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As PANC no programa Conexão | Novas formas de alimentação

As PANC no programa Conexão | Novas formas de alimentação

Estive – via vídeo chamada – com a Eliane Benício, apresentadora do programa Conexão do Canal Futura conversando sobre as PANC – Plantas Alimentícias Não Convencionais.

Novas formas de alimentação foi o tema do programa que contou com a participação – em estúdio – de outras iniciativas maravilhosas como a Tatiana Dutra Perez, fundadora da comunidade Comida da Gente, que existe a 4 anos! =)

O programa foi ao ar no dia 09 de março e está disponível por meio deste link.

A proposta do programa, segunda a editoria, foi apresentar as novas formas de alimentação, incluindo dietas inovadoras, estilo de vida moderno, e principalmente, o “Wellness” ou “Bem-Estar”, que chegam a gerar mais de 16 milhões de posts nas redes sociais.

O Conexão é um espaço dedicado a entrevistas com foco na prestação de serviços e na análise crítica e contextualizada de assuntos de interesse público, parte da agenda nacional e das principais discussões do universo digital.

Dicas de ouro para quem busca alimentos “diferentões”.

Dicas de ouro para quem busca alimentos “diferentões”.

Plantas Alimentícias Não Convencionais | Dicas de ouro da Bru! Você já parou para pensar que existe comida para além dos espaços onde as compramos? Você sabia que comemos menos de 1% das 30 mil possibilidades alimentares que temos pelo mundo? Onde estão os outros 99% de alimentos no mundo? Então, elas estão pelas ruas, praças e ruelas das cidades disfarçadas de mato ou nas hortas e espaços de produção agrícolas intituladas erva daninha ou inço. Há muito o que conhecer, atualmente um conceito muito trabalhado tem sido o das Plantas Alimentícias Não Convencionais, as PANC! PANC é um termo usado para categorizar muitos tipos de plantas e suas respectivas partes com alguma funcionalidade alimentar para o ser humano. Serralha, beldroega, trapoeraba, picão branco, mangará, dente de leão, caruru, celósia, espinafre indiano, malvavisco, ora pro nóbis são exemplos desses recursos alimentares que abrem um universo de possibilidade para diferentes sabores na nossa alimentação. As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) estão ganhando a boca do povo! Dos lugares mais inusitados, estão aparecendo em programas de televisão, revistas de grande circulação, textos em sites e blogs e vlogs como o que está no canal do PQN?! Eu já escrevi um texto fazendo um resumão sobre elas. Hoje eu quero compartilhar algumas dicas práticas para você se sentir mais seguro na hora de reconhecer, coletar ou plantar e cozinhar essas lindas! =) Dica 1 | Não tenha medo de nomes científicos Para saber se uma planta é alimentícia ou não você precisa investir tempo estudando as características de folhas, frutos, flores, sementes, caule. Memorizar não somente os nomes populares como também seu nome científico é importante para não confundir espécies que podem ser parecidas mas não iguais. Existem gêneros ou famílias de plantas que possuem espécies comestíveis e outras tóxicas, é sempre bom estar seguro para reconhecer um planta para consumir. Uma mesma planta pode ter vários nomes populares, ou, um nome popular pode servir para mais de uma planta. Um exemplo é a Major Gomes, esse é um nome popular (também é chamada de Maria Gorda ou Beldroegão ou Cariru ou Bênção de Deus….) para pelo menos 2 espécies diferentes, a Talinum paniculatum e a Talinum triangulare.  
Talinum triangulare

Talinum triangulare

Talinum paniculatum

Talinum paniculatum

  No início você pode ficar inseguro em reconhecê-las, mas isso diminui com o tempo e, acredite, nossa mente tem a capacidade de armazenar muitas informações. Desbrave as possibilidades em aprender mais sobre botânica e taxonomia (os amigos e amigas biólogos agradecem!). Quer links legais para saber como estudar as estruturas das PANC e seus nomes científicos? Dica 2 | Onde posso encontrar? Já existem muitas feiras agroecológicas onde agricultores e agricultoras familiares comercializam esses alimentos. Também têm horta comunitárias onde elas são cultivadas ou nascem espontaneamente por animais polinizadores. Essas são boas formas de conhecer plantas novas sem os riscos de identificar errado ou coletar em lugar insalubre (com a presença de cocô ou xixi alheios, microrganismos de esgoto ou excesso de poluição dos carros em grandes vias).
  • Você pode saber se existe uma feira perto de você no Mapa de Feiras Orgânicas produzido pelo IDEC. =)
  • Existe um mapa colaborativo que você pode identificar o local e a PANC que você encontrou para outras pessoas, o nome desse aplicativo é Ka’a-eté. Só fazer o cadastro, já tem vários “pins” indicando lugares em que queridezas sinalizaram a existência dessas plantas.
Dica 3 | Na dúvida não coma! Não coma nada que você não tenha certeza que é comestível! Meu pai fala que tudo é comestível uma vez na vida pelo menos. Brincadeiras a parte, existem plantas tóxicas que precisamos evitar ingerir obviamente, como também, existem aquelas que precisam passar por algum procedimento prévio de preparo para serem consumidas. Isso não é um privilégio PANC, lembremos de alimentos “comuns” como o feijão que deixamos de molho e precisamos cozinhar por muito tempo ou do espinafre que recomenda-se consumir sempre refogado ou cozido. Por isso que a dica 1 é tão importante! Dica 4 | Na dúvida, cozinhe! Se você sabe que algo é comestível mas nunca comeu, prefira consumir em pouca quantidade e depois de refogar, fritar, cozinhar de maneira geral. Ninguém sabe algo que possa ter no alimento que nos causa alguma reação. Parcimônia e paciência nos ajudam a comer cada vez mais alimentos novos com segurança e tranquilidade. Quer fazer receitas com PANC?
  • O livro Mais que Receitas é uma publicação do projeto Ideias Na Mesa e tem uma sessão dedicada às PANC;
  • Tem um achado antigão de receitas PANC nesse link aqui.
Posso dar um conselho? D-E-S-B-R-A-V-E! Se você tem medo de reconhecer as PANC sozinho, junte um grupo de amigos e caminhe por aí. Se você não quer coletar em lugares públicos porque tem medo de contaminação, vá às feiras e converse com agricultores e agricultoras para eles e elas te ajudarem. Se você tem medo de se queimar ou fazer algum processo errado na corrida, corra para a casa da avó e relembre com ela as receitas que ela fazia e/ou ainda faz mas poucas pessoas apreciam. Você não precisa ser refém das gôndolas do supermercado, você não precisa consumir apenas o que está envolvido numa embalagem plástica colorida. Existe comida em todo o lugar, basta alinharmos nosso olhar com a bela diversidade da natureza! Eu sou suspeita para falar porque sou apaixonada por essa temática. Falar em agrobiodiversidade é falar numa imensidão de possibilidade, é falar de emancipação humana e é falar sobre respeito a natureza que somos nós. Esse não será o último texto que escrever sobre isso e você também pode acompanhar meus experimentos culinários pelo meu perfil no Instagram ou pela página do projeto que faço parte chamado ReFazenda. É sempre um prazer compartilhar saberes e sabores por aí, espero que essas dicas ajudem na sua aproximação nesse assunto que é muito amor! <3 Para saber mais acesse aqui.
Texto escrito para o site do PorQueNão? – Mídia Interdependente
Um resumão sobre as PANC

Um resumão sobre as PANC

Esse texto estava guardadinho na gaveta (mentira, na nuvem! kkkkk) aguardando um momento oportuno para ser publicado. =) Foi o primeiro texto que escrevi com um grande amigo, Guilherme Raniere que é meu amado “guru” PANC. Gestor Ambiental, também está na vida de mestrado como eu e é dono do blog Matos de Comer. Esperamos que apreciem esse resumão que vai ajudar iniciantes nas aprendizagens sobre as PANC. <3

Começando pelo começo

Elas podem estar em qualquer lugar: calçadas de ruas, pelas praças, ruelas, rachas de muros, canteiros de estacionamento ou terrenos baldios. Você passa por elas e nem as percebe, contudo, elas poderiam estar na sua geladeira compondo as opções vegetais das suas refeições!

Afinal, será que consumimos todas as plantas que temos à disposição, pensando na enorme biodiversidade alimentar que nosso país contém? Quando falamos sobre biodiversidade, pensamos em todas as plantas comestíveis que existem, sejam folhas para saladas, frutos saborosos, sementes, castanhas, cereais, ou ainda plantas produtoras de essências, de óleos comestíveis, de açúcares e até mesmo de seivas potáveis.

Para essa biodiversidade alimentar que poderíamos utilizar mas não utilizamos, há um termo bastante usado desde 2007, PANC – plantas alimentícias não convencionais. O termo “alimentícias” entra com um sentido diferente de “comestíveis”, porque comestível é tudo aquilo que consumimos diretamente, enquanto alimentícias são coisas que derivam em alimentos. Por exemplo, plantas que dão origem a óleos, farinhas, essências, açúcares ou chás não são necessariamente comestíveis in natura, mas consumimos derivados delas.

Quando usamos o termo planas comestíveis ou PANC nos referimos a plantas ou partes de plantas que entraram em desuso na alimentação das populações por inúmeros fatores, principalmente por não serem produzidas com o fim de comercialização em grande escala. Dessa forma, estamos nos referindo a plantas, muitas vezes, difíceis de serem encontradas em um mercado ou feira, mas que podem ser adquiridas em caminhadas, parques e até mesmo diretamente com o produtor. Já pensou colher sua salada no caminho de casa?

Temos partes de plantas conhecidas, como as folhas da beterraba, da batata doce e da cenoura, mas ainda a banana verde, que rende polpa e farinha, o mamão verde, consumo como chuchu, e até mesmo os brotos da abóbora e do chuchuzeiro, consumidos como couve ou espinafre. Porém, existem muitas plantas que são pouco conhecidas ou consumidas apenas em certas regiões, como o mangarito, a taioba, o ora-pro-nobis, o ariá, a bertalha e a serralha.

 

Plantas ruderais

Muitas dessas plantas por fim, são chamadas ruderais ou espontâneas, ou seja, são aquelas que surgem sem serem cultivadas, trazidas pelo solo, pela chuva, pelos pássaros ou mesmo por outros humanos. Muitas dessas plantas que surgem em jardins calçadas e plantações e são consideradas daninhas ou matos são, na verdade, plantas comestíveis, nutritivas e deliciosas, que poderíamos consumir, mas jogamos fora. Para facilitar o entendimento do termo ruderais ou espontâneas, pense o seguinte: você já viu um pé de alface nascendo sozinho, sem ter sido semeado? Um pé de couve nascendo no meio da rua? Provavelmente nunca, né? Isso porque são plantas que dependem do homem e de condições específicas para se desenvolverem. Já esses matos comestíveis, não, nascem em qualquer lugar e de forma espontânea.

Essa nomenclatura de “ruderais” refere-se a espécies adaptadas a muitos ambientes,  apresentando capacidade de crescer em condições adversas. Desta forma, pode-se pensar que muitas plantas comestíveis são ruderais; entretanto, nem toda a ruderal é comestível, havendo muitas ruderais não comestíveis e até mesmo tóxicas.

As plantas comestíveis ruderais são plantas encontradas em diversos locais devido a sua reprodução espontânea e grande adaptação. Por essa capacidade que as elas possuem de crescer em condições adversas, são consideradas pelos agricultores como tolerantes a estresses e mais resistentes à seca e a solos pobres, ajudando os agricultores a diversificar sua produção e pensar em espécies mais resistentes em relação aos riscos das alterações climáticas e possível perda da produtividade. Em último lugar, mas não menos importante, destacam-se suas potencialidades nutricionais! Conforme estudos bioquímicos indicam, muitas dessas plantas apresentam teores de nutrientes, como vitaminas e minerais, muito superiores aos das plantas comestíveis disponíveis.

 

Diferentes nomenclaturas

No mundo, desde o final dos anos 1990, autores como Eyzaguirre et al. (1999) e IPGRI (1996), utilizavam termos como espécies subutilizadas e espécies negligenciadas (NUS – Neglect and Underutilized Species). NUS é uma expressão abrangente, podendo incluir qualquer animal ou vegetal que seja comestível. A Bioversity International em uma nota informativa menciona que NUS são “também conhecidas como culturas menores ou ‘órfãs’, que podem ajudar a lidar com problemas globais tais como a redução da fome e da pobreza, e as alterações climáticas” (tradução nossa).

No mundo, existem ainda outras nomenclaturas, como por exemplo “edible weeds” (matos comestíveis), “unconventional food plants” (plantas alimentícias não-convencionais), “quelites” (termo genérico para “folhas comestíveis silvestres”), “wild food plants” (plantas comestíveis não-cultivadas) e “malezas comestibles” (daninhas comestíveis). Dessa forma, existem muitas nomenclaturas aceitas internacionalmente, e PANC é uma delas, mais comum no Brasil.

O termo e seu acrônimo, PANC, foram criados por um pesquisador brasileiro em 2007, unificando diversos termos que se referiam à mesma categoria de plantas. Essas plantas são, por definição, “plantas que possuem uma ou mais das categorias de uso alimentício mesmo que não sejam comuns, não sejam corriqueiras, não sejam do dia a dia de grande parte da população de uma região, de um país”.  Contempla, assim, “todas as plantas que tem uma ou mais partes ou porções que pode(m) ser consumida(s) na alimentação humana, sendo elas exóticas, nativas, silvestres, espontâneas ou cultivadas”.

Em função dessa ampla abrangência conceitual, o critério para considerar uma PANC é muito subjetivo: vegetais em sua maioria de reprodução espontânea e que não exigem esforços para seu cultivo, não estão inseridas na cadeia produtiva e não apresentam interesse comercial às empresas de sementes, fertilizantes ou agroquímicos – é o que nos orienta o Manual de hortaliças não convencionais, elaborado em 2010 pelo Ministério da Agricultura. Vale lembrar que, caso uma espécie passe a ser produzida, comercializada e conhecida pela população, passando a ser tão comum como a banana, a alface, o feijão ou a cebola, ela deixa de ser considerada uma planta não convencional, deixando de ser chamada de PANC para ser chamada de espécie convencional. Isso é ruim? Não, isso é ótimo, significando que muitas pessoas tem acesso a ela e que ela está finalmente chegando à mesa dos brasileiros.

 

Pra fechar a prosa

Estamos falando de muitas, muitas espécies! Na realidade, estamos falando de tudo aquilo que é comestível, mas não está a venda. Existem algumas iniciativas que contribuem para que elas voltem a ser conhecidas e consumidas já que estas plantas trazem muitos benefícios para a saúde das pessoas e podem ser preparadas de diversas formas. Muito mais que uma tendência gastronômica, as PANC também podem ser uma ação estratégica para complementação alimentar de pessoas que ainda hoje não tem acesso contínuo e permanente a alimentos de qualidade e que fazem bem à saúde. Uma saída para transpor a fome, uma saída para inclusão social por meio de geração de trabalho e renda.

 

Espero que com a sessão Tudo Mato eu possa te ajudar a  reconhecer algumas delas, conhecer um pouco da história delas na alimentação humanas e também saber segredinhos de como prepará-las. Tudo isso para provar que outra alimentação é possível e não somente isso, para mostrar que alternativas de combate as fomes do mundo são possíveis com o cultivo e consumo dessas lindezas!  Se você leu até aqui, não custa nada compartilhar esse texto, né? Conte para todo mundo sobre essa novidade revolucionária de tornar o mundo mais nutrido, solidário e sustentável! 🙂

Bruna PANC – Como tudo começou.

Bruna PANC – Como tudo começou.

Minha aproximação com as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC)  iniciou em meados da graduação na disciplina de Alimentos e Ambiente no ano de 2011 com uma professora que admiro muito, Signorá Konrad. O assunto não era difundido como hoje. As referências que eu tinha eram as publicações compartilhadas pela professora, os trabalhos de conclusão de curso que ela orientava na faculdade e as publicações do professor Valdely Kinupp, na época, sua tese de doutorado e um resumo expandido em um evento científico.

Claro, já existiam algumas referências internacionais, que referiam-se às PANC como NUS – Neglected and Underutilized Species (Espécies negligências e subutilizadas). Essa nomenclatura internacional era a adotada pela professora Sig nas aulas, ela apresentava uma abordagem político social que contemplava muito minhas motivações para ter ingressado na nutrição: o combate à fome e a mitigação da pobreza.

As PANC despertaram em mim um renovo para seguir na graduação e querer ser nutricionista. Iniciei um trabalho de educação alimentar e nutricional na ONG que trabalhava na Ilha das Flores, no município de Porto Alegre. Por cerca de 12 meses, fiz algumas trilhas de reconhecimento das PANC que eu conhecia com as crianças que participavam das atividades de contra turno oferecidas pela instituição; Busquei ajuda para iniciar e prospectar uma horta comunitária com cultivo dessas plantas no terreno do prédio; Fiz uma articulação com um grupo de extensão da UFRGS que trabalhava também com as PANC, ervas medicinais e fitoterápicos na Ilha da Pintada, também no bairro Arquipélogo, Porto Alegre/RS. Em parceria com esse grupo, que era supervisionado pela professora Gema, realizamos uma feira na sede da associação dos pescadores da região, levamos as PANC e trabalhos artesanais desenvolvidos pelas mães que participavam com seus filhos nos projetos da ONG.

Na universidade, compunha o escopo de práticas das disciplinas Alimentos e Ambiente e Tópicos Avançados a realização de feiras de trocas de sementes crioulas e biodiversidade. Participei ativamente dessas tarefas porque realmente me sentia contemplada pela abordagem trazida em relação a esses alimentos. As aprendizagens nas aulas somadas ao território que trabalhei contribuíram bastante para consolidar em mim que trabalhar com as PANC era (e é!) uma estratégia eficaz de combater a fome e a pobreza, pelo menos, ajudar em suas reduções.

O tempo passou e, em setembro de 2014, quando fui apresentada ao desafio internacional Thought For Food (TFF Challenge), que tem como objetivo estimular o empreendedorismo jovem na temática de segurança alimentar de forma a combater a fome do mundo, desenvolvendo projetos que busquem solucionar a questão: “Como alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050?”, reconhecendo os problemas hoje vividos no setor de alimentos. Não pensei duas vezes: as PANC eram (e são!) uma solução possível. Em dezembro do mesmo ano nascia o Other Food, projeto criado para participação neste desafio, com o objetivo de repopularizar as PANC tanto na produção quanto no consumo para combater as fomes do mundo. Sim, nós (porque o projeto não foi concebido apenas por mim) acreditamos que existem múltiplas expressões de fomes no mundo e com o endossamento de referências científicas, destacamos as fomes crônica e oculta como problemas societários que precisam ser transpostos.

Para felicidade do grupo, tivemos grandes conquistas enquanto movimento. Apesar de não ficarmos entre as equipes finalistas no desafio, foi-nos dada a oportunidade de participar do evento Global Summit Thought For Food em Portugal. Essa conferência era composta por workshops na temática de segurança alimentar e a etapa final do desafio com apresentação dos dez projeto finalistas onde os três melhores recebem prêmio em dinheiro para dar continuidade à iniciativa. Se existia dúvida que o Other Food continuaria, depois dessa experiência não havia mais nenhum resquício, nosso projeto seria algo para a vida.

2014 foi um ano importante para as PANC, houve o lançamento do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas, do professor Valdely Kinupp em parceria com o Harry Lorenzi da editora Plantarum. O lançamento ocorreu no final deste ano, quase que paralelo aos nossos (Other Food) primeiros passos nessa vida “pancqueira”. O livro, fruto de quase dez anos de pesquisa sobre as plantas, apresenta suas características morfológicas, composição nutricional, outros tópicos importantes de localização e forma de preparado.

Quando voltamos da experiência da conferência, os holofotes da universidade que estudávamos estavam voltados para o nosso projeto. Inicialmente, foi ótimo, precisávamos de visibilidade para encontrar parceiros que pudessem nos ajudar nas etapas para realização do projeto. Com o tempo, percebemos que era mais difícil do que parecia, trabalhar com desenvolvimento comunitário com o objetivo de combater fomes nos territórios onde o Other poderia estar presente sem receber o estigma de terceiro setor. A verdade era que nosso projeto possuía ambiciosos objetivos e ingenuidade nos atores que se propunham a executá-los. Mesmo em dificuldades, o projeto segue acontecendo por meio de atividades em escolas, oficinas culinárias, rodas de conversa e comercialização de produtos. Em outubro deste ano, o Other completa 3 anos de muitas aprendizagens e realizações.

Entre 2015 e 2016, ajudei no desenvolvimento de uma plataforma online para mapeamento das PANC. A inciativa, chamada Ka’ae´té, significa “mato verdadeiro” em Guarani e tem por missão (além do próprio mapeamento) criar uma base de conhecimento livre sobre plantas alimentícias não convencionais que incentive e resgate a cultura de consumo desses alimentos como uma estratégia para o combate a fome por meio de uma rede de conexão entre produtores e consumidores numa dinâmica de economia social e criativa.

Atualmente moro em Brasília e continuo esse trabalho de repopularização dessas plantas. Fui gentilmente acolhida em uma iniciativa local chamada ReFazenda, empreendimento criado por três mulheres do curso de Ciências Ambientais da UnB. Não somente “outra alimentação é possível” (slogan do Other Food), como “resgatando tradições, colhendo diversidade” passou a ser meu mais novo lema para as práticas de divulgação e formação coletiva sobre as PANC. Outra oportunidade maravilhosa que estou começando a viver são as aulas no mestrado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural na Universidade de Brasília no campi de Planaltina. Pra mim está sendo duplamente significativo cursar essa pós graduação, uma porque desejo seguir na área da pesquisa e/ou ser docente em alguma universidade que aceite minhas maluquices; duas, porque seguirei nesse caminho de descobertas destas plantas na minha dissertação, com o foco nos usos e saberes culinários das PANC em território quilombola. Essa é um vislumbre inicial da escrita do projeto, com mais tempo poderei abordar melhor as questões e inquietações dessa pesquisa.

 

E esse é um breve resumo da minha história com essas queridas! Essa temática é tão especial pra mim que tem uma categoria própria de conteúdo no site, “Tudo Mato!”. Pra você que está lendo pela primeira vez e não entendeu muita coisa dessa sigla tão mencionada ao longo texto, não se preocupe que no decorrer das postagens eu explico tudo. Esse registro apresentou seis anos de descobertas minhas e tenho certeza que há ainda muito mais para aprender! Sigamos! <3