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Por Kellen Vieira

A gente sempre fala por aqui que alimentação não é só sobre nutrientes, e que ela contempla aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos., especialmente durante as festas de final do ano, a comida ganha um valor diferenciado, já que passamos por festividades que utilizam como prerrogativa as grandes ceias para unir a família e celebrar o Natal, Kwanzaa e Ano novo! 

Junto com essa época do ano, também temos a autocobrança das resoluções que fizemos no ano anterior e não cumprimos. Várias pessoas têm dentre esses objetivos aquele “projeto verão” que vem se arrastando desde 2005 e até hoje não foi alcançado, não é mesmo? Seria possível conciliar a diversão de uma boa comilança  e atingir esse objetivo? 

Pensando na conta comer x emagrecer, muitas pessoas se sentem culpadas ao comer aquele docinho após o almoço, ou até mesmo de passar da conta nas festas do final do ano. Entretanto, será que estamos mesmo em busca de uma vida saudável ou apenas buscando padronizar nossos corpos? 

Ao normatizar os corpos, tentamos enquadrar esses em padrões estabelecidos, separando-os entre normais e anormais. A padronização de corpos ao longo da história não é linear, variando de acordo com a visão sociológica entre as pessoas e a comida. Em períodos em que ter uma disposição contínua de alimentos era um luxo, ser gordo era símbolo de poder, fartura e riqueza, por exemplo.

Com um maior acesso aos alimentos, principalmente ultraprocessados, e consequentemente um aumento das doenças relacionadas à má alimentação como, diabetes, doenças cardiovasculares e hipertensão, o excesso de gordura corporal vem sendo cada vez mais estigmatizado. Nesse sentido, a concepção do que é considerado ideal à saúde está relacionado ao corpo magro. 

Nesse cenário, surge o debate sobre a aceitação e respeito pelas pessoas que saem desse padrão, em especial pessoas gordas. O primeiro ponto a se pensar é que: todos os corpos são diferentes. Existem pessoas que têm anatomia grande e pequena, assim como a altura, o formato e estilo do nosso corpo é variante. O segundo ponto e o mais polêmico: Saúde.

Sempre que falamos de “alimentação saudável” as imagens que povoam o imaginário popular são de  vida fitness, saladas, barrinhas de cereais e dietas – tudo o que o marketing e o capitalismo gostaria que você comprasse. No entanto, vale lembrar que a “saúde alimentar” está muito mais relacionada ao acesso à alimentação, à diversidade alimentar, ao consumo de alimentos que tenham sido produzidos de maneira sustentável, por exemplo.

Relacionar saúde ao corpo magro nada mais é do que gordofobia, uma vez que o emagrecimento também pode ser um indicativo de doenças. Além disso, simplesmente relacionar problemas de saúde à gordura é minimizar problemas muito mais profundos relacionados à alimentação, afinal uma pessoa que é magra pode ter uma alimentação ruim e possuir colesterol alto, hipertensão e diabetes.

Associar “ser magro” com “ser saudável” e reduzir a nada o conceito de saúde

É inegável a relação entre entre excesso de gordura e doenças crônicas não transmissíveis, mas queremos trazer a análise de que, para além da preocupação com o peso, pensar em alimentação saudável é pensar em todo um sistema alimentar que seja saudável e adequado para as pessoas e para o mundo.

Restringir, vigiar ou culpabilizar corpos por serem como são, só contribui com um sistema que oprime e mascara o real problema que temos que lidar: nós estamos nos alimentando mal.

A ditadura do corpo magro não questiona o fato de estarmos inserides em um sistema onde o fast e ultraprocessado é valorizado, e esse mesmo sistema se adequa a um mercado da “alimentação saudável” através do greenwashing.

Vamos quebrar esse estigma de que peso e saúde são perspectivas associadas e começar a pensar na nossa alimentação não numa perspectiva restritiva, mas sim abrangente, na qual você se permita conhecer, experimentar e apreciar cada refeição. Afinal de contas, comer não é sobre ganhar ou perder peso. Comer é se alimentar!

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