do Rio Grande do Sul e no Oeste de Santa Catarina, por exemplo. Sua propagação se dá através das sementes e por estaquia. Ela tolera geadas, mas seu desenvolvimento diminui com frios intensos. A seca e o calor excessivos podem matar a planta.

Seus pseudofrutos são comumente consumidos frescos e com um preparo culinário adequado podem servir como base para doces, sucos, vinhos e geleias. O sabor dos pesudofrutos é intensamente doce, porque contêm elevado teor de açúcares (dissacarídeos de sacarose) em sua composição. Quando desidratados, em forma de passas, os pseudofrutos podem ser armazenados por meses. Também podem ser usados na produção de frisantes e cervejas. Seu suco é muito bom e naturalmente adoçado, sendo utilizado na cultura popular para amenizar ressacas. É uma fonte rica em fibras, vitamina C e minerais como cálcio, magnésio ferro, zinco, manganês e cobre.

Texto por André Torresini

Saiba mais em:

CARVALHO DE CASTRO, Tatiana et al . Caracterización de pseudofrutos, semillas y plántulas obtenidas a partir de la geminación in vivo e in vitro de la especie medicinal Hovenia dulcis (Rhamnaceae). Ver. Cubana Plant. Med,  Ciudad de la Habana, v.10, n.1, abr. 2005 .

Embrapa. Uva-do-japão (Hovenia dulcis Thunb.): valor nutricional e aceitabilidade. 2015. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1038599/uva-do-japao-hovenia-dulcis-thunb-valor-nutricional-e-aceitabilidade

SCHNEIDER, A. A. A flora naturalizada no estado do Rio Grande do Sul, Brasil: herbáceas subespontâneas. Biociências, Porto Alegre, v. 15, n. 2, p. 257-268, 2007.

Chocolate dos Deuses: dos Maias aos Capitalistas

Chocolate dos Deuses: dos Maias aos Capitalistas

Por Betina Aleixo

É muito provável que quando você tem vontade de comer um doce, recorra a um chocolatinho. Todos nós fazemos isso. Ele pode ser um presente de páscoa, de aniversário ou apenas uma recompensa depois de um dia cheio. Além de muito gostoso, o chocolate é acessível para a maioria da população e está presente na maioria dos estabelecimentos que comercializam alimentos. Do mercadinho de bairro à farmácia, é possivelmente o doce mais consumido no ocidente e é responsável por um nicho de mercado imenso e poderoso.

No entanto, as crises climáticas e humanitárias trouxeram à luz vários problemas que envolvem a produção de chocolate no mundo. Sem a pretensão de condenar o consumo de chocolate, vamos debater os recortes históricos, acontecimentos recentes e nos aprofundar nas discussões socioambientais que cercam a indústria do chocolate.

Chocolate Sagrado

Para saber onde estamos, precisamos saber de onde viemos. E o chocolate está longe de ser uma invenção de séculos atrás: é um alimento milenar e sagrado, muito diferente do que conhecemos hoje.

As civilizações mesoamericanas já cultivavam e preparavam as sementes de cacau por volta de 1900 a.C. para preparar uma bebida utilizada em cerimônias religiosas e eventos da realeza(1). A bebida era considerada revigorante, era temperada com pimenta, espumante e tinha sabor amargo. Independente das diferenças culturais, as civilizações mesoamericanas acreditavam que o cacau era um alimento sagrado dado aos humanos pelos deuses.

Com as grandes navegações, financiadas pelos impérios europeus, em 1519, Hernán Cortez e sua tripulação chegam no que hoje conhecemos como América Central, e entram em contato com a civilização asteca e a corte do Rei Montezuma(2).

Infelizmente este vídeo não possui legendas em português, mas é um excelente conteúdo sobre a história do chocolate durante a colonização europeia.

Os astecas apresentam aos espanhóis a sua bebida, seu cacau e sua cultura. E quando os espanhóis retornam para a Europa, levam consigo muitas sementes de cacau para apresentar à corte. Com o passar do tempo, e a adição de açúcar, mel ou baunilha, a bebida foi se tornando mais palatável ao gosto europeu e assim foi se popularizando nas cortes de diversos países, até se tornar o doce popular que conhecemos hoje.

É interessante pensar nos diferentes significados de um alimento para cada civilização, e na história que cada alimento carrega. Sim, os astecas apresentaram a Cortez o seu sagrado e precioso cacau e, mesmo assim, tiveram sua confiança traída: a civilização asteca, assim como outros povos mesoamericanos, tiveram seu povo, seu reino e sua cultura dizimados pelos invasores espanhóis em massacres sangrentos.

O cacau foi do sagrado à commodity, e, tanto a história dos mesoamericanos quanto a do chocolate são contadas pelos europeus. Por muito tempo, os únicos registros pré-colonização que tínhamos sobre o uso do cacau diziam respeito às culturas mesoamericanas. No entanto, pesquisas recentes indicam uma nova história por trás do fruto dos deuses.

O cacau é Amazônico

 

Em 2013, uma pesquisa desenvolvida por arqueólogos equatorianos e franceses apontou que o cacau tem origem amazônica(3), com base em resquícios encontrados em recipientes na província de Zamora Chinchipe, na Amazônia equatoriana.

Ao submeter os materiais encontrados a testes de carbono 14, os arqueólogos constataram que o cacau já era utilizado há mais de 5,5 mil anos e que a planta existe na Amazônia Equatorial por, pelo menos, 7 mil anos(4).

Para Francisco Valdez, que dirige a missão de pesquisa na jazida Santa Ana-La Florida, as evidências apontam que a cultura Mayo-Chinchipe-Marañón possuía uma sofisticação social complexa e que, possivelmente, houve relação entre culturas dos Andes e da costa do Equador.

Neste sentido, é sugerido que de alguma forma as sementes de cacau foram levadas da região amazônica até a América Central, onde temos a teoria de origem mais conhecida.

No entanto, para além da origem, existem outros aspectos do cacau que são desconhecidos para a maioria das pessoas. Por exemplo, as variedades de cacau existentes(4): tanto as diversas plantas da variedade Theobroma, quanto outras plantas da variedade Pachira, que entram na categoria popular de “cacau-selvagem”.

Fizemos um conteúdo especial sobre as variedades de cacaus classificados como PANC. Você pode conferir aqui.

E mesmo para a indústria do chocolate existem variedades e variedades de cacau (Theobroma cacao L.), algumas mais valiosas do que outras. Curiosamente, os resquícios de cacau amazônico encontrados na pesquisa dirigida por Valdez, pertenciam a uma variedade “cacau fino”, muito apreciada atualmente pela indústria do chocolate.

 

Os gigantes do chocolate e o cacau

 

Talvez você nunca tenha ouvido falar da Mars Inc. ou da Mondelez, mas com certeza conhece os M&M’S e o Bis. Estas e outras empresas com nomes mais conhecidos como a Nestlé, Hershey’s, Ferrero, e muitas outras, compõem um mercado imenso(6) de fabricação de chocolates – os chocolates que a maioria de nós conhece, consome ou já consumiu em algum momento da vida. Estes, são produzidos a partir das sementes do cacau forastero, espécie mais comum e mais cultivada ao redor do mundo.

Existem três variedades dominantes de cacau: o forastero, que corresponde a mais de 80% da produção mundial(7) e é considerado como de “qualidade inferior”; o criollo, que é a variedade mais antiga de cacau conhecida – seriam estes os frutos utilizados pelos mesoamericanos em seus rituais – é considerado um insumo de altíssima qualidade, é utilizado apenas por fabricantes de chocolates premium e corresponde por 1% da produção mundial e pode valer até 3 vezes mais do que o cacau comum; e a variedade trinitario, que se trata de um híbrido entre o forastero e o criollo, intermediário entre valores e qualidade, é cultivado em vários lugares do mundo e corresponde a 5% da produção mundial de cacau. Também existem outras variedades de cacau, híbridas e crioulas, que são cultivadas em quantidades menores(8), e mesmo dentro das 3 variedades dominantes de cacau há inúmeras classificações internas dadas pela indústria(9).

Para produzir os chocolates que comemos, as grandes fabricantes muitas vezes compram o chocolate já processado, ou os subprodutos do cacau que compõem o chocolate: massa de cacau, licor de cacau, manteiga de cacau, etc. Essa mistura e processamento de ingredientes acaba descaracterizando certos aspectos do cacau, padronizando sabor e textura.

Então, se por um lado temos estes imensos conglomerados empresariais por trás da fabricação massificada de chocolate que comemos, existem outras empresas menores que atendem um público com muito poder aquisitivo para consumir chocolates finos e exclusivos. 

Dois exemplos de produtos deste “seleto” mercado, que muitos desconhecem, e são válidos para a nossa análise aqui:

chocolate ruby

Chocolate Ruby | Comercializado como o 4º tipo de chocolate (amargo, ao leite, branco e ruby), se trata de um chocolate de coloração naturalmente rosa, criado pela Barry Callebaut, uma das maiores processadoras de cacau do mundo. Os cacaus utilizados na produção deste chocolate são as mesmas espécies que citamos aqui. A diferença está no processamento das sementes, que dão a coloração rosa ao chocolate e o sabor mais ácido. Como é feito exatamente? É segredo industrial. A Nestlé foi a primeira marca a criar uma versão comercial para a Kit Kat, que chegou a ser comercializada aqui no Brasil(10).

Fortunato n4

Fortunato nº4 | Considerado “o Rolex dos Chocolates”, é comercializado de forma limitada a fabricantes de chocolate finos, encontrados em distribuidores nos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido. No entanto, o cacau que dá origem a esse cobiçado chocolate é cultivado no norte do Peru. Trata-se da variedade mais antiga de cacau, considerada extinta desde o início do século XX, e reencontrada acidentalmente em 2007 por dois americanos. Resultado deste encontro? Descoberta de um cacau que produz o que se considera um dos melhores chocolates do mundo e um acordo comercial com fabricantes renomados de chocolate na Suíça(11).

Além da Suíça e Bélgica serem países referência em qualidade de chocolate [e incluírem a lista de países que mais consomem chocolate no mundo(12)], são nestes países de primeiro mundo que ficam localizadas as sedes das maiores fabricantes de chocolates, tanto os conglomerados gigantes da alimentação (leia-se, Nestlé) quanto os fabricantes de chocolates finos.

Mas o que mais estes distintos mercados de chocolate têm em comum?

A origem do cacau. Nenhum destes países produzem cacau, apenas o chocolate. Para a produção de chocolates finos, há os cultivos de cacau na América Central, América do Sul e até mesmo Ásia(13). Para a produção dos chocolates comuns, países da África são os principais fornecedores das sementes. Destes, a Costa do Marfim e Gana correspondem a 60% da produção mundial de cacau(14).

Sabor amargo

Em um documentário de 2010, chamado “The Dark Side of Chocolate” (O Lado Escuro do Chocolate), o diretor e roteirista Miki Mistrati e sua equipe se infiltram nas plantações de cacau da Costa do Marfim e registram os inúmeros jovens e crianças, entre 7 e 15 anos de idade, trabalhando em plantações em condições análogas à escravidão. O documentário trouxe fortes denúncias e embates com a indústria do chocolate, mas não houveram consequências para os fabricantes(15)

Se há denúncia, mas não há consequências, nada muda. No entanto, em 2021 o jogo parece virar.

Somente agora as multinacionais tiveram sua iniquidade abalada por uma ação judicial nos Estados Unidos. A peça elaborada pela organização de direitos humanos International Rights Advocates (IRA) relaciona as empresas Nestlé, Mars e Hershey, além de Cargill, Mondelez e Barry Callebaut(16) ao tráfico de crianças, exploração do trabalho infantil e trabalho em condições análogas à escravidão, em países da África Ocidental.

Mesmo com denúncias desde 2005, é a primeira vez que a indústria do chocolate enfrenta este tipo de ação nos Estados Unidos.

Com o depoimento de 8 jovens do Mali, relatando o seu sequestro para trabalhar em plantações de cacau no país vizinho, Costa do Marfim, o texto da ação judicial argumenta que estes jovens representam milhares de outras crianças e jovens que se encontram na mesma situação.

Em um estudo elaborado pela Universidade de Chicago, apontou-se que entre 2018 e 2019, em Gana e Costa do Marfim, aproximadamente 43% da sua população de crianças e jovens, entre idades de 5 a 17 anos, trabalham em plantações de cacau, sob condições perigosas – como uso de facões e aplicação de pesticidas.(17)

Palavras talvez não sejam o suficiente para expressar o absurdo da situação. Então, vamos colocar em desenhos e gráficos:

Gráfico 01

A marca atual e assustadora de 1,56 milhões de crianças e jovens, somente nestes dois países, representa um aumento de 14% no trabalho infantil nas plantações, entre 2018 e 2019, e um aumento de produtividade para a produção de cacau em 62% no mesmo período(18).

Vale ressaltar que, em uma investigação feita pelo jornal estadunidense The Washington Post, estimou-se que a indústria global de chocolate movimenta cerca de US$103 bilhões em vendas anuais. Contudo, ao longo de 18 anos, o setor investiu um pouco mais de US$150 milhões para combater as violações de direitos humanos que envolvem a produção de cacau(19). Extrapolando os valores e dividindo por ano, este investimento da indústria equivaleria a 0,008% das suas vendas.

Gráfico_investimento

Você pode pensar “bem, os produtores de cacau devem lucrar muito”. Ledo engano. Os agricultores ganham, em média, de 45 a 47 centavos por dia. Este cenário de exploração degradante, somado à criação do AFCFTA – African Continental Free Trade Area (Zona de Comércio Livre Continental Africana), faz com que Gana seja um dos países a cogitar uma coibição de importações de cacau para a Suíça para iniciar uma produção própria de chocolates(20).

Além da crise humanitária alarmante, a produção de cacau nestes países da África Ocidental está relacionada a níveis altíssimos de desmatamento florestal(21). E o cacau não é o único insumo polêmico na produção do chocolate. O óleo de palma, que é amplamente usado na indústria alimentícia, também integra a lista de vilões do chocolate que causam devastação ao meio ambiente.

Curiosidade: O óleo de palma é muito conhecido e usado no Brasil. Aqui, chamamos de azeite de dendê. Ingrediente fundamental na culinária nordestina e nortista.

O cacau brasileiro: passado e futuro

 

Tudo pode parecer muito distante quando falamos em países africanos, do outro lado do Atlântico. Mas o Brasil mesmo já foi um dos maiores produtores de cacau do mundo. Com os primeiros registros de cacau na Bahia datados em meados de 1600, o Brasil teve o início do cultivo de cacau para fins comerciais em 1830, e, até os anos 90, passando por diversas mudanças sociopolíticas, a produção de cacau brasileiro ocupava as principais colocações em rankings de exportação(22).No entanto, um fungo veio para mudar tudo. A “vassoura de bruxa” dizimou as plantações de cacau na Bahia. Esta situação, somada à queda dos preços no mercado internacional da época, fez com que o setor sofresse uma grave crise(22) e não voltasse ao mesmo patamar. 

De acordo com uma publicação do Ministério da Agricultura, de 2019, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de produção de cacau(23), e existem muitas ambições do setor de retomar os primeiros lugares.

Esta sinalização de interesse deve acender alguns alertas. É bem verdade que os alimentos nativos do nosso país são diversos, abundantes e com um imenso potencial de comércio sustentável, por enquanto sub explorado. No entanto, há de se ter cuidado para não transformar essa valorização de alimentos brasileiros em um novo “boom de commodities”. 

Para existir um futuro saudável do Brasil dentro dos mercados de exportação de cacau, é preciso que se leve em conta os problemas socioambientais enfrentados pelos países que detém os maiores índices de produção. Afinal, aumentar vendas e produção com base em exploração infantil e desmatamento não deve ser um objetivo almejado, não é mesmo? Este alerta é importante, pois, ainda hoje, com uma produção consideravelmente menor do que Gana e Costa do Marfim, o Brasil ainda enfrenta diversas denúncias de trabalho análogo à escravidão em plantações de cacau(24).

Você já se perguntou se quem planta o cacau, chega a comer o chocolate(25)? A maioria das pessoas que prestam serviços de base no nosso país, infelizmente, não desfruta do produto do seu trabalho. E esta é uma realidade dura de alienação e expropriação da Vida.

No entanto, na contramão desta mentalidade hegemônica de produção e consumo, existem diversas iniciativas, e até mesmo empresas pequenas da indústria do chocolate, que prezam pela qualidade de vida e trabalho dos agricultores e do meio ambiente.

 

Chocolate que faz bem para as pessoas e o planeta

 

A maioria do cacau plantado no Brasil é cultivado em sistema cabruca, onde se preserva a vegetação nativa para auxiliar no crescimento dos cacaueiros. Apesar desta técnica não se restringir apenas a plantações orgânicas, é amplamente utilizada em produções orgânicas e agroecológicas.

O movimento da Reforma Agrária é um dos maravilhosos exemplos de cultivo de cacau e produção de chocolates ecológicos e de qualidade. Em movimentos como Teia dos Povos, Povos da Mata e o Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (Ceta), muitos agricultores e agricultoras, que antes trabalhavam numa lógica de exploração, hoje são apresentados a um processo de trabalho emancipatório. Dos saberes de povos tradicionais para o cultivo do cacau, até à produção das barras de chocolate, os agricultores são incentivados a participarem de todas as etapas de produção(26).

Não basta ser “bean-to-bar” (do grão à barra) –  movimento de produção artesanal de chocolate, que visa uma cadeia curta de produção – para ter um chocolate de qualidade. A qualidade vai muito além do sabor. Por isso, separamos aqui algumas marcas brasileiras de chocolate que utilizam matéria prima orgânica e cacau de produção cabruca.

outros cacaus

Nem só de cacau se faz chocolate e nem só chocolate se faz do cacau.

Além das barrinhas doces, o cacau tem diversas outras potencialidades alimentares subutilizadas e, por isso, é considerado uma Planta Alimentícia Não Convencional. A polpa da fruta pode ser utilizada em diversas preparações. Talvez a mais conhecida delas seja o suco de cacau – que mesmo assim, não é muito popular em algumas regiões do Brasil. Somente no livro Guia das PANC(5), há três receitas diferentes preparadas com a polpa de cacau: geleia, bolo e salada de cacau verde.

Nesse sentido, como já abordamos anteriormente, se faz necessário observar que temos diversas espécies de cacau, para além das três variedades mais comercializadas pelos produtores de chocolate.

Esta biodiversidade também se expressa em outras variedades de “chocolates alternativos” que são comercializados. Os dois mais populares são:

Alfarroba

alfarroba

A alfarroba é um doce feito a partir das sementes de bagas da Alfarrobeira (Ceratonia siliqua), muito parecido com chocolate na aparência, que não leva adição de açúcar na produção, uma vez que as sementes já possuem sabor adocicado.

Cupulate

cupulate

O Cupulate é um doce muito parecido com o chocolate, feito a partir das sementes do Cupuaçu (Theobroma grandiflorum), fruta amazônica parente do Cacau (Theobroma cacao). O doce possui sabor um pouco mais ácido – característica predominante no sabor do cupuaçu – e é facilmente encontrado em versões veganas para consumo.

 

Não falamos aqui sobre a quantidade obscena de açúcar refinado encontrada na maioria dos chocolates, nem da extensa lista de aditivos químicos que a indústria utiliza, ou do contra-senso de muitos destes chocolates quase não terem cacau na sua composição.  

Nosso objetivo o de construir um contexto histórico para repercutir a ação judicial que escancara a iniquidade dos grandes conglomerados da indústria frente às assombrosas, históricas e recorrentes violações de direitos humanos, que somente agora começam a ser seriamente questionadas.

É muito simbólico e sintomático que esta atividade comercial tenha começado com o massacre dos povos mesoamericanos e até hoje rouba a vida de milhares de pessoas. A ação judicial movida pela International Rights Advocates (IRA) é um marco histórico com potencial de, pela primeira vez, abalar a indústria do chocolate a ponto de efetuar mudanças significativas. Que seja apenas o início, e que não pare no chocolate.

Fontes:

1) TED | The history of chocolate – Deanna Pucciarelli
https://ed.ted.com/lessons/the-history-of-chocolate-deanna-pucciarelli

2) Revista Galileu | Chocolate para todos os gostos
http://galileu.globo.com/edic/117/rep_chocolate.htm#:~:text=Estima%2Dse%20que%20foi%20do,que%20surgiu%20a%20palavra%20chocolate.&text=Em%201519%2C%20Cortez%20tomou%20contato,divino%2C%20que%20aumenta%20a%20resist%C3%AAncia.

3) History Stories | Chocolate’s Sweet History: From Elite Treat to Food for the Masses
https://www.history.com/news/the-sweet-history-of-chocolate

4) G1 | Reportagem
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/09/pesquisa-diz-que-cacau-e-originario-da-amazonia-nao-da-america-central.html

5) KINUPP, Valdely Ferreira; LORENZI, Harri. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil –  Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas, 2014.

6) Candy Industry | 2021 Global Top 100 Candy Companies | Candy Industry
https://www.candyindustry.com/2021/global-top-100-candy-companies

7) Phayanat | What are the different varieties of cacao?
https://chocolatephayanak.com/unkategorisiert/what-are-the-different-varieties-of-cacao/

8) Chocólatras Online | Chocolates premium serão como vinhos
https://chocolatrasonline.com.br/chocolates-premium-serao-como-vinhos/

9) Perfect Daily Grind | Getting to know the three main cacao varietieshttps://perfectdailygrind.com/2018/08/is-criollo-chocolate-really-king-the-myth-of-the-3-cacao-varieties/

10) Estadão | Chocolate rosa chega às lojas do Brasil e é tendência para 2019
https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,chocolate-rosa-chega-as-lojas-do-brasil-e-e-tendencia-para-2019,70002703349#:~:text=Apresentado%20como%20uma%20intensa%20experi%C3%AAncia,processadoras%20de%20cacau%20do%20mundo.&text=Os%20gr%C3%A3os%20do%20cacau%20que,no%20Brasil%20e%20no%20Equador.

11) BBC | A redescoberta da árvore de cacau responsável pelo ‘Rolex dos chocolates’
https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-52945424

12) Forbes | 10 países que mais consomem chocolate no mundo
https://forbes.com.br/listas/2015/07/10-paises-que-mais-consomem-chocolate-no-mundo/

13) CACAU FINO: conceitos e evolução no Brasil | Universidade Estadual de Santa Cruz
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/ceplac/publicacoes/chocolates-finos-e-de-aroma/cacau-fino-conceitos-e-evolucao

14) Folha de São Paulo | Ação nos EUA liga indústria do chocolate a trabalho infantil na África
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/02/acao-nos-eua-liga-industria-do-chocolate-a-trabalho-infantil-na-africa.shtml?origin=folha

15) IMDB | The Dark Side of Chocolate
https://www.imdb.com/title/tt1773722/

16) Folha de S.Paulo | Ação nos EUA liga indústria do chocolate a trabalho infantil na África
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/02/acao-nos-eua-liga-industria-do-chocolate-a-trabalho-infantil-na-africa.shtml

17) NORC | Assessing Progress in Reducing Child Labor in Cocoa Growing Areas of Côte d’Ivoire and Ghana
https://www.norc.org/Research/Projects/Pages/assessing-progress-in-reducing-child-labor-in-cocoa-growing-areas-of-c%C3%B4te-d%E2%80%99ivoire-and-ghana.aspx

18) The Guardian | Chocolate industry slammed for failure to crack down on child labour
https://www.theguardian.com/global-development/2020/oct/20/chocolate-industry-slammed-for-failure-to-crack-down-on-child-labour

19) Folha de S.Paulo | Boa parte do chocolate que você compra começa com trabalho infantil
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/07/boa-parte-do-chocolate-que-voce-compra-comeca-com-trabalho-infantil.shtml

20) Jornal Clarin Brasil | Gana Opta Por Não Fornecer Mais Cacau Para A Suíça
https://jornalclarinbrasil.com.br/2021/03/13/gana-opta-por-nao-fornecer-mais-cacau-para-a-suica-e-pretende-o-proprio-pais-produzir-em-solo-africano-o-chocolate-mais-famoso-do-mundo/

21) ONU News | ONU alerta para impacto ambiental da produção de cacau 
https://news.un.org/pt/story/2019/04/1668941

22) Mercado do Cacau | História do Cacau
https://www.mercadodocacau.com.br/artigo/historia-do-cacau/rss.xml

23) Ministério da Agricultura | Brasil quer ganhar posições na produção mundial de cacau e chocolate
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/brasil-quer-retomar-protagonismo-no-cenario-global-de-cacau-e-chocolate

24) Repórter Brasil | Monitor: O Trabalho escravo no Cacau da Bahia
https://reporterbrasil.org.br/wp-content/uploads/2020/10/Monitor-6-Cacau-PT.pdf

25) Hypeness | Eles produzem milhões de toneladas de cacau na Costa do Marfim, mas nunca tinham provado o resultado: chocolate.
https://www.hypeness.com.br/2014/09/produtores-de-cacau-da-costa-do-marfim-provam-chocolate-pela-primeira-vez/

26) O Joio e o Trigo |  Nascida da ‘Reforma Agrária’, a quarta geração do Cacau na Bahia
https://ojoioeotrigo.com.br/2019/10/nascida-da-reforma-agraria-a-quarta-geracao-do-cacau-na-bahia/

Diga adeus a tudo que é fast

Diga adeus a tudo que é fast

Por Kellen Vieira

Nos anos 90 o mundo entrou numa onda de consumo “fast and furious” onde tudo é pra ontem. Na alimentação, falamos muito sobre como os fast foods podem ser nocivos à nossa soberania alimentar e até mesmo à nossa saúde. Mas o que temos a dizer sobre o fast fashion?

Para quem ainda não conhece esse termo, o fast fashion se refere à parte da indústria da moda representada por tendências rápidas, acompanhadas por uma produção em larga escala e de maneira globalizada. Por isso os sites estrangeiros conseguem vender os mesmos modelos de roupa para o mundo todo.

É muito comum ver nas etiquetas, caixas e demais produtos a etiqueta “made in china” (feita na china). Inclusive, não só a China, mas vários países orientais, são protagonistas e cresceram suas economias com essa produção em larga escala que perpassa a lógica do fast fashion.

E qual o impacto real disso?

Essa pergunta é importante pois devemos pensar sobre o ciclo que envolve a indústria da moda, e por mais que às vezes a gente não associe nossas roupas à agricultura, muitas malhas são feitas a partir de uma plantinha, o algodão.

Da mesma forma que alimentos como a soja e o milho deixaram de ser alimentos para virar commodities, o algodão também integra esta categoria. Isso significa que ele faz parte de um ciclo de monocultura que inclui muitos agrotóxicos e transgênicos – 80% do algodão produzido no Brasil é transgênico e, em escala global, cerca de 64% da produção corresponde à plantações de algodão transgênico. 

Mas como nem tudo são plantas, o poliéster veio como um material que não amassa e que tem uma durabilidade muito boa. Inclusive, ele demora 400 anos para se decompor, isso porque sua produção é feita com a utilização de óleo, mais especificamente o petróleo, muita água e uma parte de algodão – olha ele aqui de novo.

O poliéster pode poluir a água e o ar através da liberação de toxinas resultantes da sua produção, o que impacta diretamente nas comunidades próximas aos locais de produção, bem como a fauna e a flora local.

Por falar em fauna, não podemos esquecer do couro: esse famoso e procurado material que tem origem animal, e que faz parte da história da moda.

O couro passa por diferentes processos para virar aquele material de cheiro forte nas lojas. Considerando que ele é a pele de um animal, podemos imaginar a quantidade de produtos químicos e a quantidade de água que é utilizada para chegar ao resultado final. Todos esses processos possuem impactos significativos para o meio ambiente. 

E se não bastasse a poluição resultante da produção, temos também a poluição resultante do descarte. Como sabemos, quando jogamos algo fora, nunca é para fora do planeta e sim para fora das nossas casas. A produção de lixo tem ganhado destaque quando falamos de comida, afinal é visto como desperdício, mas para onde vai aquela meia velha que você jogou fora?

Para o lixo. 

O lixo têxtil tem se tornado um grande problema, advindo da prática de produção e consumo do fast fashion. Afinal, se não posso repetir roupa e tenho que “estar na moda”, as roupas da coleção passada eu faço o que? 

A doação em si não é uma má ação, muitas famílias precisam de roupas e agasalhos. Porém, com a lógica de produção, consumo e descarte que temos atualmente, nem a doação daria conta de toda a roupa que é descartada. E para se ter uma idéia, só o Brasil produz anualmente 175 mil toneladas de lixo têxtil por ano. Vale lembrar que nem somos o país que mais produz.

É importante falar do descarte, é importante falar da origem, mas precisamos também falar da produção.

A produção mexe com um assunto mais sensível: os fatores sociais por trás das relações de trabalho, que são empregadas no sistema do fast fashion. Alguém costurou essa blusinha linda que você está vestindo enquanto lê tudo isso. 

Historicamente, a indústria têxtil é marcada por condições precárias de trabalho. O fast fashion agravou uma situação que já era ruim. A alta demanda de produção e a diminuição do preço dos produtos, resultam em trabalhadores recebendo menos para trabalhar mais. Diversos dossiês apontam que, principalmente no oriente, mas também no Brasil, diversas marcas famosas vistas como “grife de departamento” utilizam trabalho análogo à escravidão em suas cadeias produtivas.

E aqui trago a reflexão sobre o lucro, pois, nessa lógica, para o consumidor o preço é caro e o produtor tem que fazer tudo para o produto ser cada vez mais barato.

Se você chegou até aqui, você, com certeza, já absorveu muita informação sobre como é a cadeia produtiva na lógica fast fashion e já deve estar pensando: “o que eu posso fazer?”.

O que podemos fazer é parar de pensar na moda como um sinônimo para o consumo. A moda também não se limita a roupas. A moda é um estilo de vida que expressa a particularidade dos indivíduos para o mundo e pode ser expressada através do jeito de se vestir.

Ao assumir a moda como um estilo de vida, devemos pensar também na diversidade da vida no planeta, abraçando a moda de um viés mais devagar.

O Slow fashion vem em contrapartida ao fast fashion, trazendo diferentes perspectivas ao consumo de roupa, desde peças biodegradáveis, com algodão orgânico, roupas recicladas e até mesmo os brechós e bazares que fazem as peças circularem por mais tempo e impedem que sejam jogadas no lixo.

Peço que pense no seu vestuário como você pensa sua comida, valorize o local, rejeite os sintéticos, diga não aos transgênicos e não desperdice! 

____________________

FONTES:

https://ehjournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12940-018-0433-7

https://ejesam.ufsc.br/fast-fashion-x-slow-fashion/

https://www.fashionrevolution.org/brazil-blog/como-comecam-nossas-roupas-saiba-como-o-poliester-algodao-e-viscose-sao-produzidos/#:~:text=Para%20a%20fabrica%C3%A7%C3%A3o%20da%20fibra,e%20os%20mant%C3%A9m%20alinhados%20continuamente.

http://www2.eca.usp.br/moda/monografias/Julia.pdf

https://www.canalrural.com.br/noticias/curiosidades-que-voce-precisa-saber-sobre-algodao-68417/

https://www.metropoles.com/colunas/ilca-maria-estevao/estudo-alerta-para-os-impactos-ambientais-do-fast-fashion

Conheça o Jambolão

Conheça o Jambolão

O jambolão (Syzygium cumini) é a nossa PANC de hoje. Trata-se de uma árvore originária da Índia, pertencente à família das Mirtaceae, assim como a jabuticabeira, a gabiroba, a pitangueira e o araçá. No Brasil, também é conhecido como jamelão, jalão, jambeiro, guapê e baga de freira.

A árvore do jambolão – que é frondejante, troncuda e ramosa – chega a cerca de 10 metros de altura e é muito comum nas cidades do Brasil como planta ornamental, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país. Em Porto Alegre, por exemplo, há inúmeras árvores de jambolão nas ruas de todos os bairros da cidade. A capital gaúcha é uma grande plantação de jambolão!

Bem adaptada a climas tropicais, solos ricos em nutrientes e solo úmido ou pouco úmido, a árvore do jambolão produz uma quantidade enorme de flores brancas e frutos. Os frutos maduros do jambolão parecem bagas pretas, muito semelhantes às azeitonas e podem ser consumidos ao natural, direto no pé, ou transformado em geleias, doces, sorvete, bebidas fermentadas, vinho, frisante, licor, tintura e até em vinagre.

Muita gente não sabe o seu nome, mas o pequeno fruto ovóide arroxeado-escuro é conhecido por tingir as calçadas com sua cor e exalar seu cheiro, que atrai muitos pássaros e insetos. As pessoas também não têm o hábito de consumir os frutinhos do jambolão que têm gosto adstringente, mas consistência macia. Entretanto, as pessoas mais velhas que conhecem o fruto geralmente usam o chá das folhas da árvore com fins terapêuticos, devido às propriedades antioxidantes presentes nelas, que são ótimas para prevenir o envelhecimento e para fortalecer o sistema imunológico.

O pequeno fruto do jambolão é rico em vitamina C, fósforo, flavonoides e taninos, que são substâncias muito importantes para remediar doenças cardiovasculares e diferentes tipos de câncer. Acredita-se também que o jambolão melhora sintomas de prisão de ventre, diarreia, cólicas, gases intestinais, problemas no estômago e no pâncreas.

Outro potencial de uso do jambolão é a cocção da casca da árvore do jambolão, que apresenta propriedades anti-inflamatórias e anticarcinogênicas, assim como as folhas, que, acredita-se, provoca ação hipoglicemiante. E o chá da casca pode ser usado para aliviar processos inflamatórios. No entanto, não há evidências científicas de que os chás das folhas ou da casca de jambolão realmente tenham efeito anti-hiperglicêmico e/ou antidiabético. Já o extrato das folhas do jambolão apresenta ação antiviral, anticarcinogênica, antibacteriana e antialérgica.

As sementes, as folhas, os frutos e produtos derivados do jambolão podem ser encontrados em sites que comercializam sementes e mercadorias fitoterápicas. Mas se você passear pelas ruas de seu bairro e de sua cidade, há grandes chances de você se deparar com uma grande árvore de jambolão sobre a calçada ou em praças.

Texto por André Torresini

Algumas indicações de leitura sobre as propriedades terapêuticas do consumo do jambolão:

Ayyanar M, Subash-Babu P. Syzygium cumini (L.) Skeels: a review of its phytochemical constituents and traditional uses. Asian Pac J Trop Biomed. 2012. March;2(3):240–6. – PMC – PubMed.

Chagas VT, França LM, Malik S, Paes AM. Syzygium cumini (L.) Skeels: a prominent source of bioactive molecules against cardiometabolic diseases. Front Pharmacol. 2015. November;6:259. – PMC – PubMed.

LOGUERCIO, A. P. et al. Atividade antibacteriana de extrato hidro-alcólico de folhas de jambolão (Syzygium cumini (L.) Skeels). Ciência Rural, Santa Maria, v. 35, p.37-376, Mar./Abr. 2005.

Raza A, Butt MS. Iahtisham-Ul-Haq, Suleria HAR. Jamun (Syzygium cumini) Seed and Fruit Extract Attenuate Hyperglycemia in Diabetic Rats. Asian Pac J Trop Biomed. 2017;7(8):750–4.

Teixeira, Claudio Coimbra. Syzygium cumini (L.) Skeels no tratamento do diabetes melito tipo 2 : resultado de um ensaio clínico randomizado, controlado, duplo-cego e double-dummy. Porto Alegre. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Medicina: Clínica Médica. 2004.