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MWAMBA | O tradicional molho de amendoim e dendê do oeste africano

MWAMBA | O tradicional molho de amendoim e dendê do oeste africano

Por Natália Escouto

 

Vamos conhecer uma receita ancestral?

Quando vi essa receita pela primeira vez fiquei muito encantada, sempre fui apaixonada por amendoim e desde criança aprendemos a consumir o “cri cri” ou “carapinha” das festas juninas, ou a famosa paçoquinha. Lembro também do “amendocrem”, uma pasta de amendoim comercializada no supermercado, ainda bem distante da loucura que temos por pasta de amendoim hoje em dia (muito mais pela influência dos Estados Unidos do que qualquer outra coisa). O amendoim é o grande astro dessa receita que tem inúmeras variações e aqui vamos compartilhar uma versão vegetal feita com couve.

Na verdade, queria preparar essa receita com alguma PANC, mas vamos primeiro falar um pouco mais sobre o amendoim e os pratos tradicionais com mwamba para depois fazermos nossa coleta de PANC para essa receita.

O Amendoim nas Culinárias Africanas

É possível que o amendoim que tem sua origem na América Latina tenha chegado no continente Africano através das viagens de portugueses e espanhóis no comércio de pessoas escravizadas e bens de consumo. Outras literaturas dizem que o caminho foi ao contrário. Sabemos que este trajeto trouxe para o Brasil a banana, o coco, a palmeira com o dendê, o inhame, o quiabo, entre outros ingredientes, além de tecnologias para agricultura e técnicas culinárias que são utilizadas até hoje nas cozinhas afro-brasileira e africanas.

Lá o amendoim é usado de diversas maneiras como em molhos e cozidos, sopas, é feito o leite de amendoim também consumido em molhos, cremes e sopas além de sobremesas e bebidas. Das variações de mwamba, muamba, nkok, que encontrei a maioria leve o azeite de dendê (óleo de palma) e pasta de amendoim.

Outras receitas semelhantes usam pasta de tomates e pimentões, e normalmente é servido com mandioca cozida ou o fufu, um purê de mandioca ou de milho ou de inhame bem firme já que é tradição em muitas culturas africanas comer com as mãos e o fufu serve como uma base para comer molhos e caldos.

O Mwamba que vamos usar de referência nessa receita é feito a partir de uma pasta de pimentões vermelhos, alho e cebola, azeite ou pasta de dendê, pasta de amendoim e água. Além de sal, pimenta e especiarias locais. Este molho ou variações dele encontrei em diversas preparações como Caril de Amendoim com origens Moçambicanas, além do Mwamba Nsusu que é Congolês. Um dos pratos mais tradicionais de Angola é o Muamba de galinha, que também é referência na culinária brasileira, é muito similar ao nosso frango com quiabo. O frango é cozido com cebola, alho, pimentas, e azeite de dendê e um bom molho de tomate e por fim a pasta de amendoim é adicionada na mistura.

O Vatapá baiano, por acaso, é outra receita que faz parte desta influência do amendoim na nossa cultura alimentar. Feito com amendoim torrado, castanhas de caju, dendê, farinha de mandioca ou fubá (e ainda pão dormido), gengibre, pimenta malagueta, cebola, tomate e leite de coco e camarão seco.

Chef Pitchou Luambo – Chefe de Cozinha do restaurante Congolinária, no centro de São Paulo/SP. Pitchou que além de cozinheiro é advogado, veio ao Brasil buscar abrigo uma vez que seu país natal – a República Democrática do Congo, está em guerra civil à anos.  O restaurante familiar serve um rodízio de culinária afrikana com inspiração congolesa adaptando alguns pratos aos ingredientes brasileiros. Couve na mwamba é um dos mais pedidos, e ainda vemos muitas semelhanças entre os nossos ingredientes como a banana, o dendê, arroz e feijão, quiabo, amendoim, além de milho e mandioca. Pitchou ressalta a importância das comunidades de refugiados que vivem no Brasil e como a culinária fortalece as conexões com a terra natal. 

As versões vegetais do Mwamba foram as que mais me deixaram intrigada e curiosa. Na receita do Chef Pitchou (Chef de Cozinha do Restaurante Congolinária em São Paulo), disponível no youtube, ele usa couve como o vegetal da receita, talvez por ser um vegetal folhoso bem acessível aos brasileiros. Já no vídeo (em inglês) da Fabiola (no instagram @shinewithplants) ela chama a receita de Nkok, e usa uma outra planta chamada de Okazi. Tentei achar mais sobre essa planta, mas só achei conteúdos em inglês e em idiomas locais e não quis arriscar na tradução. O engraçado que as folhas de Okazi lembram muito as folhas de Bertalha e da Batata Doce, sendo as duas panc, acho interessante termos essa possibilidade. (ainda não testei, mas compartilho quando fizer). Além disso, o preparo da receita de Nkok me pareceu semelhante ao da maniçoba (prato amazônico da cultura paraense) que é feita a partir da folha da mandioca.

As folhas de Okazi são bem comuns na África e são vendidas em porções congeladas da folha finamente picada. Fabiola lavou as folhas e bateu no liquidificador e levou numa panela com água em fogo alto e deixou ferver por quase uma hora. Significa que essas folhas precisam de mais tempo de cozimento do que a couve por exemplo. Depois adicionou uma pasta de dendê e por último a pasta de amendoim, além de sal e açúcar. De acompanhamento mandioca cozida no vapor. E também falou sobre uma mandioca fermentada. Vale conferir.

E vamos a receita no nosso Mwamba!

Ingredientes:

  • 1/3 de xícara de azeite de dendê
  • 1 cebola pequena cortada em cubos pequenos
  • 1 dente de alho cortado em cubos pequenos
  • 2 tomates cortados em cubos pequenos
  • 1 pimentão vermelho pequeno cortado em cubos pequenos
  • ½ xícara de extrato de tomate ou molho de tomate
  • 1 Molho de couve verde ou manteiga cortado finamente
  • ¾ xícara de pasta de amendoim
  • +/- 500ml de água
  • Sal e pimenta do reino a gosto

Pode usar pimenta dedo de moça, pimenta malagueta, páprica picante e outros temperos que preferir. Gosto de fazer com um pouco de gengibre.

Modo de preparo:

  • Primeiro comece deixando todos os ingredientes prontos e picados para poder preparar a receita com calma e atenção. 
  • Numa panela média, aqueça o azeite de dendê e acrescente nessa ordem a cebola e deixe murchar um pouco e depois acrescente o alho. 
  • Em seguida acrescente os tomates e os pimentões e deixe dourar bem até desmanchar, se precisar acrescente um pouco de água para facilitar o cozimento.
  • Pode tampar e deixar cozinhar por uns 10 minutos. Quando o molho estiver com os legumes desmanchados acrescente o molho de tomate e misture bem, apertando um pouco com a colher para amassar o que ainda estiver com pedaços.
  • Por fim, acrescente a couve, misture e acrescente água até cobrir e a pasta de amendoim. Misture muito bem e veja se necessita de água novamente, a receita deve ficar bem cremosa. 
  • Deixe cozinhar por mais 5 minutos e misture de vez em quando para não grudar no fundo.
  • Tempere com sal e pimenta e sirva com mandioca cozida, ou ainda inhame.

Esta é uma receita para voltarmos pra casa, sentimos o gosto do que nossos ancestrais cultivaram. Conhecer as nossas origens culinárias também é um processo de cura e de resgate. Principalmente para valorização da nossa cultura. Desfrute!

Fontes de pesquisa: 

Chef Pitchou Lumabo e Restaurante Congolinária – https://congolinaria.com.br/

CRUZ. M. S. R.; MACEDO. J.R. A transmissão do saber em elementos da culinária baiana como depositário da tradição cultural: uma análise à luz da contemporaneidade. V Unecult – UFBA 2009

Fabiola – Shine with Plants (Canal no Youtube) – https://www.youtube.com/channel/UCVPAZQXFNi6yYW6_MKajyvQ/featured 

Muamba Nsusu: Congolese Peanut and Palm Oil Stew (Muamba Nsusu: Ensopado com amendoim e óleo de palma congoles) – https://blog.arousingappetites.com/muamba-nsusu-congolese-peanut-palm-oil-stew/

Órfãos da Terra: Julia Dalavia aprende receita com Chef Congolês – https://youtu.be/DRkN1udSe2c 

PAIVA. M. C. A presença Africana na Culinária Brasileira: sabores africanos no Brasil. 2017 UFJF Pós Graduação Lato Sensu em História da África

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Sobre a autora:

Natália Escouto:

Natália Escouto (@preta.nati) é gastróloga, cozinheira e professora de culinária vegetal. Ministra aulas e oficinas de culinária, consultorias e cria conteúdo nas redes sociais pensando o comer como política, cultura e afeto. Vegetariana há quase 10 anos, é apaixonada pela culinária brasileira e praticidade na cozinha. Pesquisa sobre referências africanas na nossa alimentação e referências ancestrais de se relacionar com o alimento e com o cozinhar.

Contra a fome e em defesa da soberania e segurança alimentar e nutricional, ativistas alimentares declaram apoio a Lula

Contra a fome e em defesa da soberania e segurança alimentar e nutricional, ativistas alimentares declaram apoio a Lula

   Foto: Ricardo Stuckert

Bruna Crioula

O restaurante Camélia Ododó, estabelecimento da nutricionista, ativista alimentar e apresentadora Bela Gil, foi palco na última quinta-feira (24) de um jantar entre militantes pela Comida de Verdade e o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores). O principal objetivo deste evento foi declarar apoio nas ações de campanha para o ex-presidente, como também promover o diálogo e reforçar a importância de considerar as pautas de soberania e segurança alimentar e nutricional, combate à fome e fortalecimento da agricultura familiar agroecológica e/ou orgânica no seu plano de governo.

Agricultores, referências sociais, políticas, acadêmicas e culturais nas áreas de alimentação, nutrição e ecogastronomia participaram do coquetel, tendo como anfitriãs a própria Bela Gil, a chef de cozinha Bel Coelho e a comunidade Levante Slow Food Brasil. Nomes como Regina Tchelly do projeto Favela Orgânica; Denise Cardoso, presidente da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); Lina Luz da Escola de Gastronomia Social do Ceará; e Marcos José de Abreu (Marquito), ambientalista e vereador pelo PSOL em Florianópolis; demonstram a diversidade de experiências locais brasileiras comprometidas com as lutas pela garantia do direito humano à alimentação adequada para a população brasileira.

Alimentação é um fenômeno bio-sociocultural que se manifesta nas diferentes dimensões da organização humana, perpassando questões políticas e econômicas. Por isso, esta é uma pauta atemporal e estruturante que precisa fazer parte de maneira transversal nas políticas públicas no Brasil. Considerando o contexto de pandemia global e todos os desdobramentos oriundos das crises sociais, políticas e econômicas que o Brasil enfrenta hoje, especialmente pela necropolítica promovida pelo atual governo federal, é necessário restabelecer estratégias e estruturas públicas que combatam o expressivo contexto de fome e miserabilidade da população brasileira.

A defesa da Comida de Verdade, noção forjada tanto no âmbito da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, Agroecologia e Alimentação Saudável e Adequada é uma bandeira comum na mobilização social para promover mudanças radicais nos sistemas alimentares, assim como no enfrentamento à fome e à crise climática global. Nesse sentido, a rede Slow Food Brasil tem uma trajetória de mais de vinte anos de atuação no território nacional, comprometida com estas pautas, tendo a gastronomia sustentável e a conexão campo-cidade como foco de trabalho em todas as regiões do país.

Considerando que este tema necessita ter grande ênfase na campanha presidencial de 2022 e que os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), seminalmente, nos mandatos de Lula, tiveram o compromisso de concretizar políticas públicas de combate à fome, fortalecimento da agricultura familiar e tradicional e da estruturação de um Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil; há o reconhecimento de que a atual candidatura presidenciável de Lula é um fôlego de esperança, tendo em vista as ações do atual governo federal nos desmontes institucionais, de políticas públicas e da agenda política pautada pelo agronegócio que contribuíram para o cenário de insegurança alimentar e nutricional de mais da metade da população, especialmente famílias chefiadas por mulheres negras nas favelas brasileiras. Os ativistas que compuseram este jantar acreditam que este panorama histórico descreve e justifica a manifestação de apoio deste grupo à candidatura do ex-presidente Lula, com a entrega de uma carta que apresenta as contrapartidas de incidência política durante a campanha e após a esperada e desejada posse, colocando-se à disposição no suporte, enquanto sociedade civil, na efetivação das demandas propostas que foram registradas neste documento.

Entre as falas proferidas no coquetel, Lula compartilhou histórias vividas em sua caminhada relacionadas aos sistemas alimentares brasileiros apresentando sua dedicação às lutas de combate à fome e garantia de acesso a alimentos para populações em situação de extrema vulnerabilidade social. Reforçou a necessidade de criar mecanismos de proteção para as políticas públicas ligadas à Segurança Alimentar e Nutricional e que esses temas sejam amplamente divulgados entre a população.

“O Brasil precisa entrar num novo tempo. É preciso popularizar. É preciso tirar o conceito de alimentação saudável/orgânica da boca dos especialistas para a boca do povo”, afirmou o ex-presidente. Para Lula, a alimentação saudável tem que entrar na pauta tanto quanto assuntos como emprego e educação, demonstrando o compromisso com as demandas compartilhadas durante a roda de conversa no Camélia.

Para a anfitriã Bela Gil, este encontro foi um passo em direção à democratização dos significados da alimentação saudável, lembrou que a fome é um projeto político que retira das pessoas a possibilidade de autonomia para fazer escolhas alimentares adequadas. Também reformou a necessidade de incluirmos a reforma agrária de maneira transversal nas políticas públicas agrárias, ambientais e de promoção à saúde.

“Democratizar a alimentação significa democratizar a terra. O Brasil é um dos países com maiores índices de concentração de terra, resgatar a reforma agrária é fundamental”, afirma Bela.

Sem dúvida, o evento foi um espaço fraterno de partilha de experiências múltiplas de pessoas que trazem nas suas trajetórias o empenho nas lutas por soberania e segurança alimentar e nutricional. No decorrer do encontro, a comunidade Levante Slow Food Brasil presenteou o presidente com um estandarte confeccionado pelo coletivo de mulheres Linhas de Sampa para o evento internacional da rede Slow Food Terra Madre, ocorrido em 2018 na Itália. Com a mensagem “Lula Livre” em inglês e italiano, o emblema era um ato de denúncia à prisão do presidente em Curitiba no mesmo ano. Um momento que marca toda a emoção e entusiasmo com que o jantar aconteceu.

Esperança e força foram expressões muito mencionadas num consenso do coletivo presente de enfrentar os desafios postos durante a campanha presidencial este ano a fim de alcançar o objetivo de eleger Lula como presidente do Brasil no próximo mandato. Sem a pretensão de findar esse debate, o evento inaugura novas oportunidades de articulação para a realização de ações conjuntas planejadas e executadas de maneira dialógica e propositiva na construção de sistemas alimentares inclusivos, equânimes e solidários. Acesse a carta de apoio elaborada pelos ativistas alimentares aqui.

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 Bruna Crioula é nutricionista ecológica, comunicadora popular e             pesquisadora alimentar. Atua na popularização da biodiversidade brasileira   há 12 anos. É sócia-fundadora da Crioula | Curadoria Alimentar, empresa   social protagonizada por mulheres negras, comprometida na criação de   soluções ecológicas nos sistemas alimentares, da produção ao consumo.   Contato: @brunacrioula ou brunacrioula@gmail.com

 

Cosméticos Naturais

Cosméticos Naturais

Por Kellen Vieira

A natureza é construtora de tudo aquilo que utilizamos, desde o alimento, até os utensílios, tudo vem de recursos que a terra proporciona e nós utilizamos. Uma das relações mais antigas que temos com as criações de instrumentos e mecanismos são os cosméticos.

Historicamente, a utilização de plantas e minerais com finalidades cosméticas era muito presente no Egito antigo, onde já existia a cultura de pessoas que  se pintavam e se tatuavam. Estudos sobre esse período relacionam a utilização de argilas para a higiene básica. Inclusive, há registros de muitos faraós que eram enterrados junto de seus diversos bens pessoais, que incluíam cosméticos.

O conceito, produção, uso, abrangência e importância dos cosméticos mudou muito desde os antigos Egípcios. Atualmente, é muito comum associar os cosméticos à recente “revolução da beleza”, que abrange desde tratamentos para resolver problemas dermatológicos (como a acne e alergias) e chega até a problemas mais subjetivos como as rugas, manchas, celulites e demais preocupações estéticas, que hoje estão diretamente relacionadas à indústria da beleza.

No entanto, para  além da manutenção da vaidade humana, os cosméticos estão presentes no nosso dia a dia em itens de higiene para cuidados básicos como: xampu, condicionador, sabonete, creme dental, desodorantes e hidratantes corporais – coisas que utilizamos todos os dias e que praticamente não nos damos conta que também fazem parte dessa indústria.

Os cosméticos compõem uma das maiores indústrias mundiais, com um mercado em constante evolução e crescimento, sendo majoritariamente composta por grandes empresas que fazem parte um modelo comercial ultra capitalista, com produções em larga escala, utilizando de aditivos químicos derivados de petróleo, conservantes e outros elementos que podem ser considerados tóxicos e nocivos tanto para os seres humanos quanto para o meio ambiente. 

Quando falamos de produção em larga escala de qualquer indústria, podemos deduzir que o mercado conta com a participação da monocultura e do agronegócio. E na indústria dos cosméticos isso não é diferente. A extração de matérias primas naturais, nestes casos de produção em escala industrial  é feita com materiais de origem vegetal, animal e mineral, com a adição de insumos sintéticos, muitas vezes criados, e ou, e melhorados em laboratórios.

Para além da problemática da composição de muitos destes produtos, os cosméticos também estão ligados à utilização de animais em testes de eficiência e segurança, para evitar possíveis reações adversas indesejadas. Essa prática carrega uma grande discussão no mundo todo, com o questionamento da necessidade de infringir dor e sofrimento em animais para a fabricação de produtos, considerados supérfulos por muitas pessoas.

  

Recentemente o mundo virtual teve discussões mais afloradas sobre o tema com o vídeo viral “salve o Ralph” que repercutiu no mundo inteiro!

Assista ao vídeo:

Em resposta a esse modelo de produção, se faz necessário olhar para o passado e resgatar as origens de extração, produção e uso dos cosméticos utilizados por tantas culturas diferentes. É a partir desta necessidade que se popularizaram os cosméticos naturais.

Podemos considerar como “produto de beleza” natural desde aquele óleo de coco que a gente aprendeu com nossa avó a passar no cabelo, até produtos artesanais, ou industrializados, com formulações complexas para assuntos específicos – afinal, muito já foi conquistado na indústria dos cosméticos.

Como o nome já indica, os cosméticos naturais, especialmente os que são certificados pelo selo Ecocert, vêm com a proposta de relacionar produtos com matérias primas diretamente extraídas da natureza para os cuidados diários e sem sofrimento animal. Sendo assim, os cosméticos naturais trazem a utilidade de produtos que já conhecemos e utilizamos, somados à vantagem de ter uma origem menos nociva às pessoas e ao meio ambiente.

Nesses anos de Crioula, para além da alimentação, fizemos parcerias com empresas, idealizadas e coordenadas por mulheres maravilhosas, que conversam com a nossa forma de ver o mundo e compactuam com a nossa revolução gentil. 

A alimentação é um caminho dentre vários que podemos abraçar nessa caminhada do cuidado com o planeta com as pessoas, por isso nos juntamos a parceiros como a Eterea | Cosmética Natural e a Anne’s | Ateliê de Cosméticos Naturais, que têm como proposta a utilização de ingredientes naturais para a elaboração de produtos, com fórmulas gentis que não agridem nem o meio ambiente e nem as pessoas que as utilizam.

Produtos da Eterea:

Produtos da Anne’s:

Convidamos a todes que nos acompanham a conhecer esse novo olhar sobre os cosméticos, pois o uso destes itens está diretamente ligado à beleza e ao autocuidado. Apesar desses conceitos serem centrados em indivíduos, não podemos nunca desassociar a pessoa de seu meio. Tendo isso em mente, nada mais coerente do que associar o cuidado do meio ambiente ao auto cuidado, afinal coexistimos com a natureza, fazendo parte dela, ela cuidando de nós e nós cuidando dela.

Fontes:

PCC Group | Matérias-primas para a produção de cosméticos naturais
https://www.products.pcc.eu/pt/blog/materias-primas-para-a-producao-de-cosmeticos-naturais/#:~:text=Ingredientes%20de%20origem%20animal%20podem,ou%20%C3%A0%20vida%20dos%20animais%20.&text=Al%C3%A9m%20de%20mat%C3%A9rias%2Dprimas%20de,mar%20(por%20exemplo%2C%20algas)

Cosmetic Innovation | Crescimento dos cosméticos naturais, orgânicos, veganos e éticos é tendência irreversível
https://cosmeticinnovation.com.br/crescimento-dos-cosmeticos-naturais-organicos-veganos-e-eticos-e-tendencia-irreversivel/

Chemax | A Famosa Matéria-Prima para os Cosméticos
https://www.chemax.com.br/materia-prima-cosmeticos#:~:text=A%20mat%C3%A9ria%2Dprima%20para%20cosm%C3%A9ticos,amaciantes%2C%20entre%20outras%20subst%C3%A2ncias%20qu%C3%ADmicas.

UFSM Agronomia | Conheça a relação entre a agricultura e a indústria de cosméticos
https://www.ufsm.br/pet/agronomia/2021/06/29/conheca-a-relacao-entre-a-agricultura-e-a-industria-de-cosmeticos/#:~:text=Conhe%C3%A7a%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20a%20agricultura%20e%20a%20ind%C3%BAstria%20de%20cosm%C3%A9ticos,-Copiar%20para%20%C3%A1rea&text=Entre%20eles%2C%20destacam%2Dse%20os,por%20diversas%20empresas%20de%20cosm%C3%A9ticos.

Conselho Regional de Química | História dos Cosméticos
https://www.crq4.org.br/historiadoscosmeticosquimicaviva#:~:text=Os%20cosm%C3%A9ticos%20n%C3%A3o%20apenas%20cobrem,cremes%20espec%C3%ADficos%2C%20e%20bastante%20caros.

Namu Portal | Tudo o que você precisa saber sobre cosméticos naturais
https://namu.com.br/portal/estetica/corpo-e-pele/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-cosmeticos-naturais/

Forbes | Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo
https://forbes.com.br/principal/2020/07/brasil-e-o-quarto-maior-mercado-de-beleza-e-cuidados-pessoais-do-mundo/

Mudanças Climáticas e pessoas racializadas

Mudanças Climáticas e pessoas racializadas

por Kellen Vieira

Um novo estudo, compartilhado pela BBC news, indica que pessoas negras na maioria das cidades dos Estados Unidos são sujeitas ao dobro de calor corporal do que as pessoas não negras da mesma cidade.
Os estudos dizem que as diferenças não são explicadas pelo nível de pobreza, mas sim por racismo e segregação históricos.

Como resultado, as pessoas negras geralmente moram em áreas com menos espaços arborizados e mais prédios e asfalto.

O que aumenta o impacto da variação de temperatura e mudança climática, principalmente em cidades que já são conhecidas por terem o clima mais quente do que o normal. O termo técnico para os impactos que os prédios, estradas e demais infraestruturas das cidades causam na temperatura é: ilha de calor urbana. Todo o concreto e asfalto atrai e estoca o calor, fazendo com que dia e noite em grandes áreas urbanas sejam mais quentes do que outros lugares à volta.

Dentro das cidades há uma grande diferença de como a ilha de calor irá impactar, em áreas ricas, por exemplo, há árvores e espaços verdes que são notoriamente mais frios que aqueles com grande quantidade de casas e indústrias.

Um estudo anterior feito nos Estados Unidos provou uma correlação entre bairros quentes em grandes cidades com práticas de segregação racistas datadas de antes de 1930. Naquela época áreas com grande numero de negros e imigrantes ilegais eram marcadas, por oficiais federais, em documentos e quem vivia nesses espaços tinha empréstimos e e investimentos negados, tal prática era conhecida como “redlining”. O que leva a uma concentração de pobreza e dificuldade da aquisição de casas próprias pelas populações mais pobres nessas grandes cidades.

Esse novo estudo olha mais de perto para esses bairros mais quentes e as pessoas que são afetadas por isso. Usando dados satélites de temperatura combinados com as informações do censo demográfico dos Estados Unidos, os autores relacionam que os bairros onde a maioria é de pessoas negras e latinas têm temperatura bem maior do que aqueles bairros onde a maioria é branca.

Para sistematizar o estudo define latinos e negros como “pessoas de cor”, não sendo necessariamente os latinos pessoas negras, mas sim considerando todas as pessoas que não se declaram como brancas.

Em todas as áreas urbanas, com exceção de seis, das 175 maiores áreas urbanas dos Estados Unidos continental, as ditas pessoas de cor sofrem muito mais com o impacto do calor no verão.

As pesquisas mostram que pessoas negras estão expostas, em perímetro urbano, a uma média de 3.12ºC de calor a mais, em comparação com pessoas brancas têm em áreas urbanizadas.

A exposição ao calor não apenas aumenta a taxa de mortalidade, mas também está conectado a diversos impactos como insolação, perda de produtividade no trabalho e dificuldade de aprendizado.

“Nosso estudo ajuda a promover mais dados quantitativos que evidenciem que o racismo climático e racismo ambiental existem”, diz a Dra Angel Hsu, da universidade da Carolina do Norte. Chapel Hill, autora principal do artigo. “E isso não é apenas um incidente isolado, isso se perpetua por todo o país. Embora ser pobre fosse um fator de exposição ao aumento de temperatura urbana no verão, isso não era uma explicação completa.”

Em torno da metade das cidades, a maioria das pessoas de cor enfrentam verões mais quentes do que pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, mesmo considerando que apenas 10% dessas pessoas de cor são classificadas como pobres.

Os especialistas dizem que a raiz dessa diferença pode ser encontrada na história “nós podemos traçar vários dessas iniquidades atuais ligadas ao meio ambiente, problemas socioeconômicas e da saúde como explicitamente ligada às decisões e planejamento urbano do século 20 como o ‘redlining’ ” diz Dr Jeremy Hoffman, o cientista chefe do Museu da Ciência em Virginia, que não está envolvido nesse novo estudo. “Embora o dinheiro não nasça em árvores, o dinheiro está claramente localizado em bairros embaixo das árvores, especialmente nos Estado Unidos”.

Com o aumento das temperaturas provocado pelo aquecimento global com o passar das décadas, esse é um problema que irá ficar pior sem uma atuação significativa dos estados e do governo federal, como o presidente Biden tem prometido.

Soluções, entretanto, precisam ser pensadas cuidadosamente. No papel, os autores refletem o fato que plantar árvores em áreas de calor pode reduzir a temperatura no verão em cerca de 1.5ºC, o que é bom para os moradores.

Mas as novas árvores também podem aumentar o valor das propriedades e acabar expulsando as pessoas as quais a política de plantação de árvores visava beneficiar, a chamada gentrificação.

“Como nossa sociedade emerge da pandemia, que mostrou que essas mesmas comunidades que enfrentam maior calor no verão, são as mesmas que sofrem os maiores impactos da Covid-19, é essencial que a gente assegure e foque na nossa recuperação” diz Dr Hoffman “Mas, se decisões para esses bairros são feitos sem a participação ativa e orientação dos moradores desses espaços, não será algo melhor, seja em teoria ou prática, do que o “redlining”, ou qualquer outro processo de planejamento desvantajoso do passado”

O estudo está publicado na revista Nature Communications.

Fonte: https://www.bbc.com/news/science-environment-57235904

Dinheiro dá em Árvore | Conheça a Erva-Mate

Dinheiro dá em Árvore | Conheça a Erva-Mate

 

Originária do sul do Brasil, a famosinha Ilex Paraguariensis nomeia uma das mais conhecidas músicas da banda sulista Engenheiros do Hawaii.

Essa erva, muito gaudéria, é amplamente consumida não só no sul do Brasil, mas também na Argentina, Paraguai e Uruguai. Trata-se de uma árvore que pode atingir mais de oito metros de altura com pequenos frutos e folhas ovais. Sim, estamos falando dela: a Erva-mate.

Seu uso, extração e cultivo vem de tradições antigas, oriunda dos povos indígenas da região, em especial os povos Guaranis e Quínchua. Conhecida como Kaaguy jerovia, a erva Mate é reconhecida como sagrada pelo povo Guarani. Esses povos batizaram essa erva de acordo com seu consumo que se dá em cuias.

Com o passar do tempo, o consumo foi se diversificando para o Chimarrão, Tererê e até mesmo o chá quente ou gelado.

Por ter origem indígena, durante o período de colonização, os padres da região proibiram o uso da erva, alegando prejuízos à saúde. Porém, essa medida não se manteve por muito tempo.

Atualmente, o cultivo da erva abrange diversas propriedades, principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. A maioria do cultivo ocorre em propriedades pequenas e médias, empregando milhares de pessoas e tendo um impacto social e econômico expressivo nas regiões de plantio.

A preferência do plantio por pequenos agricultores se dá pelo fato da erva mate ter melhor qualidade em áreas sombreadas, e nada mais sombreado do que o interior da floresta, não é mesmo? Mas, além de sua necessidade por sombra, o ciclo da erva mate, diferentemente do ciclo do café, manteve por muito tempo o extrativismo vegetal como principal forma de exploração. Isso também foi responsável pela manutenção da cultura do Mate.

No estado do Rio Grande do Sul existem diferentes aldeias que mantêm a cultura da erva mate, a Nhum Porã e a Tekoa Yvity Porã são exemplos, mantendo os rituais de carijó, preservando florestas nativas com suas ervateiras antigas e enormes.

Se por um lado isso foi importante para manter valores culturais, por outro, a erva mate sofreu com o avanço dos desmatamentos, das monoculturas e da pecuária, uma vez que a erva mate faz parte da produção de pequenas propriedades e também de florestas. Devido a isso, atualmente, apesar da grande produção de erva brasileira, a Argentina é a maior produtora de mate.

Em contrapartida, o Brasil é o segundo maior produtor, e ainda mantém os ervais nativos, colaborando assim com o extrativismo ervateiro que contribui com a manutenção e conservação de florestas, bem como a conservação de genótipos de Ilex. Portanto, mantemos a tradição com qualidade e garantindo a sobrevivência da natureza, sem esquecer dos impactos econômicos regionais.

Mesmo com toda essa “sustentabilidade” em sua produção, a erva mate também é cultivada em diferentes sistemas de produção sendo eles: ervais nativos extrativistas ou adensados, ervais plantados em silviagrícola ou em sistemas agroflorestais, sendo esse último o mais comum.

Os sistemas de plantação em larga escala e expostos ao sol são os menos comuns no Brasil. Particularmente nesses sistemas há o uso de aditivos químicos, porém, se trata de um tipo de exploração que afeta a qualidade da erva.

Outro ponto importante na cadeia produtiva são as condições de geração de renda dos povos extrativistas, que muitas vezes têm dificuldade de escoamento e condições precárias de trabalho, o que precisa ser discutido não só no caso da erva mate, mas de todos os setores que trabalham com o extrativismo.

Mesmo com algumas barreiras que precisam ser ultrapassadas dentro da produção de alimentos do Brasil, a Erva Mate ainda representa a resistência de uma cultura ancestral que hoje representa uma de atividades econômicas mais brandas, e que preza pela utilização sustentável da mata nativa, sendo um produto florestal não madeireiro de muita abundância e lucro.

A Erva Mate é o dinheiro que dá em árvore mas, para além da simples moeda, é cultura, é tradição, é segurança e soberania alimentar e nutricional de diversas comunidades.

A Erva mate é a riqueza que “dá em árvore”.

Por Kellen Vieira

Dinheiro dá em Árvore  | Conheça o Pequi

Dinheiro dá em Árvore | Conheça o Pequi

Por Kellen Vieira

Diretamente do coração do Brasil para o coração da gente, pois com ele não tem meio termo: ou você ama ou odeia. O pequi, que significa “casca espinhenta” em Tupi, é um fruto extremamente rico tanto por sua importância econômica quanto cultural.

Nativa do segundo maior bioma brasileiro, o cerrado, o pequizeiro é versátil podendo ser utilizado tanto in natura como na fabricação de óleos, cosméticos e licores. O uso mais comum está presente em diversos pratos tradicionais da culinária do cerrado como o arroz com pequi, frango com pequi (e quiabo) ou até mesmo doce, sendo consumido com leites como no brigadeiro de pequi ou no picolé de pequi.

Enfim, é pequi para todo lado na cozinha, mas o pequi não é usado restritamente para culinária. O óleo da polpa também pode ser usado, na medicina popular é utilizado contra doenças respiratórias e como um “afrodisíaco”. A casca do pequizeiro é comumente empregada como tinta para tecelões artesãos, entre outros usos como cosméticos e conservas.

O pequi está inserido em uma curta cadeia de produção de extrativismo local, onde os frutos são colhidos. Além disso, também não há a inserção do fruto nos processos de comercialização e industrialização massificados, portanto, ele não entra numa cadeia de contabilização capitalista, fazendo com que a renda gerada com o extrativismo do pequi não seja amplamente contabilizada.

Esta é uma triste realidade sobre diversos frutos nativos do cerrado.

Mesmo dentro dessa “invisibilidade”, as comunidades do cerrado que fazem a extração, uso e venda local, sabem que o valor do pequi é inestimável e que vem sendo ameaçado junto com a degradação do cerrado e o avanço do agronegócio.

Por sua floração ser sensível a variações de clima, como excesso de chuva ou calor, os pequizeiros têm sofrido com a crise climática, mas principalmente com as constantes queimadas, cada vez mais frequentes, que atingem o bioma.

Em contrapartida, os extrativistas, nas diferentes regiões de crescimento do pequi, se organizam para continuar mantendo vivo esse ouro do cerrado e com isso contribuir com a preservação do bioma.

O pequi é o dinheiro que dá em árvore mas, para além da simples moeda, é cultura, é tradição, é segurança e soberania alimentar e nutricional de diversas comunidades.

 Pequi é a riqueza que “dá em árvore”.

Valorize as profissionais da gastronomia

Valorize as profissionais da gastronomia

Quem é o Chef e quem é o Cozinheiro?

Vou cantarolar um funk antigo pra vocês entrarem no clima: “qual a diferença entre o charme e o funk? Um é bonitinho e o outro elegante.”

É assim que esses profissionais são vistos pelo público, o Cozinheiro é bonitinho, elegante é o Chefe de Cozinha. Deixando de lado a comparação, estamos falando aqui do mesmo profissional – o cozinheiro – que na prática só ocupa um cargo diferente, de Chefe da Cozinha.

Hoje é celebrado o Dia Internacional do Chefe de Cozinha – “Chef” em francês, dia 20 de outubro. No Brasil a data é comemorada em 13 de maio e foi criada em 1999 pela Associação Brasileira da Alta Gastronomia (ABBA), marcando também o começo da glamourização e aparição da alta gastronomia nas grandes mídias com programas de TV e dos Chefes se tornarem estrelas de televisão.

Antes de entrar para o ramo eu não tinha nem ideia do que era gastronomia ou chefe de cozinha, também não tinha noção do trabalho de um cozinheiro. A primeira vez que ouvi a palavra “Chef” e que entendi o que era um Chefe de cozinha foi assistindo um programa culinário do Chef inglês Jamie Oliver.

Jamie Oliver

uamie se destacou nas TV da terra da rainha no início dos anos 2000, onde preparava receitas simples e caseiras com um toque refinado e com seu jeito afetuoso e despojado de um jovem cozinheiro de 20 e poucos anos, que foi conquistando o mundo com seu carisma. Depois disso vieram outros programas e Jamie fez muito sucesso quando iniciou uma campanha pela melhora da alimentação escolar no Reino Unido, forçando o governo revisar o orçamento destinado à merenda escolar. Ele conseguiu trocar uma merenda escolar cheia de ultra processados como achocolatados, carnes ultra processadas como nuggets e peixe frito, além de batatas fritas e bolinhos recheados por frutas, verduras e legumes frescos, desafiando os próprios cozinheiros escolares e as crianças e adolescentes que mal conheciam alimentos in natura antes da chegada de Jamie.

Jamie foi um sucesso e logo depois outros Chefes e outros programas culinários surgiram. Lembro de me interessar por culinária e gastronomia assistindo realities shows norte americanos como “Top Chef” com cozinheiros profissionais disputando o título de melhor chef da temporada e o famoso “Master Chef” que além de cozinheiros profissionais também tem temporadas com cozinheiros amadores e sem treinamento. Além destes, outros programas surgiram e foram tomando conta da TV e dos espectadores, principalmente os brasileiros.

Julia Child

Antes de Chefes profissionais tomarem conta da cena, estávamos acostumados às mulheres nas cozinhas, e as maiores referências da TV brasileira são a Palmirinha e Ana Maria Braga, ambas apresentadoras de programas matinais com quadros culinários. Nos Estados Unidos, a figura da mulher na cozinha é da Julia Child, pioneira no mundo da gastronomia na televisão. Ela foi uma das primeiras mulheres a entrar numa escola de culinária na década de 1950, na escola mais tradicional Le Cordon Bleu em Paris, na França. E em 1963 seu programa de TV “The French Chef” (A Chef Francesa) foi um sucesso, onde ensinava receitas francesas ao público norte americano. Além dos programas culinários, Julia foi uma grande escritora e jornalista gastronômica.

É preciso notar que diferente dos Chefes famosos, as mulheres na cozinha normalmente têm uma abordagem diferente, voltada para a dona de casa com receitas caseiras e mais populares. Os grandes chefes fazem receitas chiques da culinária francesa e outras culinárias internacionais, pratos requintados e cheios de técnica, usam uniforme branco e usam nomes difíceis como bechamel, brunoise, etc.

Esse “boom” culinário e repentino despertar gastronômico do público deu o aval para uma cozinha mais requintada e elegante nos restaurantes. Brasileiros estavam acostumados com restaurantes “buffetzão” ou o chamado PF, o prato feito com arroz, feijão, carne, ovos fritos e batata frita, também conhecido como A la minuta. Com a popularização dos Chefes de Cozinha e restaurantes a la carte (restaurantes em que o cliente faz o pedido escolhendo um prato no cardápio), a cozinha brasileira também passou a ser valorizada pelos próprios cozinheiros e elevada a outro patamar, bem distantes do pequeno restaurante de bairro. O impacto da modernização e valorização da gastronomia local fez com que cursos e faculdades de gastronomia se tornassem mais populares e mais procurados.

Entenda melhor sobre a profissão cozinheiro e os detalhes deste mercado de trabalho

Cozinheiro é o profissional responsável por higienizar, preparar e finalizar os alimentos de acordo com a especificidade do prato, tipo de restaurante e culinária. Além disso, cuida da organização e limpeza da cozinha e do seu espaço de trabalho. Tem suas responsabilidades como por exemplo: o cozinheiro responsável pela higienização das saladas, ou aquele responsável pelas carnes. Todos eles trabalham em conjunto com o Chefe da Cozinha.

Chefe de Cozinha é um cargo, o mais alto cargo dentro de uma cozinha, é como um gerente. Um gerente responsável por gerenciar e organizar todas as atividades da cozinha como por exemplo criar um cardápio, precificar e fazer as fichas de custos dos pratos, contatar fornecedores, fazer as compras, testar pratos novos, organizar e coordenar o trabalho dos cozinheiros e auxiliares, fazer a “ponte” entre a cozinha e o salão do restaurante, cuidar da parte burocrática muitas vezes sendo administrador do restaurante além da organização da cozinha. 

Como podemos ver, nem sempre a presença do Chefe de cozinha vai ser constante na cozinha. As responsabilidades dele é muito mais administrativa, e numa cozinha profissional ele acaba apoiando e supervisionando o trabalho de cozinheiros e auxiliares. É claro que, aquela imagem de Chefes concentrados finalizando um prato com pequenas flores ou gritando na cozinha é real, mas muitas vezes glamourizadas em séries, filmes e programas culinários.

Cozinheiros como são os chefes, são pesquisadores da alimentação e a tarefa de pesquisar, testar, combinar sabores e saberes faz parte do processo criativo e trabalho dentro de uma cozinha. 

Para vocês entenderem melhor vou dar meu exemplo: Eu sou gastróloga/gastrônoma porque fiz a faculdade de gastronomia que é um curso superior que forma profissionais habilitados para trabalhar no setor de alimentos e bebidas como hotéis, restaurantes, pousadas, padarias, bares, etc. Como eu sempre gostei de cozinhar, ingressei no mercado de trabalho em restaurantes. Fui estagiária onde aprendi o básico sobre uma cozinha profissional e fui responsável por 5 meses pela finalização dos pratos, e nesta “praça”, como chamamos as divisões na cozinha. Assim, eu pude aprender sobre todos os pratos do cardápio antes de ir realmente para as panelas. Depois disso trabalhei como auxiliar de cozinha e cozinheira. Na prática tanto como estagiária, auxiliar e cozinheira fiz as mesmas coisas: organizar e higienizar os alimentos, fazer o pré-preparo, cozinhar, finalizar, armazenar, finalizar pratos, organizar e higienizar a cozinha. O que mudou foram as responsabilidades que eu tinha conforme ia adquirindo mais experiência. Com 6 anos no mercado de trabalho eu cresci bastante e cheguei a exercer o cargo de cozinheira líder, onde eu já tinha maiores responsabilidades como ajudar na construção do cardápio, além de coordenar o trabalho dos auxiliares. Nunca me vi como Chefe porque sabia que ainda tinha um caminho longo pela frente e que ainda não tinha tanta experiência administrando uma cozinha ou um restaurante.

Sobre os cursos de Gastronomia e Cozinheiro:

Existem no Brasil várias modalidades de cursos da área da gastronomia: cursos livres, cursos profissionalizantes de cozinheiro, escolas clássicas de culinária e ainda as graduações de ensino superior em Gastronomia.

SENAC Gastronomia

Os cursos de graduação em gastronomia têm disciplinas teóricas e práticas tanto na cozinha como culinária brasileira, francesa, italiana, e outras culturas culinárias. Além disso, há as disciplinas voltadas para higiene e legislação dos alimentos, nutrição, história da alimentação, enologia, etc. Contando também com conhecimentos de administração como marketing, produção de eventos, custos gerenciais, entre outras, variando o currículo de acordo com cada instituição.

Existem cursos de cozinheiro de grande prestígio como o Curso de Cozinheiro do Senac e a Escola de Culinária Francesa Le Cordon Bleu, ambas as escolas têm uma formação técnica voltada para a formação de cozinheiros tendo como base as técnicas de culinária francesa. E outras possibilidades mais rápidas e focadas são cursos livres com abordagens mais objetivas como cursos de confeitaria, massas, panificação que aprofundam conhecimento nestas áreas específicas.

De maneira geral, não é necessário fazer uma graduação em gastronomia para ser cozinheiro ou trabalhar em restaurantes.

Existem ainda cursos de cozinheiro, voltados especificamente para o mercado de trabalho, além de cursos livres como cursos de confeitaria, cursos de culinária francesa, curso de culinária italiana, etc. Outro ponto importante sobre a profissão é que muitos cozinheiros, principalmente os mais antigos adquiram experiência trabalhando, sem passar por cursos ou faculdade, sendo a grande maioria dos profissionais autodidatas. Digo isso, porque não são 3 anos de faculdade que vão lhe dar experiência suficiente para o mercado de trabalho. Apesar de uma profissão onde técnica é de extrema importância é a prática que faz o cozinheiro e o aprimoramento do seu desempenho, criatividade e autenticidade.

Profissionais com formação ou sem formação são os maiores dilemas da profissão.

Num pensamento lógico qualquer pessoa pode aprender a cozinhar, no entanto, a faculdade de gastronomia ou um curso de cozinheiro te ensinam técnicas culinárias que fazem parte do dia a dia de uma cozinha, o que agiliza e padroniza o trabalho. O grande problema é que profissionais sem experiência e qualificação são mais baratos e acessíveis. A média salarial de um cozinheiro varia de R$1,000 até R$1,500 líquidos, isso para carga horário de 8 horas (no papel) que sempre tem horas extras e escalas 6×1, sem finais de semana ou feriados e sem datas especiais, normalmente aquelas em que os clientes querem o serviço como Dia das Mãe, Dia do Namorados, Ceias de Natal e Ano Novo, etc. Auxiliares ganham um salário mínimo ou menos às vezes, e benefícios como vale transporte, adicional de insalubridade nem sempre são garantidos. Isso vale para restaurantes de franquias de fast food à buffet livre ou restaurantes a la carte. Do mais simples ao mais refinado.

Profissionais sem qualificação são mais fáceis de serem treinados e também mais dispostos a aceitar um baixo salário, deixando o mercado saturado de profissionais sem qualificação sem garantias. Há muitos profissionais qualificados que acabam se sujeitando à exploração dos empresários. De maneira geral, trabalhar em cozinhas pede horas em pé, expostos ao calor extremo, lidando com alimentos in natura e processos de cocção, produtos químicos como detergentes e limpadores, água sanitária sem equipamentos de proteção individual e nem mesmo uniforme adequado. Trabalhamos com calor, fogões e fornos quentes, água quente, facas, e utensílios perigosos onde muitas vezes ocorrem acidentes. O ambiente de trabalho normalmente é de muita pressão e exigência por conta da responsabilidade que é preparar alimento para ser consumido.

Precisamos lembrar que profissionais autônomos também são cozinheiros como pequenos empreendedores que vendem bolos e doces caseiros, quem faz marmitas, e tantos outros pequenos “bicos”. Inúmeras pessoas têm uma renda extra trabalhando com alimentação, o que faz do mercado da gastronomia um campo enorme de oportunidades, mas também não tem grandes regulamentações e nem sindicato da categoria.

Cozinheiros vão do fogão ao chão depois que os pratos são servidos, limpando toda a cozinha e organizando tudo para mais um dia de trabalho. Os cozinheiros, diferente dos Chefs estrelas da TV, não são valorizados, nem financeiramente, nem pelo público consumidor e muito menos pelos seus empregadores. Para se tornar um chefe de cozinha é preciso ter anos de experiência (com ou sem graduação), além de uma boa dose de habilidade para liderar, ter tantas responsabilidades e tarefas e também ser um bom administrador além de conhecimento de cozinha, de culinária e praticamente de todo o restaurante.

Dito isso, é importante destacar que todo Chefe é cozinheiro, mas nem todo o cozinheiro é chefe. Não se engane, cozinheiros não se formam Chefes com cursos rápidos, e nem com uma formação em gastronomia. 

Sobre a hierarquia dentro da cozinha e a colonização europeia das culturas alimentar:

O nome dado ao cargo de cozinheiro chefe “Chef de cozinha” vem da escola de gastronomia francesa. Na década de 1940 um grupo de cozinheiros renomados do país revolucionou a culinária tradicional francesa, marcada por pratos pesados e gordurosos e métodos demorados e difíceis de se preparar. A chamada Nouvelle Cuisine – ou Nova Cozinha, padronizou o serviço de cozinha nomeando e aprimorando receitas e técnicas culinárias que são conhecidas e utilizadas praticamente em todo o mundo. 

Por exemplo: o Molho Bechamel, a Maionese, cortes de ingredientes no formato julienne e brunoise, bouquet garni (um mix de ervas aromáticas), entre outros. Por conta disso esse conhecimento foi elitizado, e num primeiro momento só acessível a homens.

Assim nasceu a chamada alta gastronomia, deixando de lado conhecimentos e saberes populares e se apropriando muitas vezes da invenção de técnicas ancestrais. 

A hierarquia dentro da cozinha separa os cozinheiros numa escala de conhecimento e experiência do iniciante ao chefe da cozinha e suas atribuições como chefe de partida, auxiliar de cozinha, garde manger (cozinha fria, saladas canapés, etc), patisserie (confeiteiro), boulangerie (padeiro), responsável pelas carnes, responsável pelos molhos, e por aí vai. Em países europeus e nos Estados Unidos esse sistema de cozinha é mais comum. Aqui no Brasil essa divisão de trabalho vem crescendo bastante, principalmente com o crescimento e valorização da alta gastronomia. Mas esse serviço pede profissionais qualificados, como mencionei no texto, que quase sempre não são pagos de maneira justa

A alta gastronomia vulgariza e inferioriza culturas alimentares populares, a “mistura”, o feijão com arroz e as técnicas ancestrais ao mesmo tempo que se nutre e apropria ingredientes, saberes e referências alimentares com uma nova roupagem. O meme Raio Gourmetizador, uma piada na internet trás de forma cômica relatos como: “pérolas de tapioca ao vinho tinto” que é a mesma coisa que o Sagu de vinho, uma sobremesa feita com ´fécula de mandioca, vinho tinto, açúcar e especiarias. Além deste exemplo cômico, ingredientes como o milho, a mandioca, carnes, queijos, doces, e ene outras receitas são modificadas, e repaginadas e se tornando inacessíveis para os produtores daqueles mesmo insumo.

Recortes de gênero, raça e classe na cozinha.

Por um acaso, alguns dias antes de escrever este texto assisti o filme Pegando Fogo (Burnt 2015) – Alerta de Spoiler! No filme, o personagem principal é um Chefe de Cozinha em busca da sua 3ª estrela Michellin, Adam Jones, um cozinheiro com problemas com abuso de drogas, álcool e um ego insuportável. Algumas cenas me marcaram muito, como a qual Adam obriga uma cozinheira mulher a pedir desculpa por seus erros e a acusa de ter uma energia horrível que teria estragado todo o trabalho.

Burnt

Em outra cena ele praticamente faz com que ela seja demitida de seu antigo trabalho, porque segundo ele, ali no seu restaurante ela trabalharia melhor. Em vários momentos se fala sobre o salário mínimo oferecido aos cozinheiros e Adam até mesmo oferece que um estagiário pague para trabalhar com ele. De maneira artística e inspirada na realidade de cozinhas clássicas, o filme mostra detalhes e situações importantes na profissão Cozinheiro, detalhes bons e ruins que abordamos aqui.

Como vimos até agora no texto e no comentário sobre o filme, percebemos que Chefes de Cozinha são majoritariamente homens brancos, herdeiros de grandes restaurantes ou grandes hoteleiros, descendentes de europeus, provavelmente fizeram seu treinamento e carreira culinária no exterior, na Europa, na França. Isso significa alta gastronomia. A nós, reles mortais, resta a culinária caseira, feita por mulheres brancas na TV e por mulheres negras nas casas de família. Não só no filme, como em programas culinários, no geral, essa distinção entre culinária caseira e alta gastronomia é de maneira geral comum no dia a dia de uma cozinha.

Quem é a pessoa que mais cozinha na sua casa? Sua mãe, sua avó, suas tias? Salada, legumes e verduras são coisas femininas; carnes, fogão, churrascos, são coisas masculinas.

Num primeiro momento, somente homens eram aceitos em escolas de gastronomia, e ainda hoje é muito comum que o gênero masculino prevaleça em cozinhas de alta gastronomia, tanto que os Chefes e cozinheiros mais prestigiados e respeitados são homens. Em programas de TV sobre gastronomia é comum a maioria dos competidores serem homens, e ainda o machismo e a misoginia são motivos pelos quais poucas mulheres lideram cozinhas. No programa Master Chef (apresentado no país pela rede Bandeirantes) houve um caso explícito de machismo, onde uma das competidoras foi inúmeras vezes desqualificada pelos colegas homens, por vezes suas ideias não eram ouvidas e respeitadas. Outro programa, na rede de streaming Netflix, a série The Chef’s Table, onde em cada episódio um Chef apresenta seu trabalho de uma maneira bem intimista e pessoal. Dos 31 episódios, 10 apresentam mulheres e entre elas os maiores desafios citados são o machismo e o preconceito sobre seu trabalho e a dúvida se serão capazes de comandar uma cozinha ou se vão realmente fazer uma culinária de alta gastronomia. Enquanto isso, os homens demonstram o quanto suas criações culinárias são extrapolações de ego e de sua criatividade.

Assim como comentei sobre a cena do filme, no mercado de trabalho cenas como estas são bem comuns. Inclusive, há campanhas contra casos de violência contra mulher na gastronomia. O perfil no Instagram Basta! é uma plataforma de escuta e acolhimento de profissionais mulheres que sofrem com casos de violência no ambiente de trabalho.

Além das questões de gênero, é preciso dar destaque a questões de raça: quem é a mulher negra na gastronomia?

Eu mesma não posso negar que só me interessei pela gastronomia quando vi o requinte e o glamour dos Chefes de Cozinha, assim eu pude perceber a grandiosidade e importância do cozinhar. O “tiro no pé” foi quando me dei conta que por essa ideia de Chefes de Cozinha são cozinheiros de verdade eu acreditei que profissionais como Cozinheiras escolares – as merendeiras -, cozinheiras que trabalham em pequenos restaurantes, cozinheiros industriais não tinham o mesmo prestígio que Chefes.

Quando entramos em cozinhas profissionais muitas vezes mulheres negras são as profissionais responsáveis pela limpeza, pela louça, pelo trabalho pesado que os estagiários dos cursos de gastronomia não querem fazer. A assistente da Ana Maria Braga é a Maria, uma mulher negra que não sabemos muita coisa, e ela está ali o tempo todo auxiliando a apresentadora . A Chefe Benedita Ricardo, a Benê, foi a primeira mulher a ingressar numa escola de gastronomia no Brasil e a primeira mulher negra. Aos 38 anos ela conseguiu uma bolsa de estudos para o curso de Cozinheiro no Senac Águas de São Pedro em São Paulo, no início da década de 1980. Benedita, antes disso, cozinhava para uma família alemã e num concurso da Revista Claudia foi premiada tornando-se uma cozinheira de prestigio cozinhando para o presidente da época Ernesto Geisel.

Nastácia e Benta

Outro caso que precisamos olhar com atenção é sobre o maior totem da culinária brasileira: o livro de receitas da Dona Benta, personagem da literatura de Monteiro Lobato. Eu mesma já fiz um texto falando sobre o porquê da imagem da Dona Benta – uma mulher branca, letrada, dona de uma fazenda – é referência de culinária se, de acordo com a obra, quem estava na cozinha era Tia Nastácia – a negra cativa, sem estudo, sem conhecimento.

A Dona Benta foi transformada até mesmo em marca de alimentos processados, e, assim, consolidando essa imagem de cozinheira no inconsciente coletivo brasileiro, mesmo que a verdadeira responsável pela preparação das refeições altamente elogiadas seja a Tia Nastácia. Um fato que nos faz questionar onde estão as mulheres negras na gastronomia e porque não somos reconhecidas como Chefes, se quem esteve na cozinha o tempo todo desde a chegada dos colonizadores fomos nós. A Bruna Crioula, na série de lives no instagram #livedaBru, conversou com a Tais Machado: socióloga que falou sobre sua tese de doutorado “Um pé na cozinha”, falando sobre sua pesquisa sobre cozinheiras negras no Brasil. E ela destaca como a branquitude cria barreiras para desqualificar e invisibilizar potências negras, principalmente mulheres. Fica “escuro” que a culinária brasileira foi desenvolvida a partir dos conhecimentos de mulheres negras e esse fato é negado até mesmo por pesquisadores da área. Link da live.

Para finalizar esse textão onde passamos por questões sobre a profissão cozinheiro e as questões de gênero e raça que também estão intrínsecas à profissão e a nossa sociedade, precisamos perceber a importância destes profissionais.

Profissionais da gastronomia, principalmente cozinheiros precisam ser valorizados e respeitados pela importância que tem manipulando alimentos e transformando ingredientes em receitas e pratos que fazem da nossa cultura alimentar mais rica, cheia de histórias, práticas ancestrais e a alquimia física e química de transformar aquele alimento.

Cozinheiros não são só cozinheiros, somos um pouco agricultores, um pouco biólogos, um pouco botânicos, um pouco nutricionistas, um pouco engenheiros, um pouco cientistas, um pouco historiadores, um pouco matemáticos, um pouco médicos, um pouco políticos, um pouco geógrafos, um pouco professores. Pois todas essas especialidades passam pela alimentação. Somos como fio condutor, entre o que é cultivado na terra e servido à mesa; tradutores de algo tão importante nas nossas vidas. Se alimentar, nutrir nosso corpo que é casa do habitar este mundo. Se comer é um ato político, cozinheiros são como deputados e senadores que transformam alimentos em comida, comida em patrimônio, e cultura alimentar em identidade. 

 

Texto por Natália Escouto

Saiba mais em:

Benedita Ricardo | Entrevista Brasil de Fato

Dilemas e desafios para uma infância bem alimentada

Dilemas e desafios para uma infância bem alimentada

Por Bruna de Oliveira

Há dois importantes motivos para celebrar o dia 12 de outubro. Primeiro, pelas lentes da fé temos o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Uma ocasião que não pode ser deixada de lado, considerando que esta é uma santa representada por uma mulher negra. Quantas mulheres negras são base para a manutenção da vida de um tanto de crianças, elas que são o segundo motivo de celebração deste dia: 27,8% da população é composta por mulheres negras, algumas mães outras não, mas todas na extrema margem social seja pela baixa escolaridade, seja pelos altos índices de desemprego somado às baixas quantias de remuneração. A fome e a violência também fazem parte do cotidiano de muitas mulheres negras. É impossível deixar de fazer esta demarcação porque a mulher, em sua maioria, é a pessoa que detém a guarda de uma, duas, três, quem sabe mais crianças.  

Trazendo uma breve reflexão compartilhada no meu perfil no instagram precisamos celebrar o dia das crianças considerando o direito a uma vida digna, isso envolve um universo de fatores, dentre eles a saúde, o emprego e um contexto digno de criação, o que está diretamente associado com o bem estar de mães, avós, tias, dindas responsáveis por cada crianças deste país. Quando olhamos para a saúde das crianças brasileiras a partir das lentes da nutrição, nos entristecemos com a prevalência de casos de sobrepeso e obesidade que afeta aproximadamente 3,1 milhões de crianças menores de 10 anos. A complexidade dessa trama social se intensifica com a pandemia, num contexto de sedentarismo e aumento no consumo de alimentos ultraprocessados.

O sobrepeso e a obesidade são expressões de perfis nutricionais tão prejudiciais quanto os desdobramentos da fome no desenvolvimento de uma criança. Lembrando, que existe um grande contingente de crianças de 0 a 14 anos que estão em situação domiciliar de extrema pobreza e nesses cenários de escassez existem meninas e meninos que vivem a dupla vulnerabilidade de estarem obesos e ainda assim famintos. Caso você se interesse, conversei sobre pobreza e obesidade com a professora Doutora Daniela Sanches Frozi em um dos episódios da série #livedaBru (acesse aqui). Eu sei que este assunto está denso, mas o foco dele são adultos cuidadores/responsáveis pelas crianças.

O ciclo do cuidado infantil deve ser enxergado como um processo de crescimento de forma circular em espiral, este é o movimento padrão da vida no planeta que pode ser aplicada também nesse caso.

As dimensões sociais, culturais, ambientais, sanitários, econômicas e políticas também fazem parte da construção de vida de uma criança. É por isso que precisamos lutar por políticas públicas que beneficiem mulheres, especialmente mulheres negras. Também, precisamos incentivar e dar o suporte necessário para que mães possam amamentar seus filhos e filhas. Este é o primeiro direito de uma crianças, a garantia de acesso livre à amamentação de maneira exclusiva. O leite materno é o melhor alimento para recém  nascidos, até os seis meses de idade, nem água é necessário oferecer à criança. Sem a romantização desta prática, há muitas dificuldades que precisam do apoio profissional da equipe da saúde da família mais próxima do território familiar. Em seguida, após os seis meses de idade, a criança está apta para iniciar sua introdução alimentar com frutas amassadas, vegetais cozidos entre outras preparações que façam parte do hábito alimentar da família.

Penso que até aqui é possível perceber a complexidade que é conduzir e gerenciar uma alimentação saudável para nossas crianças. Justamente por isso, é tão necessário que as famílias tenham acesso a profissionais como nutricionistas que receberam a formação para atuar nesses momentos. Mas, onde estão as nutricionistas na atenção básica? Ou, quem são as famílias que têm recurso financeiro o suficiente para acessar o trabalho de uma nutricionista? Os dilemas para sincronizar as ações e recursos necessários para zelar pelo bem estar de uma criança são enormes. E estamos passando por metade das reflexões que quero trazer aqui. Sabem por quê? Porque misturado nesse caldo que é a introdução alimentar existem problemas estruturais como vimos até aqui, especialmente num ambiente pandêmico e com crise política e econômica; como também, externalidades que contribuem para uma ambiência pouco saudável na vida de pequenos e pequenas.

Estou falando da publicidade de alimentos. As indústrias alimentares estão presentes na nossa vida de forma mais expressiva depois da II Guerra Mundial. Elas estavam presentes na alimentação de soldados americanos durante a guerra e depois deste episódio elas foram procurar outros públicos alvo para a continuidade de sua atuação. E é neste momento que as crianças passam a ser alvo dessas indústrias que prometem praticidade e alimentos fortificados, mas a verdade é que eles são agentes no processo de adoecimento infantil. 

A Publicidade Infantil é a divulgação de mercadorias produtos e serviços, com foco nas crianças pelas empresas como forma de expandir seus lucros; isto é, a publicidade e a propaganda de uma mercadoria ou serviço são planejadas para falar a linguagem das crianças e atrair suas atenções e vontades, tornando-as consumidoras ativas e decisivas na consumação da compra de mercadorias.

Ademais, a publicidade direcionada à criança tem um papel essencial na formação da compreensão infantil sobre objetos e mercadorias, ao internalizar e incorporar valores e atitudes voltados para o consumismo, assim como o faz no adulto. Tal papel influencia nos processos de socialização e educação – especialmente a educação para o consumo – inserindo-se, desse modo, na estruturação da percepção da criança sobre si mesma, sobre os outros e sobre as coisas de seu entorno. As crenças e valores em formação na criança através da publicidade consolidam padrões sociais e estereótipos que valorizam e legitimam quem tem acesso aos bens de consumo e exclui quem não tem e nem pode tê-los. 

Como as crianças são socialmente e individualmente sensíveis e vulneráveis à publicidade, desde cedo, portanto, elas ficam expostas ao tratamento dado como público-alvo consumidor e não como cidadãos em formação, com direitos de proteção e livre de qualquer interferência negativa e indesejável ou violência durante as etapas de seu desenvolvimento enquanto sujeito humano. À vista disso, as empresas que comercializam alimentos e mercadorias destinadas ao público infantil se utilizam de práticas abusivas e persuasivas para assegurar o lucro empresarial.

Por serem consideradas suscetíveis e vulneráveis à publicidade, muitos adultos entendem que a publicidade e a propaganda direcionadas à criança devem ser reguladas cuidadosamente. Diversas são as organizações da sociedade civil e instituições que se empenham na regulamentação e fiscalização da publicidade infantil. Para o Instituto de Defesa do Consumidor e o Conselho Federal de Psicologia, por exemplo, com base no artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor, a publicidade com foco no público infantil é abusiva, porque se vale da deficiência de julgamento da criança, pois esta tem seu intelecto e suas capacidades cognitivas ainda em formação. Assim, a criança não tem desenvolvida a capacidade de analisar criticamente o interesse mercadológico que existe por trás da informação dirigida a ela; portanto, está mais propensa a ser persuadível, influenciando, inclusive, na tomada de decisão dos pais no ato de comprar.

Na legislação brasileira, há vários dispositivos jurídicos-legais que visam a proteção à criança contra a publicidade abusiva, bem como leis que regulamentam a publicidade infantil, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor, a Resolução nº 163/2014 do Conanda, a Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº. 408/2008, dentre outras. A Resolução nº 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, aprovada em março de 2014, por exemplo, considera abusivas a publicidade e a comunicação mercadológica dirigidas à criança, definindo especificamente as práticas abusivas, tal como o uso de linguagem infantil, a presença de celebridades com apelo ao público infantil, de personagens ou apresentadores de programas infantis, dentre outras.

A Organização Mundial da Saúde defende a regulamentação da publicidade de alimentos e, desde 2005, considera a comercialização de alimentos não saudáveis para o público infantil como um fator que contribui para o aumento dos níveis de obesidade e sobrepeso.

Ademais, a OMS ressalta que os governos têm o dever de garantir a tomada de medidas efetivas e eficazes contra a publicidade abusiva. Do mesmo modo, em 2012, a Organização Pan-Americana da saúde enfatizou a importância da regulação da publicidade e propaganda de alimentos não saudáveis direcionadas ao público infantil.

A principal motivação da escrita deste texto foi mostrar que existem circunstâncias estruturais que impedem que as crianças tenham acesso a uma alimentação adequada e saudável para o seu desenvolvimento. São resultados de uma equação desastrosa de má gestão pública e condições de escassez de recursos. Ao contrário do que podemos chamar de “senso comum”, condições de pobreza e/ou pobreza extrema também são ambientes onde a obesidade infantil pode surgir, pelo uso abusivo de alimentos ultraprocessados.

Esses produtos são intencionalmente divulgados para as crianças, que também interferem na escolha de compra de pais, mães e responsáveis. 

Que neste dia das crianças, possamos fortalecer nossas aprendizagens sobre os desafios, dilemas e externalidades que estão presentes no desenvolvimento dos hábitos alimentares das crianças. Uma infância feliz e cheia de potência está intrinsecamente ligada a um padrão alimentar que dê suporte para o crescimento e desenvolvimento pleno. Que a sociedade brasileira tenha condições de alimentar e nutrir o futuro que é presente em cada menino e menina deste território.  

FONTES:

Âmbito Jurídico | https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-67/o-papel-da-televisao-e-da-publicidade-na-formacao-de-criancas-consumidoras/

Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor | https://idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/publicidade-infantil-entenda-quais-so-os-perigos

Publicidade dirigida à criança: violência invisível contra a infância | OLMOS, Ana. Publicidade dirigida à criança: violência invisível contra a infância. Constr. psicopedag.,  São Paulo ,  v. 19, n. 19, p. 34-46,   2011 .   Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-69542011000200003&lng=pt&nrm=iso>. Último acesso em 27 out. 2020.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/eleicoes-2020/noticia/2020-10/negras-sao-28-dos-brasileiros-mas-tem-baixa-participacao-politica

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58810987

Banana: o fruto da musa paradisíaca!

Banana: o fruto da musa paradisíaca!

Com toda a certeza você a comeu, pode até não gostar, provavelmente te ofereceram quando era criança na introdução alimentar. Uma fruta tão rica em nutrientes e tão versátil na culinária tem seus usos nas mais variadas possibilidades como bio fertilizante e até mesmo prato.

Dia 22 de Setembro é o Dia Mundial da Banana, a segunda mais consumida no mundo e também a mais consumida no Brasil. Neste texto vamos compartilhar algumas curiosidades da banana – a Musa Paradisíaca – e adorar esse alimento que é tão importante na alimentação da população brasileira.

Musa paradisíaca L. é o nome científica da fruta e as variedades que mais consumimos são: a Banana Prata, Banana da Terra (Pacova – nome de origem indígena), a Banana Nanica, a Banana Ouro e Banana Maçã. Pode haver alguma mudança de nomenclatura também, aqui no Sul, por exemplo, as mais consumidas são a banana prata que tem tamanho médio e é menos doce, já a banana caturra – em outras regiões conhecida como nanica – é maior (não tão grande como a da terra) e com a textura mais farelenta e mais doce. Além das variedades mais comuns a Banana D´água, a Banana Figo são outras variedades que podemos encontrar com produções menores, principalmente vindas da agricultura familiar e agroecológica, preservando espécies nativas e selvagens.

A origem desta planta é da Ásia, que chegou a África pela expansão Árabe e chegou as Américas pelos portugueses e espanhóis. No período colonial, era a fruta mais consumida tanto por índios e escravos quanto os colonos portugueses e outros europeus. As grandes produções começaram no litoral brasileiro, e aos poucos adentrou o continente. Hoje os maiores produtores são o estado de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, seguidos da Bahia, Pará e Ceará na pesquisa feita pela Pesquisa Agrícola Municipal feita pelo IBGE em 2019. Tamanho é o consumo que apenas 2% da produção não é absorvida pelos consumidores brasileiros.

O que mais me surpreende e a versatilidade de usos, praticamente toda planta pode ser utilizada na alimentação como também em outros setores usando cascas, fibras e folhas para produzir fertilizantes, e até mesmo roupas usando fibras de abacaxi e banana. Podemos consumir a fruta em todos os estágios de maturação, além da casca, o palmito e ainda a flor, também conhecida como coração da bananeira ou mangará. Além a folha é usada para assar alimentos como a pamonha, e o acaçá ou abará da culinária baiana, e serve como prato para aparar e servir algumas refeições.

Confira aqui alguns usos para a Banana e se delicie:

Banana verde: biomassa, ralada no pirão, chips, assada, cozida, na moqueca;
Banana madura, no ponto: natural, esmagada com aveia e sementes, no mingau de aveia, grelhada doce ou salgada, na farofa, na salada, no recheio de bolos, substituindo ovo nas receitas
Banana bem madura: como purê (doce ou salgado), papinhas para bebês, na massa do bolinho de chuva, congelada como base para sorvete, batidas e bebidas cremosas
Casca e Coração: as fibras refogadas podem ser recheio de salgados como empadas, pastéis, quiches, etc. Serve como antepastos, recheios de tortas salgadas, pizzas, etc.

Além do consumo in natura a Banana está muito presente na nossa culinária, está em receitas clássicas como a Moqueca de Banana e ainda o doce antigo Chico Balanceado. É a primeira fruta oferecida aos bebes e é uma das sobremesas mais simples e gostosas como a banana assada com canela. Ainda podemos se lambuzar com a farofa de banana ou uma banana split e claro, servir de base para um sorvete ou batida a base de frutas.

No café da manhã ela é consumida pura, ou ainda cozida, recheando beiju e batida com leite ou com outras frutas. Tem inúmeras versões de bolo como aquele com a banana caramelada ou a banana incorporada na massa! Em refeições como almoço e jantar ele pode estar num ensopado, na própria moqueca, feitas num pirão junto com fubá, inhame ou macaxeira. Assadas servida doce ou salgada, e ainda pode ser frita tanto verde quanto madura, faz até bolinho frito. Tortas das mais gostosas como o Chico Balanceado com banana caramelada, creme de confeiteiro e chantilly e a mais nova sensação nos cafés, a Banoffe, uma torta inglesa com massa podre, doce de leite, caramelo, bananas e chantilly. Ainda é serve de cheio em cucas, na torta flocada e outras delícias. Os doces clássicos são a banana, a banana passa, geleias e schimier, a banana assada com canela e açúcar.

No nordeste e nordeste é mais comum o uso da fruta, além de in natura, em receitas salgadas acompanhando tapioca, farinha de mandioca, em caldos e ensopados, assada e frita, principalmente a banana da terra. No sul e sudeste está mais presente em bolos, doces e compotas com a banana prata e caturra. Minha receita favorita com a banana é com a fruta verde levemente grelhada no café da manhã, usando azeite de dendê e pouquinho de sal. Essa combinação banana + dendê é muito gostosa e faz uma farofa incrível. A Banana verde não tem a doçura tão pronunciada o que combina muito bem nas preparações salgadas.

A seguir compartilho uma receita de Paçoca de Banana, feita com banana, farinha de mandioca e amendoim!

Paçoca com banana da terra

Essa receita é uma adaptação de uma paçoca de carne seca e farinha. As paçocas (como a de amendoim) eram feitas antigamente no pilão, onde eram descascados e moídos grãos, sementes, farinhas, dendê, akará. A tradicional paçoca de carne seca era uma alternativa de dar mais sustância ao povo que vivia na escassez e a mandioca era o principal alimento. Vamos utilizar a banana da terra também tradicional na culinária nordestina, mas pode usar a que você preferir.

Ingredientes: 3 bananas da terra maduras, 4 colheres de sopa de óleo ou manteiga de coco (pode usar outro óleo vegetal que for acessível pra ti), 1 cebola média picada em cubos,1/2 xícara de amendoim torrado e moído, 300g de farinha de mandioca, sal quanto baste.

Modo de preparo: Primeiro asse as bananas com cascas por 30 minutos ou até que a casca fique escura e elas estejam bem macias. Depois de esfriar, descasque e corte as bananas grosseiramente, vai virar paçoca, não precisa cortar perfeitamente. Frite a cebola no óleo e adicione a banana, refogue bem e desligue o fogo. Se tu tiver um pilão, que maravilha, se não tiver tudo bem, eu adaptei: em uma bacia ou até em uma panela mais alta e com uma colher de pão ou ainda aqueles martelos para carne, e até uma copo ou uma taça pode ser útil. Se for no pilão, coloca a mistura de banana e cebola e aos poucos vai acrescentando a farinha de mandioca e o amendoim e socando para misturar tudo. Aos poucos vai ficar na consistência de paçoca, apertado um pouco da massa nas mãos e conseguir formar um bolinho. Na panela pode levar mais tempo, mas vale a pena. O processo é o mesmo, e pode usar mais ou menos farinha, dependendo do tamanho das bananas. No processador de alimentos também pode ser feita. Primeiro, prepare a banana assada e depois frita com a cebola e coloque a mistura no processador. Aos poucos acrescente o amendoim e a farinha que pode ser tanto crua ou torrada. Use a função pulsar, e faço o teste pegando um pouco da massa e amassando até virar uma bolinha. Quando já tiver uma massa homogênea está pronto, pode ser consumida assim mesmo ou ainda assar as bolinhas em formato de paçoca até ficarem douradas.

Texto por Natália Escouto

Saiba mais em:

O básico dos básicos – Banana: O Joio o Trigo
Dia da Banana: Banana.Blog

HUE, Sheila Moura, Delícias do Descobrimento – A Gastronomia Brasileira no Século XVI. Editora Zahar 2009 Rio de Janeiro

CASCUDO, Luis Câmara, Antologia da Alimentação no Brasil. 1ª edição digital, Global Editora 2014 São Paulo

PAIVA, Maria da Conceição. A presença Africana na culinária brasileira: sabores africanos no Brasil. Universidade Federal de Juiz de Fora, Pós Graduação Lato Sensu em História da África 2017

Dinheiro não dá em árvore? | Conheça o Babaçu

Dinheiro não dá em árvore? | Conheça o Babaçu

Presente de forma abundante no nordeste brasileiro, mais especificamente nos encontros entre o Cerrado e a Caatinga, o Babaçu é um tesouro para diversas comunidades tradicionais. Sendo uma presença essencial nas dietas das famílias da região, o coco babaçu também tem sua importância econômica, principalmente relacionados aos seus produtos, como o famoso óleo de coco babaçu.

A produção não se limita apenas ao óleo, mas também faz parte da produção: o azeite, farinha, sabão, sabonete, bolos, bolsas e demais artesanatos produzidos com a fibra do coco babaçu. A produção do babaçu vem de comunidades extrativistas, mais especificamente mulheres que são conhecidas como quebradeiras. Essas têm um papel crucial em todo o ciclo do babaçu, pois elas lutam pela a manutenção e preservação dos babaçuais.

A coleta do babaçu é comunitária. Ao cair das árvores, quando maduros, as quebradeiras recolhem o coco e a partir daí quebram e dividem a castanha e demais produtos para utilização e consumo. Atualmente essa prática tem sido ameaçada (assim como todos os biomas brasileiros) pelo crescimento da monocultura e pecuária. 

Em termos econômicos, o babaçu passou por uma queda de valor de produção devido ao ataque às comunidades tradicionais, bem como o desmatamento dos babaçuais. Outro fator de desvalorização dos produtos de babaçu, são os óleos que são provenientes da monocultura (óleo de soja, girassol, milho…) ou outros óleos que têm preços competitivos no mercado como o azeite de dendê e do coco-da-baía.

Mesmo assim, foi constatado que em 2012 a amêndoa de babaçu ainda constituía o terceiro produto florestal não madeireiro do Brasil, com uma produção com um montante de cerca de R$128 milhões segundo o IBGE (2013).

Atualmente, de acordo com o estudo da ActionAid (2020), estima-se que 300 mil mulheres integram a comunidade de quebradeiras de coco babaçu espalhadas por diferentes territórios dentro do Brasil. 

As quebradeiras se organizam através do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), um movimento que possibilitou a criação de uma cooperativa liderada por essas mulheres, onde elas conseguem fazer o escoamento de seus produtos, bem como lutar pelo direito à terra e ao babaçu.

O babaçu é o dinheiro que dá em árvore mas, para além da simples moeda, é cultura, é tradição, é segurança e soberania alimentar e nutricional de diversas comunidades. 

Babaçu é a riqueza que “dá em árvore”. 

 

FONTES:

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/166977/1/VMG-BABACU-ecoeco17o-submissao-trabalhos-ANAIS.pdf

https://slowfoodbrasil.org/arca_do_gosto/babacu/

https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/pTzRmXNGf5FVsH8WZjwyc5S/?lang=pt

https://actionaid.org.br/noticia/conheca-as-quebradeiras-de-coco-babacu/