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Por Kellen Vieira

O movimento de emancipação de mulheres tem trazido à tona realidades sobre o Brasil, que é um país marcado pela violência contra a mulher, onde 30 mulheres são agredidas por hora (fonte: 14° Anuário Brasileiro de Segurança Pública/ 2019).

Quando falamos do movimento de mulheres, temos que compreender as diferentes particularidades de cada uma delas. Se tornar mulher, como disse Simone de Beauvoir, perpassa por diversos processos que condizem com a posição social, posição geográfica e até mesmo características físicas.

Ter a pele preta é só uma característica, mas traz uma carga ancestral e social muito significativa. A colonização foi um processo abrupto que fez com que essa pequena característica se tornasse alvo de discriminação e segregação. A escravização dos negros foi a maior calamidade da história da humanidade e reverberou de maneira negativa na construção das sociedades, em especial nos continentes que foram explorados, tendo como destaque os países da América Latina e do Caribe.

No caso Brasileiro, a escravidão acabou por força da lei, mas os processos sociais e econômicos da segregação ainda continuam vigentes. Ser negro é uma luta diária. 

A interseccionalidade entre ser mulher, negra, Latino Americana e Caribenha, traz à tona o apagamento histórico e social, silenciamento e marginalização.

Nesse sentido, no ano de 1992, em um encontro histórico de mulheres negras da América Latina e Caribe, foi determinado o dia 25 de julho como data para evidenciarmos as agendas políticas coletivas e autônomas de mulheres negras – Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha.

A partir de 2013, o Odara – instituto da Mulher Negra – iniciou a agenda do chamado “Julho das Pretas”, que todo ano traz uma pauta para debate.

Neste ano o tema é: “Para o Brasil Genocida, Mulheres Negras apontam a Solução!” . Mulheres negras são a força motriz da nossa sociedade. Esse tema tem o intuito de denunciar o projeto em execução do genocídio da população negra e que se agravou com a pandemia da Covid-19, e, também, evidenciar o trabalho que tem sido feito durante todos esses anos por mulheres negras que solucionam os problemas estruturais da sociedade. 

Mulheres são as estruturantes na sociedade, e são responsáveis pela chefia de cerca de 44% dos domicílios brasileiros, segundo o IPEA/2018.

Para além de uma proposição social, mulheres são responsáveis pelos afazeres domésticos. Isso inclui o preparo e a garantia da alimentação nos lares, tornando as mulheres as garantidoras da SSAN na sociedade. Quando incluímos o trabalho doméstico a essa mistura, revelamos que as mulheres negras estão à frente dessa garantia. Afinal, apesar da Dona Benta ter a fama, quem faz o bolo é a Tia Anastácia.

E falando de base da sociedade, coincidentemente, no dia 25 de julho também é celebrado o dia da Agricultura Familiar, garantidores da segurança alimentar dos brasileiros.

A luta pela valorização e existência da agricultura familiar é contínua e constantemente ameaçada pelo avanço do agronegócio. Este, por sua vez, se baseia na distribuição fundiária brasileira, que tem resquício em uma divisão colonial que, por muito tempo, negou aos negros o acesso à terra. E são eles, os grandes latifundiários, que dificultam o acesso àqueles que não tem poder econômico. 

Apesar de parecerem distantes, as lutas pela agricultura familiar e reforma agrária garantem a segurança e soberania alimentar, o acesso à terra e, consequentemente, aos direitos para as mulheres negras.

A atual divisão de terras e a limitação da reforma agrária, tem como base o racismo, e a luta constante de mulheres negras para não morrer, para solucionar e para progredir e é o que garante o nosso sustento enquanto sociedade.

“Quando uma mulher negra avança, ninguém fica para trás! Estamos em marcha neste 25 de julho!”