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Alimentação vegana e sociedade com Bruna Crioula: perspectivas para o futuro

Alimentação vegana e sociedade com Bruna Crioula: perspectivas para o futuro

Veganismo pode ser popular e acessível para toda a população? Pois a matéria escrita pela jornalista Marcella Sobral Elias para O Globo publicada no dia 26 de junho de 2022 mostra que sim. Foram entrevistadas diferentes iniciativas que defendem a bandeira de um veganismo popular, barato e gostoso para toda a população. A nutricionista ecológica Bruna Crioula foi uma das entrevistadas. Você pode acessar a matéria aqui. Além das questões apresentadas na reportagem, outros pontos foram discutidos por Bruna. Nesta publicação você acessa toda a entrevista concedida por ela para a Marcella.

Boa leitura!

Equipe Crioula

Por Marcella Sobral Elias

Marcella Sobral Elias: Como você se apresentaria?

Bruna Crioula: Mulher africana em diáspora no Brasil. Ecossocialista. Nutricionista de formação, comunicadora de coração. Bruna Crioula (@brunacrioula) nas redes sociais. Coletora urbana e pesquisadora alimentar. Mestranda em Ciências Sociais, fundadora e coordenadora geral da Crioula | Curadoria Alimentar.

ME: Comer é um ato político e cultural?

BC: Sim, comer é um ato sistêmico com múltiplas faces. Comer é um ato social e biológico que se faz presente em diferentes dimensões da vida humana. É cultura porque é reflexo da ação dos seres humanos no ambiente, resultado de um trabalho reflexivo, cognitivo e prático de transformar natureza em utensílios culinários, receitas e tudo que compõem nossos ambientes alimentares. É cultura porque possui acúmulo de memória, histórias que criam narrativas que atravessam gerações. É política porque pressupõem troca e sociabilidade; é política porque mobiliza ações individuais e coletivas de orquestrar diferentes fluxos e processos para alimentar e nutrir não somente uma pessoa, mas uma comunidade inteira.

Comer é político porque é um ato estruturante na organização de sociedades historicamente. Cultura, política, economia, ecologia, ancestralidade são todas perspectivas diferentes pelas quais podemos ler e compreender o ato de comer.

ME: O que precisamos mudar no rumo da nossa alimentação enquanto sociedade?

BC: Pra essa pergunta eu lanço mão da afirmação: sou pessimista nas ideias e otimista nas ações. Para mudarmos os rumos da nossa alimentação precisamos de uma profunda transformação no nosso sistema político-econômico hegemônico. Os valores e princípios que regem o capitalismo são as bases materiais para a construção dos sistemas alimentares modernos que geram prejuízos para a saúde humana e ambiental, além de também serem atravessados pelas mazelas geradas das assimetrias, desigualdades e racismos entranhados em nossa sociedade. A lógica das indústrias de alimentos, das matrizes produtivas, das dinâmicas de comercialização de alimentos precisam estar orientados a partir de outras perspectivas de vida. Mudanças individuais por meio do consumo não são movimentos suficientes para alterarmos as formas com que os sistemas alimentares se concretizam na realidade das populações. Seria bastante leviano da minha parte afirmar o contrário. Ainda assim, é em meio ao caos instaurado pelo agronegócio, as indústrias de alimentos e a grande mídia com suas influenciadoras digitais que coexistem caminhos revolucionários de mudança. Esses caminhos são abertos pelos movimentos de agricultura urbana, pelas lutas dos povos e comunidades tradicionais pela garantia dos seus modos de vida, pelos movimentos de reforma agrária, pelas cozinhas e hortas comunitárias, seguindo pelas feiras agroecológicas e comunidades que sustentam a agricultura. A pavimentação dessas mobilizações da sociedade civil precisa ser realizada com políticas públicas que garantam a soberania e segurança alimentar e nutricional, apoio e suporte à agricultura familiar e taxação e regulamentação de agrotóxicos e outras tecnologias associadas ao agronegócio.

Pensar na alimentação vai muito além do que colocamos no nosso prato e mudanças na dieta de cada um não mudarão os rumos. Precisamos de rupturas estruturais.

ME: Ainda existe muito preconceito em relação a uma dieta vegana? Um ponto que sempre é falado é sobre crianças veganas. É possível absorver todas as necessidades de uma pessoa em idade de crescimento? Como?

BC: Existem estigmas associados não somente a uma dieta vegetariana estrita, mas a todo o movimento político associado ao antiespecismo. Pra mim, uma dieta vegana não deve ser encarada como sinônimo de uma alimentação saudável. Saúde e bem estar no tempo em que vivemos é considerar aspectos e parâmetros que fazem bem às pessoas e ao planeta.

Excluir animais da nossa dieta cotidiana não traz qualquer prejuízo às nossas demandas nutricionais independente da fase da vida. O que é necessário considerar, é que uma dieta à base de plantas precisa ser diversificada, deve ser equilibrada do ponto de vista da qualidade e quantidade.

Vegetais possuem todos os micro e macronutrientes para compor uma dieta equilibrada, também existem algas e fungos para complementar nossas refeições. Buscar diversidade é ir além do que as gôndolas dos supermercados nos oferecem, especialmente alimentos ultraprocessados. Evitar ao máximo alimentos industrializados, ainda que tenha selo “vegan”. Com o auxílio de nutricionistas ambientalmente conscientes é muito possível compor um plano alimentar biodiverso que supra todas as nossas necessidades fisiológicas.

Comida de verdade é arroz, feijão, batatas, mandioca, amendoim, milho, favas, folhas, frutas, sementes. Comida de verdade é que preparamos de maneira doméstica, comida de vó vinda da terra e produzida de maneira agroecológica.

ME: Até pouco tempo atrás, as referências de influenciadores veganos na internet era quase toda de pessoas de alto poder aquisitivo. Esse cenário está mudando? Quem são os principais atores dessa mudança? Alguém inspirador no Rio de Janeiro?

 
BC: A internet é um espaço dinâmico e diverso, existem muitas pessoas mostrando para o mundo suas visões de mundo e inspirando pessoas. Ainda que existam influenciadores/as digitais periféricos, favelados, pretos, mulheres – que são os principais atores que reivindicam e vivem o veganismo popular – em muitos casos, esses perfis não tem muita audiência quando comparados as influenciadoras e artistas veganas liberais. É preciso muito compromisso político para manter um perfil em qualquer rede social de maneira voluntária, também, é desafiador monetizar esse trabalho por toda carga política associada que muitas pessoas e marcas não tem interesse. Mesmo assim, há bons exemplos que me inspiram nesse segmento, no RJ indico a Thallita Flor @thallitaxavier e Caroline Silva @cozinhaeginga – mulheres pretas antiespecistas com trajetórias inspiradoras sobre alimentação à base de plantas direcionada a população preta. Outro perfil do RJ que incentivo muito que seja acompanhado é do filósofo e professor Coelho no perfil @vegetalvermelho para quem deseja aprender e melhorar em aprendizagens coerentes sobre veganismo popular.

ME: Qual a importância desse movimento? Como ele pode melhorar a nossa vida?

BC: O antiespecismo contido no veganismo popular é um instrumento de transformação da sociedade. Por meio dessa tática, não somente há melhoria nas nossas vidas individualmente falando, os resultados da ampliação do veganismo popular na sociedade significam melhorias estruturais na vida de animais humanos e não humanos e de toda a natureza. 

ME: Uma dica para quem quer fazer essa mudança de vida?

Veganismo não é dieta, tampouco uma filosofia de vida. Veganismo é um movimento político de transformação da sociedade. Logo, minha principal dica é que as pessoas busquem informações que libertem suas mentes de uma visão liberal e restrita do que significa ser vegano. Eu tenho um episódio de podcast falando sobre isso, muitas vezes somos mais veganos do que pensamos, só precisamos olhar para o veganismo da maneira correta. Nesta publicação eu falo sobre o episódio no quadro Noz Comunica do podcast Noz da Nutrição.

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Culpa ao comer

Culpa ao comer

Por Kellen Vieira

A gente sempre fala por aqui que alimentação não é só sobre nutrientes, e que ela contempla aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos., especialmente durante as festas de final do ano, a comida ganha um valor diferenciado, já que passamos por festividades que utilizam como prerrogativa as grandes ceias para unir a família e celebrar o Natal, Kwanzaa e Ano novo! 

Junto com essa época do ano, também temos a autocobrança das resoluções que fizemos no ano anterior e não cumprimos. Várias pessoas têm dentre esses objetivos aquele “projeto verão” que vem se arrastando desde 2005 e até hoje não foi alcançado, não é mesmo? Seria possível conciliar a diversão de uma boa comilança  e atingir esse objetivo? 

Pensando na conta comer x emagrecer, muitas pessoas se sentem culpadas ao comer aquele docinho após o almoço, ou até mesmo de passar da conta nas festas do final do ano. Entretanto, será que estamos mesmo em busca de uma vida saudável ou apenas buscando padronizar nossos corpos? 

Ao normatizar os corpos, tentamos enquadrar esses em padrões estabelecidos, separando-os entre normais e anormais. A padronização de corpos ao longo da história não é linear, variando de acordo com a visão sociológica entre as pessoas e a comida. Em períodos em que ter uma disposição contínua de alimentos era um luxo, ser gordo era símbolo de poder, fartura e riqueza, por exemplo.

Com um maior acesso aos alimentos, principalmente ultraprocessados, e consequentemente um aumento das doenças relacionadas à má alimentação como, diabetes, doenças cardiovasculares e hipertensão, o excesso de gordura corporal vem sendo cada vez mais estigmatizado. Nesse sentido, a concepção do que é considerado ideal à saúde está relacionado ao corpo magro. 

Nesse cenário, surge o debate sobre a aceitação e respeito pelas pessoas que saem desse padrão, em especial pessoas gordas. O primeiro ponto a se pensar é que: todos os corpos são diferentes. Existem pessoas que têm anatomia grande e pequena, assim como a altura, o formato e estilo do nosso corpo é variante. O segundo ponto e o mais polêmico: Saúde.

Sempre que falamos de “alimentação saudável” as imagens que povoam o imaginário popular são de  vida fitness, saladas, barrinhas de cereais e dietas – tudo o que o marketing e o capitalismo gostaria que você comprasse. No entanto, vale lembrar que a “saúde alimentar” está muito mais relacionada ao acesso à alimentação, à diversidade alimentar, ao consumo de alimentos que tenham sido produzidos de maneira sustentável, por exemplo.

Relacionar saúde ao corpo magro nada mais é do que gordofobia, uma vez que o emagrecimento também pode ser um indicativo de doenças. Além disso, simplesmente relacionar problemas de saúde à gordura é minimizar problemas muito mais profundos relacionados à alimentação, afinal uma pessoa que é magra pode ter uma alimentação ruim e possuir colesterol alto, hipertensão e diabetes.

Associar “ser magro” com “ser saudável” e reduzir a nada o conceito de saúde

É inegável a relação entre entre excesso de gordura e doenças crônicas não transmissíveis, mas queremos trazer a análise de que, para além da preocupação com o peso, pensar em alimentação saudável é pensar em todo um sistema alimentar que seja saudável e adequado para as pessoas e para o mundo.

Restringir, vigiar ou culpabilizar corpos por serem como são, só contribui com um sistema que oprime e mascara o real problema que temos que lidar: nós estamos nos alimentando mal.

A ditadura do corpo magro não questiona o fato de estarmos inserides em um sistema onde o fast e ultraprocessado é valorizado, e esse mesmo sistema se adequa a um mercado da “alimentação saudável” através do greenwashing.

Vamos quebrar esse estigma de que peso e saúde são perspectivas associadas e começar a pensar na nossa alimentação não numa perspectiva restritiva, mas sim abrangente, na qual você se permita conhecer, experimentar e apreciar cada refeição. Afinal de contas, comer não é sobre ganhar ou perder peso. Comer é se alimentar!

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DHUZATI: descolonizando o paladar para garantir autonomia alimentar

DHUZATI: descolonizando o paladar para garantir autonomia alimentar

Por Adriane Primo – original HYPENNES

Entre tantas coisas que considero urgentes no Brasil, a alimentação é uma das top dez da minha lista. Eu não quero ser hipócrita e afirmar que sempre fui uma pessoa atenta ao que como, porque ‘comer de tudo’ não é necessariamente comer bem

E, partindo desse princípio, falar sobre alimentação no BR requer descolonizar o paladar. Eu sei que é muita coisa para descolonizar nesse país! Mas nada mais nos resta enquanto vivermos com altos índices de violências raciais em todas as instâncias sociais. Cês tão acompanhando as notícias nos canais certos, né?

Convidei para esta conversa a ativista Monstra Animalista, responsável pela Dhuzati , uma coletiva independente da cidade do Recife, em Pernambuco, que discute cultura alimentar a partir de uma afropesrpectiva. A Monstra se define como translésbicha e, sendo dissidente sexual e negra, idealizou a Dhuzati como “saída urgente” para subverter a violenta lógica de lugar-social imposto a ela. E por questões de segurança prefere manter um certo anonimato.

“Trabalhei de diversas formas, inclusive com prostituição. Mas estava exausta e quando tive acesso sobre o que é autonomia alimentar, comecei a pensar em como transformar isso em minha fonte de renda associado ao fazer político. Então, chegar a Dhuzati sempre esteve conectado a lugares incômodos.”

1 – Esfirra integral com linhaça com recheio de cenabrin, cenouras e abobrinha no leite de coco. 2 – Acarajé com vatapá e um molho de feijão macassar triturado, temperado com alho, cebola, coentro, cominho, pimenta e sal, bastante e novamente moído antes do molho. 3 – Cuscuz com gergelim, hidratado com buriti da @acai.caboco com torta de grãomelete (massa do grãomelete assada no forno em forma de torta) refogadinho de cenoura, acelga e cebola e salada crua de tomate, alface e coentro. Fotos: @dhuzati

A Dhuzati se posiciona como uma coletiva antiespecistas, antihumanistas e antiterf. Imagem: @dhuzati

Alimentação sob ótica negra

A Dhuzati começou suas atividades em 2013 quando havia pouca discussão sobre cultura alimentar no Brasil e menos ainda sob uma narrativa de ótica negra. Narrativa essa que propõe a desconstrução de uma cultura de consumo de ultraprocessados ​​e biofortificados. Ou seja, com base na autonomia alimentar.

Isso significa que a Dhuzati aponta os caminhos para a retomada das nossas africanidades, levando em consideração nossa condição local e comunitária. Sugerindo, por exemplo, a reciclagem de alimentos; coleta de alimentos nas ruas em árvores frutíferas e PANCS; criação de hortas comunitárias e agroecológicas e criação de cooperativas de consumo.

A Dhuzati se posiciona como uma coletiva antiespecistas, antihumanistas e antiterf. Aliás, três ingredientes que dão um caldo grosso de discussão. E se alguém ousar a sugerir que suas propostas são radicais, Monstra ressalta que só a radicalidade é capaz de resolver o controle social a que estamos sujeitos sobre aquilo que comemos, especialmente a população preta e pobre do país.

Me colocar nesse campo é propor rupturas sistemáticas e drásticas à lógica industrial que temos hoje! Destruir florestas para criar bovinos que vão passar por um processo de industrialização [e ser vendidos para uma população faminta a preços absurdos] é que é radical para mim, afirma Monstra Animalista.

Pãozinho integral feito com farinha integral @ecobioprodutoorganico; Bolo de rolo do @sr.vegano bem saboroso cheio de goiabada; Tofu de tomate seco da @girassolvegana, Maionese da @cozinhaabolicionista; Um refogadinho com shimeji branco da @togudelivery e o suco de maracujá com banana. Vai um cafezão da manhã aí? Foto:@dhuzati

Mas, como disputar uma narrativa com uma indústria tão bem articulada com a economia da atenção? Talvez essa seja uma das grandes questões a ser resolvida por esse movimento de retomada da autonomia alimentar. Mas não chega a ser uma incógnita.

Para Monstra, investigar sobre aquilo que comemos está intrinsecamente ligado ao entendimento de que existe uma historicidade violenta das subjetividades de pessoas pretas, dissidentes sexuais e indígenas. “Comida é afeto”, diz.

E se a História tende a não mais falhar, reforço que o Brasil é marcado pela violência do colonialismo escravocrata que desencadeou o racismo estrutural que tangencia o desenvolvimento social, político e humano das nossas vidas.

Com barreira estruturais impostas, Monsta acredita que entrar em espaços de poder, como a mídia, por exemplo,  para disputar narrativas, talvez não seja o grande lance. Mas entende que é necessário para estimular um pensamento crítico, se as informações forem repassadas por e para pessoas pretas. “Nosso papel fundamental não é necessariamente atingir a mídia. Mas sim as pessoas que nos interessam”, diz. E esclarece:

Acho que a gente é mais insurgente e mais combativa quando optamos por estratégias contra hegemônica, como o aquilombamento, por exemplo. Até porque precisamos seguir de forma concreta e responsável. É sobre segurança alimentar.

Política com sabor

Tortilla de Grãomelete que combina camadas de creme de grão de bico com batatas andinas seladas regadas com molho leguminate, feito com mix de leguminosas hidratadas em um molho de tomate, inspirado nos saberes culinários dos povos da Mesoamérica, região nativa do tomate. Esse é um dos saborosos pratos que a gente encontra na Dhuzati, que se mantém principalmente com sua cozinha.

Tortilla de Grãomelete faz parte do grupo de assados ​​da cozinha Dhuzati. Foto: @dhuzati

Eu tive a felicidade de experimentar o tempero da Dhuzati quando estive em Recife. Gata, que delícia! Realmente senti que estava comendo bem (em anos). Aliás, foi quando começamos a falar sobre comida mesmo que a entonação da voz da Monstra felizar. Sua empolgação falando sobre o angu, azeite de babaçu é emocionante!

O cardápio da Dhuzati é muito variado, assim como suas ações de enfrentamento. Entre essas ações são manutenção de blog com muitos textos incríveis, oficinas de manipulação de alimentos e palestras. Inclusive, a coletiva está uma websérie de quatro episódios sobre o feijão (eita que saudade do bolinho de feijão que minha avó fazia!). Ainda sem data de lançamento, a série vai abordar temas como a biologia do grão, registros arqueológicos e os modos de preparação ou feijão no mundo. A série “ Negras Porções” conta ainda com a participação da agricultora afroecológica e gestora do Sítio Agatha Luiza Cavalcanti, do Mestre Zé Negão, tesouro da cultura popular pernambucana, Ellana Silva, idealizadora do Toju Cozinha Intuitiva e do chef Jamal Joseph do Recife, que vão nos ajudar a descolonizar o feijão.

Mas se você chegou até aqui, imagino que queira aprofundar mais sobre o assunto. A Crioula | Curadoria Alimentar vai realizar um Curso Livre Alimentar numa Afroperspectiva em abril para qualquer pessoa que deseje afro orientar suas práticas ativistas e construção de sistemas alimentares saudáveis, decoloniais e sustentáveis. A Dhuzati estará presente no curso , bem como figuras como a Chef Solange Borges, da Culinária de Terreiro, a ativista Ellen Monielle, da eco.fada , a Chef Talita Xavier , a filósofa Katiúcia Ribeiro, o advogado Silvio Almeida, entre outres. As inscrições seguem abertas e podem ser feitas aqui .

Monstra também nos indica algumas referências:

Livro: Aph and Syl Ko – Aphro-Ism: Essays on Pop Culture, Feminism, and Black Veganism from Two Sisters

Filmes: The Invisible Vegan – disponível no Youtube
Da África aos EUA: Uma Jornada Gastronômica – disponível no Netflix

Figuras Públicas: Dai Lima: @pretavegetal
Carla Candace: @carla.candace
Rufino Mali: @rufino.mali

& as Cozinhas: Toju Cozinha Intuitiva Afetiva : @toju_odo
Rosas do Dênde: @dodenderosas
Chef Cola: @africanveganonabudget

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Dia das mães | Maternidades negras

Dia das mães | Maternidades negras

Por Natália Escouto e Bruna de Oliveira

Este é um texto protagonizado por Natália Escouto em co-autoria com Bruna de Oliveira. Uma discussão que nos provoca a refletir sobre maternidades negras numa perspectiva histórica em diálogo com saúde. São muitos os caminhos que poderiam ter sido percorridos para essa escrita, especialmente considerando os debates de gênero, raça e classe que atravessam o ato de gerar e criar filhos. Não queremos nos furtar do debate que existem pessoas que gestam. Reconhecemos a urgente necessidade de tratar esse assunto de maneira inclusiva, pois parir não é uma capacidade restrita a mulheres e sim a pessoas com constituição biológica para gestar

Nesse contexto, pais e mães são definições que estão abertas para nossas significações e produção de sentidos que não devem estar atrelados ao ato de gestar e parir em si, mas pelo compromisso de cuidado, carinho, amor e respeito de criar laços e conduzir o desenvolvimento de um ser humano. O que abre alas também para pensar tanto a maternidade quanto a paternidade existente nos cenários de adoção de crianças. Complexo, não? E não tem como esgotar todos esses assuntos em apenas uma escrita. Abrimos esse texto reconhecendo os limites da escrita que está sendo proposta. Vamos apresentar de forma sistêmica a realidade de mulheres pretas mães porque, ainda que muitos outros recortes poderiam ser realizados, ainda são escassas reflexões que evidenciam a complexidade vivida por mulheres pretas durante o período de gestação e criação de sua prole.

E é sobre isso, né queridezas? Permitir a criação de um espaço fértil para estimular reflexões que contribuam na criação de novos imaginários e concretizem outras realidades para a sociedade. Desejamos que esse texto ajude na compreensão acerca das maternidades negras e como criar filhos e filhas negras neste país é uma tarefa árdua quando consideramos o recorte de raça como plano de fundo.

Boa leitura.

Notas da Nati

A primeira informação que você precisa ter antes de começar a ler o texto é que eu, Natália, não sou mãe (talvez desejo ser mãe). O desejo de escrever esse texto se deu da minha perspectiva enquanto filha e uma mulher negra que carrega os impactos gerados pelo Maafa* na minha saúde física, mental e emocional, traços de um passado escravocrata que marcou pra sempre (?) a vida de pessoas africanas em África e nas diásporas.

Quando nós da equipe Crioula nos organizamos para pensar nas pautas do mês de maio, logo me saltou aos olhos o Dia das Mães – que vale lembrar, é a segunda data mais importante para o comércio, segunda data com mais vendas depois do Natal segundo os comerciantes. Essa data além de uma celebração, é uma data de agradecimento e valorização destas mulheres que nos permite propor muitas reflexões.

Simone du Beauvoir afirmou no livro O Segundo sexo: “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Teremos a audácia de contrariar a autora, entendendo que quando o tema são mulheres pretas, sim, há uma determinação explícita que emerge desde o nascimento. A socialização feminilizada da mulher a partir da discussão promovida por Beauvior não faz sentido quando olhamos para as marcas existentes nas histórias de mulheres pretas. Resgatamos o questionamento de Sojourner Truth: “E não sou uma mulher?”, pergunta ecoada quando enxergamos as contradições entre os modos de vida e bandeiras de lutas erguidas por mulheres brancas e pretas. 

Antes de escrever este texto, eu Natália lembro dos relatos que me foram contados sobre o seu nascimento, um parto cirúrgico, uma cesariana, por escolha da minha mãe. Uma mulher não negra que gerou uma mulher negra. E sobre o momento dessa experiência de parto e aleitamento eu partilho que nasci de uma cesárea para que minha mãe pudesse fazer a ligadura de trompas, entre meu nascimento e, durante o procedimento, eu fiquei pelo menos 3 horas “sozinha” na maternidade e minha primeira alimentação foi glicose já que minha mãe estava no pós cirúrgico ainda desacordada. Mesmo minha mãe não sendo uma mulher negra e eu sim, nós duas naquele momento vivemos violências que não poderíamos calcular os impactos nas nossas vidas desde então

Fui amamentada exclusivamente até os 6 meses como manda o protocolo, depois disso minha mãe voltou ao trabalho e eu fui alimentada com leite congelado, mistura ou fórmulas lácteas para bebês e comecei a introdução alimentar e logo menos eu apresentei um quadro de anemia. Para que minha mãe pudesse trabalhar eu fui cuidada por uma mulher negra. Depois de um tratamento onde não apresentei mais um quadro tão grave de anemia como dessa primeira vez, mas ainda hoje é um cuidado constante, especialmente porque tenho uma alimentação vegetariana estrita. A maioria dos médicos e enfermeiros que consultei têm uma tendência a não ouvir, ou não dar importância quando pontuo essas ocorrências.

Pensando em todos os detalhes e acontecimentos que passei, sei que é uma realidade tão atual, e escancaradamente atual, principalmente com a chegada da pandemia de Covid 19. Falar sobre maternidade negra, aleitamento e alimentação é um lugar que fala de violência obstétrica, nutricídio e principalmente racismo estrutural. Nesse texto vou compartilhar sobre os impactos destes problemas para a saúde da população negra, principalmente analisando o papel do aleitamento e alimentação para mães e crianças negras no Brasil. E claro, não poderia deixar de falar de questões subjetivas e de saúde mental que perpassam essas pautas.

* Maafa é um termo que refere-se ao holocausto africano, holocausto da escravidão ou holocausto negro. Caracteriza-se enquanto neologismos políticos que se tornaram populares a partir de 1998 usados para descrever a história e os efeitos contínuos das atrocidades infligidas ao povo africano, particularmente quando cometidos por não-africanos, especificamente no contexto da história da escravidão, incluindo o tráfico árabe de escravos e o comércio atlântico de escravos e dito como “presente até os dias atuais” através do imperialismo, colonialismo e outras formas de opressão.

O papel da Mulher Negra mudou?

Para adentrarmos no assunto maternidade negra e alimentação precisamos observar as mudanças sociais que atrelam a mulher negra ao papel de “mulher forte”, “guerreira”, “disponível” entre outros adereços que marcam a vida de mulheres negras há séculos. 

Aqui precisamos tratar essencialmente de questões estruturais do racismo desde o período escravocrata até os dias atuais. Mulheres africanas em situação de escravidão tinham um papel essencial para os senhores de engenho: fabricar mais escravos. São inúmeros documentos que comprovam que mulheres negras eram submetidas a gravides atrás de gravides, gerando 1 filho por ano. Na tentativa de fugir deste crime, aconteciam abortos, fugas e infanticídeos para que o trabalho da mulher negra não fosse interrompido.  Impossibilitadas de criar seus próprios filhos, elas eram babás e amas de leite dos filhos de seus patrões.

Vivemos outros tempos pós abolição, mas os papéis sociais não mudaram só se tornaram legalmente aceitos. Em 2020 presenciamos a morte do Menino Miguel – sua mãe, Mirtes Santana, empregada doméstica da família Corte Real que precisou levar o menino para o trabalho, já que no auge da pandemia de Covid-19 não havia creches disponíveis. Cumprindo ordens da patroa Sarí Corte Real, Mirtes precisa passear com o cachorro da patroa e nesse período seu filho Miguel morre após cair do nono andar do prédio. Miguel estava sob os cuidados da patroa.

Antes escrava, ama de leite, hoje diarista, empregada doméstica, babá, auxiliar de cozinha. Após a abolição ficou escancarada a problemática do mito da democracia racial, e apesar de não mais vivermos legalmente num sistema político econômico escravocrata as condições sociais, econômicas e políticas da população negra brasileira continuam semelhantes a 130 anos atrás. A humanidade, a maternidade e afeto são negados a mulheres negras.

Jurema Werneck expõem no artigo Racismo Institucional e Saúde da População Negra que a luta a diretos básicos para a população negra é antiga e só ocorreu legalmente através da manifestação intenção de movimentos socias como o Movimento de Mulheres Negras e o Movimento Negro. Neste artigo publicado em 2016, Jurema nos mostra que o racismo estrutural e institucional são os maiores aceleradores da morte de pessoas negras e compartilha a escassez de material científico direcionado à saúde da população negra brasileira, principalmente à saúde da mulher negra.

Saúde da Mulher Negra: heranças genéticas, marcadores sociais e econômicos

Em 2009 foi criada pelo Ministério da Saúde brasileiro, Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) que reconhece e assume a necessidade da instituição de mecanismos de promoção da saúde integral da população negra e do enfrentamento ao racismo institucional no SUS. Na terceira edição do documento (2017) ele traz informações sobre as doenças genéticas ou hereditárias mais comuns na população negra, além de dados socioeconômicos.

As doenças mais comuns na população preta são:

Anemia falciforme — Doença hereditária, decorrente de uma mutação genética ocorrida há milhares de anos, no continente africano. A doença, que chegou ao Brasil pelo tráfico de escravos, é causada por um gene recessivo, que pode ser encontrado em frequências que variam de 2% a 6% na população brasileira em geral, e de 6% a 10% na população negra.

Diabetes mellitus (tipo II) — Esse tipo de diabetes se desenvolve na fase adulta e evolui causando danos em todo o organismo. É a quarta causa de morte e a principal causa de cegueira adquirida no Brasil. Essa doença atinge com mais frequência os homens negros (9% a mais que os homens brancos) e as mulheres negras (em torno de 50% a mais do que as mulheres brancas).

Hipertensão arterial A doença, que atinge de 10% a 20% dos adultos, é a causa direta ou indireta de 12% a 14% de todos os óbitos no Brasil. Em geral, a hipertensão é mais alta entre os homens e tende ser mais complicada em negros, de ambos os sexos.

Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenaseAfeta mais de 200 milhões de pessoas no mundo. Apresenta frequência relativamente alta em negros americanos (13%) e populações do Mediterrâneo, como na Itália e no Oriente Médio (5% a 40%). A falta dessa enzima resulta na destruição dos glóbulos vermelhos, levando à anemia hemolítica e, por ser um distúrbio genético ligado ao cromossomo X, é mais frequente nos meninos.

Falando sobre a saúde da mulher negra, os dados mostram que mulheres negras são as que menos fazem pré-natal, as que menos fazem exames, as mais jovens, as mais pobres e na maioria das vezes mães solo. Em dados que observam a taxa de mortalidade materna em 2012, o percentual era de 60% para mulheres negras, mortes que poderiam ter sido evitadas.

Quando falamos sobreViolência Obstétrica estamos falando sobre um conceito que mostra como o parto antes um ritual natural e feminino se tornou um procedimento cirúrgico da obstetrícia dando o protagonismo para o homem-médico, que antes era da mulher.

Violência obstétrica destaca-se por ser um tipo específico de violência contra a mulher, é considerada uma violação dos direitos das pessoas grávidas em processo de parto, que inclui a perda da autonomia e decisão sobre seus corpos, além de compreender o uso excessivo de medicamentos e intervenções no parto, como a realização de práticas dolorosas e desagradáveis que não possuem embasamento científico.

Para mulheres negras os resultados das pesquisas mostram que elas são maioria dos casos de depressão pós parto, vinculam-se menos à maternidade para o parto, recebem poucas orientações e fazem um pré-natal com menor número de consultas e exames, a pesquisa também verificou que 25% das mulheres ficaram sem acompanhantes durante toda a internação para o parto.

Correlacionando as doenças não transmissíveis que prevalecem na população preta precisamos destacar que nós somos a população que mais sofre com a insegurança alimentar. É imprescindível que entendamos a Insegurança Alimentar não só como a falta de alimentos ou o não acesso a alimentos. O mais assustador é quando a insegurança alimentar é substituída por alimentos ricos em nutrientes e vitaminas, por alimentos mais baratos e de menor qualidade nutricional, com mais gorduras saturadas, açúcar, sódio e calorias como é o caso de alimentos processados e ultraprocessados.

Nesse momento precisamos entender que mulheres negras são as que mais trabalham na informalidade, com salários baixos, em situações de vulnerabilidade social, muitas vezes sendo chefes de família responsáveis financeiramente por toda a família sozinha. A mesma situação de uma mulher escravizada que não tem o direito de cuidar, alimentar e amar seu próprio filho para se alimentar e ter afeto pelo filho dos patrões acontece hoje em dia.

Aleitamento e Nutricídio

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Guia Alimentar da População Brasileira, os bebês devem receber exclusivamente leite materno até os 6 meses. Mas a realidade é outra, segundo pesquisas do Enani (Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil).

Amamentação em 2020:

  •  45,7% das crianças recebem exclusivamente leite materno até os seis meses
  • Para 53,1% dos bebês de até 1 ano o aleitamento era feito de forma complementar à alimentação

O estudo também em consideração a licença maternidade e a volta ao trabalho de mulheres com trabalhos formais e informais e neste caso o desmame acontece ainda mais cedo. 

Lembramos da importância do leite materno e da amamentação para o combate à desnutrição, e doenças infecciosas da primeira infância, diminui os riscos de, no futuro, a criança ter doenças como obesidade, hipertensão e diabetes tipo 1, também diminui a ocorrência de depressão pós-parto.

Um movimento que surgiu nos Estados Unidos chamado Black Breastfeeding Week (Semana de Amamentação Negra) foi criado em 2012 e foi inspiração para psicóloga Fernanda Lopes e pela pediatra Tiacuã Fazendeiro criarem a Semana de Apoio à Amamentação Negra #SAAN. O objetivo do projeto Amamentação Negra é incentivar e apoiar mães negras no processo de amamentação, principalmente no quesito representatividade

Em entrevista ao projeto Nós, mulheres da periferia Fernanda e Tiacuã falam sobre o uso de fórmulas nutricionais para bebês, destacando o assédio da indústria alimentícia, a falta de profissionais qualificados para orientar as mães, a falta de infraestrutura para amamentação e armazenamento de leite em creches e as dificuldades da licença maternidade (atualmente de 4 meses garantida por lei), e a impossibilidade de parar por conta de trabalhos informais de muitas mulheres. 

Como vimos ao longo do texto, são várias questões que precisam ser discutidas além de interseccionar gênero, raça e classe. Bruna de Oliveira, nossa nutricionista, fala no texto “Nossos pratos vêm de longe: a alimentação brasileira numa afroperspectiva” sobre trazer as mulheres negras para o centro do debate já que somos nós que alimentamos a população brasileira como cozinheiras, mercadoras, amas de leite,….Nossos saberes e tecnologias usados para nutrir outro povo que não o nosso, e à nós migalhas. Construindo material para este texto me deparei várias vezes com mães negras destacando os desafios e responsabilidades de parir uma pessoa negra nesse mundo. Ao mesmo tempo que assusta, visto as atrocidades que acontecem diariamente com nosso povo, somos também portais e ferramentas de mudanças para um futuro melhor para nossos filhos.

Anin Urasse, mulherista afrikana e profissional da saúde, traz no seu blog “Pensamentos Mulheristas” reflexões sobre maternidade e ancestralidade, compartilhando sobre os desafios de ser uma mulher africana em diáspora e perceber a complexidade que é estar no ocidente e descolonizar, resgatar suas tradições e suas origens.

Notas da Bru

Idealizar a maternidade é um grande equívoco. Infelizmente, nem todas as mulheres vivem a gestação porque desejam, planejam ou sonham. Os dados apresentados demonstram como uma fase que merece tamanha atenção, cuidado e respeito é violada historicamente na vida de mulheres negras. A capacidade de gestar é considerada divina para muitos povos africanos, é lamentável que tantas mães pretas brasileiras enfrentem tantos problemas diretamente associados ao racismo estrutural e sistêmico.

Nem todo mundo vive uma gestação de milhões como a diva Rihanna. Como tudo na vida de uma mulher africana em diáspora, gestar de maneira digna e saudável é resistência e revolução! 

Felizmente, encontro-me em estado de graça à espera do meu menino Inácio. Desde novembro de 2021, quando vivi a surpresa de saber que era morada de um ser humano, tenho vivido com muita presença e compromisso o meu gestar. O sentimento de plenitude me invade, sinto a potência da criação e uma conexão com a Mãe Terra que jamais pensei que fosse possível.

Sou abençoada de integrar uma comunidade de pessoas que estão celebrando esse momento. Um sonho que carrego desde a adolescência, ser mãe sempre foi um projeto de vida pra mim. Busco não romantizar esse momento, especialmente frente a todo o contexto socioeconômico de violação que muitas irmãs vivem. Justamente por isso, celebro a bênção de ter condições de acolher esse momento da melhor maneira possível. Tenho tido um ótimo acompanhamento de pré natal na rede pública de saúde, estou formando uma família junto ao meu companheiro com muito amor e camaradagem, estou cercada de amizades e familiares que se colocam como rede de apoio ativa nesse momento.

Os desafios são muito, mas minha história é uma exceção. As bandeiras de luta pelo parto humanizado e um processo de gestação saudável e adequado são direitos que devem ser garantidos a todas as pessoas que gestam. Neste dia das mães, desejo força às irmãs que sofrem e adoecem num momento tão potente e que deveria ser mágico e inspirador. Minha gestação é de milhões não pela minha conta bancária o a ampla audiência do meu trabalho. É de milhões porque há uma realidade material que me permite desfrutar do melhor que esse momento me oferece, especialmente, considerando toda a ancetralidade e saberes que estão associados a esse momento numa perspectiva africana de entender o maternar.

Aspiro que possamos gestar e construir futuros melhor para o nosso povo, futuros que comecem desde a concepção desses seres solares que merecem paz, sucesso e prosperidade nessa vida. Feliz dia.

Acesse conteúdos para nutrir seu sol sobre o tema das maternidades negras: 

LIVES

Igbaya – Amamentação Negra – Refletindo sobre as marcas da maternidade negra: violência obstétrica, amamentação e racismo

 #PapoNinja – Tainá de Paula e Juliana Alves falam sobre mulheres negras e os desafios da maternidade

Saúde Mental Materna UFRJ – Mulheres Negras, maternidade e violência: desafios para o cuidado em saúde mental

NEABI – Núcleo de estudos Afro-brasileiros e indígenas UFOP – Mulheres negras: Maternidade e o mundo do trabalho

DOCUMENTÁRIO

A Dor Reprimida: violência obstétrica e mulheres negras

Uma em cada quatro brasileiras que deram à luz já foi vítima de violência obstétrica. O tratamento hostil, seja na hora do parto, do pré-natal, do puerpério (pós-parto) ou numa situação de aborto é ainda mais comum entre mulheres negras e de periferia. “A dor reprimida: violência obstétrica e mulheres negras” propõe um debate sobre o tema, partindo de depoimentos de mulheres e profissionais que vivenciaram este conjunto de atos desrespeitosos, abusos, maus-tratos e negligência contra as mães. O documentário é o resultado do Trabalho de Conclusão de Curso da jornalista Mariana Sales de Oliveira pela Facom (UFBA).

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REFERÊNCIAS:

Amamentação Negra Site Disponível em https://amamentacaonegra.com.br/

FERREIRA, V. M. Mãe preta, estudo sobre o índice de violência obstétrica entre as mulheres negras. Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (COPENE), 2018. UFU Disponível em https://www.copene2018.eventos.dype.com.br/resources/anais/8/1532453580_ARQUIVO_CopeneMG.pdf

Insegurança alimentar prejudica tratamentos e agrava saúde da população negra. Notícia site Faculdade de Medicina Universidade Federal de Minas Gerais, 21 de outubro de 2021. Disponível em https://www.medicina.ufmg.br/inseguranca-alimentar-prejudica-tratamentos-e-agrava-saude-de-populacao-negra/

MARQUES. G.O. Violência Obstétrica Contra Mulheres Negras. Universidade LaSalle, Canoas. 2021 Disponível em https://svr-net20.unilasalle.edu.br/bitstream/11690/1969/1/gomarques.pdf

MINISTÉRIO DA SAÚDE Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), 3ª edição, 2017. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_populacao_negra_3d.pdf

Por que precisamos de uma Semana de Apoio à Amamentação Negra? Entrevista Nós, mulheres da periferia. 25 de agosto de 2021. Disponível em https://nosmulheresdaperiferia.com.br/por-que-precisamos-de-uma-semana-de-apoio-a-amamentacao-negra/

WERNECK, J. Racismo Institucional e Saúde da População Negra. Saúde Soc. São Paulo, v.25, n.3, p.535-549, 2016 Diponível em https://www.scielo.br/j/sausoc/a/bJdS7R46GV7PB3wV54qW7vm/?format=pdf&lang=pt

 

O vício invisível: é hora de desistir da cafeína?

O vício invisível: é hora de desistir da cafeína?

Traduzido por Eduardo Stigger

Este texto é uma tradução da matéria “The invisible addiction: is it time to give up caffeine?” publicada no The Guardian, em 06 de julho de 2021, e escrito pelo brilhante – e frequentemente citado aqui – Micheal Pollan. Acesse a matéria original aqui. A publicação deste texto tem o objetivo de complementar o conteúdo publicado no dia 14 de abril de 2022 sobre a história do café e como ele se tornou a bebida mais consumida no mundo, o texto Café: uma volta ao mundo. Esta matéria trata das dinâmicas sociais em torno do café e levantando questionamentos sobre a nossa relação atual com a bebida. As opiniões, em sua totalidade, não representam as opiniões da Crioula – Curadoria Alimentar. As afirmações e opiniões são de responsabilidade da equipe autora da matéria.

A cafeína nos torna mais energéticos, eficientes e rápidos. Mas nos tornamos tão dependentes que precisamos dela para apenas fazer o básico.

por Michael Pollan

Depois de anos começando o dia com um café grande de manhã, seguido de vários copos de chá-verde em intervalos, e um eventual cappuccino depois do almoço, parei de cafeína, de uma vez só. Não era algo que eu particularmente queria fazer, mas relutantemente cheguei à conclusão de que a matéria que eu estava escrevendo exigia isso. Vários dos especialistas que eu estava entrevistando sugeriam que eu realmente não conseguia entender o papel da cafeína na minha vida – seu poder invisível, mas penetrante – sem largá-la e depois, presumivelmente, voltar. Roland Griffiths, um dos principais pesquisadores do mundo de drogas que alteram o humor, e principal responsável por obter o diagnóstico de “abstinência de cafeína” incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a bíblia dos diagnósticos psiquiátricos, me disse que não havia começado a entender seu próprio relacionamento com a cafeína até que parou de usá-la e realizou uma série de autoexperimentos. Ele me incentivou a fazer o mesmo.

Para a maioria de nós, ser “cafeinado” em um grau ou outro simplesmente se tornou o básico da consciência humana. Cerca de 90% dos humanos ingerem cafeína regularmente, tornando-a a droga psicoativa mais usada no mundo e a única que damos rotineiramente às crianças (geralmente na forma de refrigerantes). Poucos de nós sequer pensam nisso como uma droga, muito menos no nosso uso diário como um vício. É tão difundido que é fácil ignorar o fato de que ser cafeinado não é uma consciência básica, mas, na verdade, um estado alterado. Acontece que é um estado que praticamente todos nós compartilhamos, tornando-o invisível.

Os cientistas listaram, e eu pontualmente notei, os sintomas previsíveis da abstinência de cafeína: dor de cabeça, fadiga, letargia, dificuldade de concentração, diminuição da motivação, irritabilidade, angústia intensa, perda de confiança e disforia. Mas, sob esse rótulo falsamente leve de “dificuldade de concentração” esconde-se nada menos que uma ameaça existencial à obra de um escritor. Como você pode esperar escrever algo quando não consegue se concentrar?

Adiei o máximo que pude, mas finalmente chegou o fatídico dia. De acordo com os pesquisadores que entrevistei, o processo de abstinência na verdade começou durante a noite, enquanto eu dormia, durante o “vale” no gráfico dos efeitos diurnos da cafeína. A primeira xícara de chá ou café do dia possui a maior parte de seu poder – a alegria! – não tanto pelas suas propriedades eufóricas e estimulantes, mas pelo fato de estar suprimindo os sintomas emergentes da abstinência. Isso faz parte da insidiosidade da cafeína.

Seu modo de ação, ou “farmacodinâmica”, combina tão perfeitamente com os ritmos do corpo humano, que a xícara de café da manhã chega bem a tempo de evitar a angústia mental iminente desencadeada pela xícara de café de ontem. Diariamente, a cafeína se propõe como a solução ideal para o problema que a cafeína cria.

Na cafeteria, em vez do meu habitual “semi-cafeinado”, pedi uma xícara de chá de menta. E nesta manhã, aquele agradável clarear da névoa mental que a primeira dose de cafeína traz nunca chegou. A neblina caiu sobre mim e não se moveu. Não é que eu me sentisse mal – não cheguei a ter uma forte dor de cabeça – mas durante todo o dia senti uma certa tontura, como se um véu tivesse descido no espaço entre mim e a realidade, uma espécie de filtro que absorvia certos comprimentos de onda de luz e som.

Consegui trabalhar um pouco, mas distraidamente. “Sinto-me como um lápis sem ponta”, escrevi em meu caderno. “Coisas ao redor se intrometem e não serão ignoradas. Não consigo me concentrar por mais de um minuto.”

Ao longo dos dias seguintes, comecei a me sentir melhor, o véu foi levantado, mas ainda não era eu mesmo, nem o mundo. Nesse novo normal, o mundo parecia mais monótono para mim. Eu parecia mais maçante, também. As manhãs eram as piores. Cheguei a ver como a cafeína é essencial para o trabalho diário de nos juntar novamente após o cair da consciência durante o sono. Essa reconsolidação do eu levou muito mais tempo do que o normal e nunca pareceu completa.

A familiaridade da humanidade com a cafeína é surpreendentemente recente. Mas não é exagero dizer que essa molécula refez o mundo. As mudanças provocadas pelo café e pelo chá ocorreram em um nível fundamental – o nível da mente humana. O café e o chá inauguraram uma mudança no clima mental, aguçando as mentes que estavam enevoadas pelo álcool, libertando as pessoas dos ritmos naturais do corpo e do sol, tornando possíveis novos tipos de trabalho e, sem dúvida, novos tipos de pensamento  também.

No século 15, o café era cultivado no leste da África e comercializado em toda a península arábica. Inicialmente, a nova bebida era considerada um auxiliar de concentração e usada pelos Sufis, no Iêmen, para evitar que cochilassem durante suas observâncias religiosas. (O chá também começou como um pequeno auxiliar para os monges budistas que se esforçavam para permanecer acordados durante longos períodos de meditação.) Em um século, cafeterias surgiram em cidades de todo o mundo árabe. Em 1570 havia mais de 600 deles apenas em Constantinopla, e eles se espalharam para norte e oeste com o império otomano.

O mundo islâmico nessa época era, em muitos aspectos, mais avançado que a Europa, em ciência, tecnologia e em aprendizado. É difícil provar que esse florescimento mental tenha relação com a prevalência do café (e a proibição do álcool), mas, como argumentou o historiador alemão Wolfgang Schivelbusch, a bebida “parecia ser feita sob medida para uma cultura que proibia o consumo de álcool e deu origem à matemática moderna”.

Em 1629, os primeiros cafés da Europa, inspirados nos modelos árabe e turco, surgiram em Veneza, e o primeiro estabelecimento desse tipo na Inglaterra foi aberto em Oxford em 1650 por um imigrante judeu. Chegaram a Londres pouco depois e proliferaram: em poucas décadas havia milhares de cafés em Londres; no seu auge, um para cada 200 londrinos.

Chamar os cafés ingleses de um novo tipo de espaço público não é o suficiente. Se pagava um centavo pelo café, mas a informação – na forma de jornais, livros, revistas e conversas – era gratuita. (Os cafés eram muitas vezes referidos como “universidades de um centavo”.) Depois de visitar cafés de Londres, um escritor francês chamado Maximilien Misson escreveu: “Você tem notícias de todas as formas lá; Você tem uma boa lareira, junto à qual pode sentar-se o tempo que quiser: Você tem café; você encontra seus amigos para a transação de negócios, e tudo por um centavo, se você não quiser gastar mais.”

As cafeterias de Londres se distinguiam umas das outras pelos interesses profissionais ou intelectuais de seus clientes, o que acabou por lhes dar identidades institucionais específicas. Assim, por exemplo, comerciantes e homens com interesses em transporte marítimo reuniam-se no Lloyd’s Coffee House. Lá você poderia saber quais navios estavam chegando e partindo, e comprar uma apólice de seguro para sua carga. A Lloyd’s Coffee House acabou se tornando a corretora de seguros Lloyd’s de Londres. Tipos eruditos e cientistas – conhecidos então como “filósofos naturais” – reuniram-se no Grecian, que se tornou intimamente associado à Royal Society; Isaac Newton e Edmond Halley debateram física e matemática lá, e diz-se que uma vez dissecaram um golfinho no local.

A conversa nos cafés londrinos frequentemente se voltava para a política, em vigorosos exercícios de liberdade de expressão que provocaram a ira do governo, especialmente após a restauração da monarquia em 1660. Charles II, preocupado com a possibilidade de conspirações serem organizadas nos cafés, decidiu que os lugares eram fomentadores perigosos da rebelião que a coroa precisava suprimir. Em 1675, o rei decidiu fechar os cafés, alegando que os “relatos falsos, maliciosos e escandalosos” que deles emanam eram uma “perturbação do sossego e da paz do reino”. Como tantos outros compostos que alteram as qualidades da consciência nos indivíduos, a cafeína era vista como uma ameaça ao poder institucional, que se movia para suprimi-la, em um prenúncio das guerras contra as drogas que viriam.

Mas, a guerra do rei contra o café durou apenas 11 dias. Charles descobriu que era tarde demais para reverter a maré da cafeína. Àquela altura, o café era um elemento tão importante na cultura e vida cotidiana inglesa – e tantos londrinos importantes haviam se tornado viciados em cafeína – que todos simplesmente ignoraram a ordem do rei e continuaram bebendo café tranquilamente. Com medo de testar sua autoridade e não encontrá-la, o rei silenciosamente recuou, emitindo uma segunda proclamação revertendo a primeira “por consideração principesca e compaixão real”.

É difícil imaginar que esse crescimento político, cultural e intelectual que borbulhou nos cafés da França e da Inglaterra no século 17 poderia ter se desenvolvido em uma taverna. O tipo de pensamento mágico que o álcool patrocinava na mente medieval começou a dar espaço a um novo espírito racionalista e, um pouco mais tarde, ao pensamento iluminista.

O historiador francês Jules Michelet escreveu: “O café, a bebida sóbria, o poderoso alimento do cérebro, que, ao contrário de outros destilados, aumenta a pureza e a lucidez; café, que limpa as nuvens da imaginação e seu peso sombrio; que ilumina a realidade das coisas de repente com o clarão da verdade”.

A ver, com clareza, “a realidade das coisas”: esse era, em poucas palavras, o projeto racionalista. O café tornou-se, junto com o microscópio, o telescópio e a caneta, uma de suas ferramentas indispensáveis.

Após algumas semanas, as deficiências mentais da abstinência diminuíram e eu pude mais uma vez pensar de forma coerente, manter uma abstração em minha cabeça por mais de dois minutos e afastar os pensamentos periféricos do meu campo de atenção. No entanto, continuei a me sentir mentalmente um pouco atrasado, especialmente quando na companhia de bebedores de café e chá, o que, logicamente, estava o tempo todo e em todos os lugares.

Eis do que eu sentia falta: do jeito que a cafeína e seus rituais costumavam ordenar meu dia, especialmente pela manhã.

Os chás de ervas – que quase não são psicoativos – não têm o poder do café e do chá para organizar o dia em um ritmo de picos e vales energéticos, à medida que a maré mental da cafeína diminui e flui. A onda da manhã é uma bênção, obviamente, mas também há algo reconfortante na maré vazante da tarde, que uma xícara de chá pode reverter suavemente.

Em determinado momento, comecei a me perguntar se talvez fosse tudo coisa da minha cabeça, essa sensação de que eu havia caído um degrau mental desde que parei de tomar café e chá. Então decidi olhar para a ciência, para aprender o que, se é que existe, o aprimoramento cognitivo pode realmente ser atribuído à cafeína. Encontrei vários estudos realizados ao longo dos anos relatando que a cafeína melhora o desempenho em uma série de medidas cognitivas – de memória, foco, estado de alerta, vigilância, atenção e aprendizado. Um experimento feito na década de 1930 descobriu que os jogadores de xadrez com cafeína tiveram um desempenho significativamente melhor do que os jogadores que se abstiveram. Em outro estudo, usuários de cafeína concluíram uma variedade de tarefas mentais mais rapidamente, embora cometessem mais erros; como um artigo colocou em seu título, as pessoas que consomem cafeína são “mais rápidas, mas não mais inteligentes”. Em um experimento de 2014, indivíduos que receberam cafeína imediatamente após aprenderem um novo conteúdo memorizaram melhor do que os indivíduos que receberam placebo. Testes de habilidades psicomotoras também sugerem que a cafeína nos dá uma vantagem: em exercícios de direção simulada, a cafeína melhora o desempenho, especialmente quando o sujeito está cansado. Também melhora o desempenho físico em métricas como contra-relógio, força e resistência muscular.

É verdade que há motivos para desconfiar um pouco dessas descobertas, mesmo porque esse tipo de pesquisa é difícil de ser bem-sucedida. O problema é encontrar um bom grupo de controle em uma sociedade em que praticamente todo mundo é viciado em cafeína. Mas o consenso parece ser de que a cafeína melhora o desempenho mental (e físico) até certo ponto.

Se a cafeína também aumenta a criatividade é outra questão, no entanto, e há algumas razões para duvidar disso. A cafeína melhora nosso foco e capacidade de concentração, o que certamente melhora o pensamento linear e abstrato, mas a criatividade funciona de maneira muito diferente. Pode depender da perda de um certo tipo de foco e da liberdade de deixar a mente livre do pensamento linear.

Psicólogos cognitivos às vezes falam em termos de dois tipos distintos de consciência: consciência holofote, que ilumina um único ponto focal de atenção, tornando-o muito bom para o raciocínio, e consciência lanterna, na qual a atenção é menos focada, mas ilumina um campo de atenção mais amplo. As crianças pequenas tendem a exibir a consciência de lanterna; assim como muitas pessoas sob efeito de psicodélicos. Essa forma mais difusa de atenção se presta à divagação mental, à livre associação e à criação de novas conexões – tudo isso pode nutrir a criatividade.

Em comparação, a grande contribuição da cafeína para o progresso humano tem sido intensificar a consciência de holofotes – o processamento cognitivo focado, linear, abstrato e eficiente mais associado ao trabalho mental do que ao lazer. Isso, mais do que qualquer outra coisa, é o que fez da cafeína a droga perfeita não apenas para a era da razão e do Iluminismo, mas também para a ascensão do capitalismo.

O poder da cafeína de nos manter acordados e alertas, de conter a maré natural de exaustão, nos libertou dos ritmos circadianos de nossa biologia e assim, junto com o advento da luz artificial, abriu a fronteira da noite para a possibilidade de trabalho.

O que o café fez por clérigos e intelectuais, o chá logo faria pela classe trabalhadora inglesa. De fato, foi o chá das Índias Orientais – fortemente adoçado com açúcar das Índias Ocidentais – que alimentou a Revolução Industrial. Pensamos na Inglaterra como uma cultura do chá, mas o café, inicialmente a bebida mais barata, inicialmente foi dominante.

Logo depois que a Companhia Britânica das Índias Orientais começou a negociar com a China, o chá barato inundou a Inglaterra. Uma bebida que apenas os abastados podiam beber em 1700 era, em 1800, consumida por praticamente todos, da matrona da sociedade ao operário da fábrica

Suprir essa demanda exigia um empreendimento imperialista de enorme escala e brutalidade, especialmente depois que os britânicos decidiram que seria mais lucrativo transformar a Índia, sua colônia, em um produtor de chá, do que comprar chá dos chineses. Isso exigia primeiro roubar os segredos da produção de chá dos chineses (uma missão cumprida pelo renomado botânico e explorador de plantas escocês Robert Fortune, disfarçado de mandarim); confiscando terras de camponeses em Assam (onde o chá crescia de forma selvagem) e depois forçando os agricultores à servidão, colhendo folhas de chá do amanhecer ao anoitecer. A introdução do chá no ocidente foi uma questão de exploração – a extração de mais-valia do trabalho, não apenas em sua produção na Índia, mas também em seu consumo pelos britânicos.

O chá permitiu à classe trabalhadora britânica suportar longos turnos, condições de trabalho brutais e fome mais ou menos constante; a cafeína ajudou a acalmar as dores da fome, e o açúcar nela se tornou uma fonte crucial de calorias. (Do ponto de vista estritamente nutricional, os trabalhadores teriam ficado melhor com a cerveja.)

A cafeína do chá ajudou a criar um novo tipo de trabalhador, mais adaptado ao domínio da máquina. É difícil imaginar uma Revolução Industrial sem ela.

Então, como exatamente o café e a cafeína em geral nos tornam mais energéticos, eficientes e rápidos? Como essa pequena molécula poderia fornecer energia ao corpo humano sem calorias? A cafeína poderia ser o proverbial almoço grátis? Ou pagamos um preço pela energia mental e física – o estado de alerta, foco e resistência – que a cafeína nos dá?

Infelizmente, não existe almoço grátis. Acontece que a cafeína só parece nos dar energia. A cafeína funciona bloqueando a ação da adenosina, uma molécula que se acumula gradualmente no cérebro ao longo do dia, preparando o corpo para descansar. As moléculas de cafeína interferem nesse processo, impedindo que a adenosina faça seu trabalho – e nos mantendo alertas. Mas, os níveis de adenosina continuam a subir, de modo que, quando a cafeína é eventualmente metabolizada, a adenosina inunda os receptores do corpo e o cansaço retorna. Assim, a energia que a cafeína nos dá é emprestada, na verdade, e, eventualmente, a dívida deve ser paga.

Desde que as pessoas bebem café e chá, as autoridades médicas alertam sobre os perigos da cafeína. Mas até agora, a cafeína foi inocentada das acusações mais graves contra ela. O consenso científico atual é mais do que tranquilizador – na verdade, a pesquisa sugere que o café e o chá, longe de serem prejudiciais à nossa saúde, podem oferecer alguns benefícios importantes, desde que não sejam consumidos em excesso. O consumo regular de café está associado a uma diminuição do risco de vários tipos de câncer (incluindo mama, próstata, colo-retal e endometrial), doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, doença de Parkinson, demência e possivelmente depressão e suicídio. (Embora altas doses possam produzir nervosismo e ansiedade, e as taxas de suicídio aumentam entre aqueles que bebem oito ou mais xícaras por dia.)

Minha análise da literatura médica sobre café e chá me fez pensar se minha abstenção poderia estar comprometendo não apenas minha função mental, mas também minha saúde física. No entanto, isso foi antes de falar com Matt Walker.

Um neurocientista inglês do corpo docente da Universidade da Califórnia, Berkeley, Walker, autor de Why We Sleep, é obstinado em sua missão: alertar o mundo para uma crise invisível de saúde pública, que é o fato de que não estamos dormindo o suficiente, o sono que estamos tendo é de má qualidade, e o principal culpado desse crime contra o corpo e a mente é a cafeína.

A cafeína em si pode não ser ruim para você, mas o sono que ela está roubando pode ter um preço.

De acordo com Walker, a pesquisa sugere que o sono insuficiente pode ser um fator chave no desenvolvimento da doença de Alzheimer, arteriosclerose, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, depressão, ansiedade, suicídio e obesidade. “Quanto menos você dorme”, ele conclui sem rodeios, “mais curta sua expectativa de vida”.

Walker cresceu na Inglaterra bebendo grandes quantidades de chá preto, de manhã, ao meio-dia e à noite. Ele não consome mais cafeína, exceto pelas pequenas quantidades em sua xícara ocasional de descafeinado. Na verdade, nenhum dos pesquisadores do sono ou especialistas em ritmos circadianos que entrevistei para esta história consome cafeína.

Walker explicou que, para a maioria das pessoas, o “quarto de vida” da cafeína geralmente é de cerca de 12 horas, o que significa que 25% da cafeína de uma xícara de café consumida ao meio-dia ainda está circulando em seu cérebro quando você deita na cama à meia-noite. Isso pode ser o suficiente para destruir completamente seu sono profundo.

Eu me considerava um bom dorminhoco antes de conhecer Walker. Durante o almoço, ele me questionou sobre meus hábitos de sono. Eu disse a ele que geralmente tenho sete horas sólidas, adormeço facilmente, sonho na maioria das noites.

“Quantas vezes por noite você acorda?” ele perguntou. Acordo três ou quatro vezes por noite (geralmente para fazer xixi), mas quase sempre volto a dormir.

Ele balançou a cabeça gravemente. “Isso não é nada bom, todas essas interrupções. A qualidade do sono é tão importante quanto a quantidade de sono.” As interrupções estavam minando a quantidade de sono “profundo” ou de “ondas lentas” que eu estava tendo, algo acima e além do sono REM que eu sempre pensei ser a medida de uma boa noite de repouso. No entanto, parece que o sono profundo é tão importante para a nossa saúde, e o tempo que temos tende a diminuir com a idade.

A cafeína não é a única causa nessa nossa crise de sono; telas, álcool (que é tão problemático para o sono REM quanto a cafeína é para o sono profundo), produtos farmacêuticos, horários de trabalho, poluição sonora e luminosa e ansiedade podem desempenhar um papel em minar a duração e a qualidade do nosso sono. Mas eis o que é especialmente insidioso a respeito da cafeína: a droga não é apenas uma das principais causas de nossa privação de sono; é também a principal ferramenta com a qual contamos para remediar o problema. A maior parte da cafeína consumida hoje está sendo usada para compensar o mau sono que a cafeína causa – o que significa que a cafeína está ajudando a esconder de nossa consciência o problema que a cafeína cria.

Chegou a hora de encerrar meu experimento de privação de cafeína. Eu estava ansioso para ver o que um corpo que tinha sido privado de cafeína por três meses experimentaria quando submetido a algumas doses de café expresso.

Eu tinha pensado muito sobre que tipo de café eu tomaria e onde. Optei por um “especial”, o termo do meu café local para um expresso duplo feito com menos leite vaporizado do que um cappuccino típico; é mais conhecido como um flat white.

Meu especial foi incrivelmente bom, uma lembrança de quão ruim é um descafeinado falsificado; aqui estavam todas as dimensões e profundidades de sabor que eu tinha esquecido completamente. Tudo em meu campo visual parecia agradavelmente em itálico, fílmico, e eu me perguntava se todas aquelas pessoas com seus copos de papelão envoltos em mantas tinham alguma ideia da droga poderosa que estavam bebendo. Mas como eles poderiam saber?

Eles haviam se habituado há muito tempo à cafeína e agora a usavam para outro propósito completamente diferente. Manutenção do básico, ou seja, um pequeno e bem-vindo impulso. Eu me senti sortudo por essa experiência ter sido disponibilizada para mim. Isso – junto com o sono incrível – foi o maravilhoso dividendo do meu investimento na abstenção.

E, no entanto, em poucos dias eu seria um deles, tolerante à cafeína e viciado novamente. Eu me perguntava: havia alguma maneira de preservar o poder dessa droga? Eu poderia conceber um novo relacionamento com a cafeína? Talvez tratá-lo mais como um psicodélico – digamos, algo para ser tomado apenas de vez em quando, e com maior grau de cerimônia e intenção. Talvez apenas beber café aos sábados? Apenas um.

Quando cheguei em casa, abordei minha lista de tarefas com um fervor incomum, aproveitando a onda de energia – de foco! – correndo através de mim, e colocá-la em bom uso. Eu limpava e arrumava compulsivamente – no computador, no meu armário, no jardim e no galpão. Eu limpei, capinei, coloquei as coisas em ordem, como se estivesse possuído. O que quer que eu focasse, eu focava zelosamente e obstinadamente.

Por volta do meio-dia, minha compulsividade começou a diminuir e me senti pronto para uma mudança de cenário. Eu tinha arrancado algumas plantas da horta que não estavam fazendo a sua parte, e decidi ir à floricultura para comprar algumas substitutas. Foi no caminho que percebi a verdadeira razão pela qual eu estava indo para esta floricultura em particular: tinha um trailer estacionado na frente que servia um café expresso muito bom.

Mãedioca na mesa: as suas possibilidades na culinária

Mãedioca na mesa: as suas possibilidades na culinária

Dia 22 de abril é uma data especial, pois é comemorado o dia da Terra, dia do suposto “descobrimento” do Brasil e Dia da Mandioca. São datas que significam tanto para a nossa história e talvez a mandioca representa muito sobre as nossas vidas aqui na terra, e, por isso, hoje trazemos esse conteúdo especial.

A mandioca está na nossa mesa há mais de 500 anos de Brasil. Embora os europeus tenham catalogado a planta quando chegaram nas terras americanas, a Mandioca é ancestral, é sabedoria da floresta amazônica, resiste e alimenta nossa nação até hoje. Uma raiz venenosa que, através da tecnologia indígena foi amansada (ou talvez os indígenas amansados por ela), ao longo dos anos, vimos os usos da mandioca e seus derivados se expandirem conforme o império brasileiro descia ao sul, e com isso, cada região adaptou o cultivo e uso culinário da mandioca às suas regiões.

No norte e nordeste os beijus, farinhas, e gomas são alimentos diários e compõem praticamente todas as refeições do dia. Desde a mandioca cozida, ao beiju e o açaí com tapioca ou farinha d’água.

Macaxeira também conhecida como Mandioca brava é a variedade mais comum ao norte – variedade essa que é venenosa e precisa ser utilizada com técnica, mas nos presenteia com o Caldo de Tucupi. A mandioca brava normalmente é usada na indústria para fazer farinhas, por conta do ácido cianídrico ela não pode ser consumida crua ou cozida sem processamento. 

Já a Mandioca Doce, é nomeada como Mandioca ou Aipim, é cultivada principalmente no sudeste e sul do Brasil, onde a farinha de mandioca, o aipim cozido e o sagu se fazem mais presentes.

Se fossemos listar cada receita com aipim não iríamos parar nunca, de tão abundante que essa planta é. Da planta in natura até seus subprodutos temos inúmeros itens que são usados na culinária e nas indústrias têxtil, farmacêutica e química, onde o amido de mandioca serve de matéria prima para inúmeros produtos como plásticos biodegradáveis.

Quando nos deliciamos com os usos da mandioca na nossa culinária, cada regionalidade vai falar por si. Eu, enquanto moradora do sul do Brasil, aprendi a comer mandioca ou aipim cozido servido com molho de carne, e as sobras fritas em óleo quente. Uma das sobremesas mais comuns aqui é o Sagu de Vinho, que embora seja uma tradição da colonização italiana, nada mais é do que pérolas de amido de mandioca cozidas no vinho ou suco de uva. Minha mãe prepara um ótimo sagu de laranja e meu pai ama Vaca Atolada, um típico prato da culinária tropeira feita costela bovina e aipim.

A farinha de mandioca crua ou torrada é um item essencial num churrasco aqui no Sul para preparar nossa amada farofa, que no Nordeste é consumida acompanhando qualquer refeição.

Na verdade, o que me inspirou a produzir este texto foi perceber que eu mesma ainda sei muito pouco sobre os usos da mandioca na nossa culinária, além do senso comum. Em 2020, durante a pandemia, aprendi a fazer Púba, que é a massa da mandioca fermentada.

É do processo de fermentação da mandioca que é feito os polvilhos (doce e azedo), assim como a goma de tapioca, a fécula de mandioca, e outras farinhas que utilizamos no dia a dia. Meu primeiro contato com a puba foi com a Ale Nahra (nossa amiga agricultora urbana). Nas suas redes sociais, Ale compartilhou o processo de fermentar a mandioca, que depois pode ser utilizada de várias maneiras como preparar bolos, pães, doces, a própria tapioca, entre outras iguarias. Lembrando que os processos de fermentação são ótimas estratégias de armazenamento de alimentos.

A primeira vez que fui reproduzir a técnica de pubar a mandioca, tive uma surpresa: minha mãe ao me ver preparando a mandioca lembrou que minha avó fazia da mesma maneira quando morava no campo, e assim fazia polvilho artesanalmente para fazer pães, bolos e bolachas. Foi uma emoção tremenda, tanto minha, quanto da minha mãe. Ela, por ter a memória viva da mãe dela, e eu, por estar aprendendo um saber ancestral.

Pesquisando sobre a puba fiz meu primeiro bolo de carimã, receita da querida Sandra Guimarães do blog Papacapim. Carimã é como é chamada a goma de mandioca fermentada, também conhecida como púba ou mandioca pubada. Além disso, Neide Rigo nos dá uma aula sobre os usos e farinhas de mandioca que vale a pena conferir.

Mil e uma possibilidades da Mandioca na Culinária

Mandioca in natura

É o alimento fresco, recém colhido. Da mandioca fresca podemos aproveitar a entrecasca, que pode ser usada de várias formas. Eu já preparei frita em imersão, na Air Fryer, fiz farofa, e cozida com molho vermelho. A raíz, que tem variedades brancas e outras em tons amarelados, podemos preparar cozida, assada, como purê, bolinhos salgados, e é matéria prima para outras formas de preparo.

Folhas da Mandioca

Cm as folhas da mandioca é feito um prato tradicional da culinária amazônica: a Maniçoba – feita com as folhas de maniva e carne de porco. Como um ensopado, as folhas de mandioca são cozidas lentamente, por mais de um dia e depois cozida com legumes, carne de porco e temperos. Apelidado de feijoada sem feijão, normalmente acompanhada de arroz e farinha d’água.

Goma de mandioca fresca

A goma é feita a partir da mandioca ralada ou processada, dessa fibra são feitos bolos, pães e biscoitos. No processo de manufatura é extraído o Tucupi, que é o caldo fermentado, muito usado na culinária amazônica. Além do Tucupi, da sedimentação do caldo o que se forma, temos o amido de mandioca, que também é conhecido como polvilho doce, goma seca, fécula de mandioca ou tapioca, e a farinha de mandioca seca ou torrada.

Tucupi

É o caldo fermentado da mandioca, uma tradição amazônica. Ele é extraído artesanalmente com o tipiti, uma tecnologia indígena. Feito de palha, o tipiti espreme a mandioca ralada para obter o caldo amarelo, que depois é fermentado por dias. Um dos pratos clássicos da culinária paraense é o Tacacá, feito com o tucupi, camarão e jambu.

Massa Fermentada, Massa Púba, Farinha de Carimã, Farinha D’Água

No processo de fermentação da mandioca ela é descascada, cortada em pedaços e deixada de molho em água por pelo menos 7 dias. O tempo de fermentação dependerá da temperatura ambiente e assim que ela estiver macia pode ser ralada numa peneira. Assim, pode formar uma farinha úmida que pode ser usada para fazer beijus, bolo de carimã, mingaus entre outras preparações. O caldo que sobra desse processo também se torna Tucupi, e o amido seco é o polvilho azedo.

Não só  as comunidades indígenas, mas também as comunidades de terreiro e comunidades quilombolas têm um papel importantíssimo na manutenção dos saberes tradicionais na fabricação de farinhas e beijus. No nordeste, por exemplo, a mandioca deu vida às paçocas, aos beijus, bobós, pirões e várias preparações da culinária afro-diaspórica. Na África, a mandioca também se faz presente, e com nossos ancestrais aprendemos a utilizá-la de várias maneiras, preparando muitas delícias. Deixo também como referência o trabalho da Chef Solange Borges (@culinariadeterreiro) com uma live muito bacana “Mulheres Solares apresentam: ‘A Farinha, a Casa e os Saberes” falando sobre o trabalho das Mulheres Solares e sua Casa de Farinha no interior da Bahia. 

Agora que você sabe tudo sobre a mandioca, aproveite para experimentar jeitos novos e farinhas diferentes! Mandioca é nossa mãe, o alimento presente na mesa de todos os brasileiros em todos os cantos do país, por isso sua importância histórica, cultural e soberana.

Texto por Natália Escouto

Saiba mais em:

Embrapa. Cultivares de Mandioca da Embrapa. Disponível em https://www.embrapa.br/cultivar/mandioca 

Maranhão R., Bastos S. Marchi M. Cultura e Sociedade no Sistema Culinário da Mandioca no Brasil. SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 28, n. 02, mai/ago 2015, p. 54 – 6 Disponível em https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/16893/pdf 

Menezes S. Sabores da Mandioca: A tradição do consumo das iguarias no Estado de Sergipe.  Ponta de Lança, São Cristóvão, v.6, n. 12 abr. 2013- out 2013

Rigo N. Da mandioca à tapioca e ao polvilho. Blog Come-se. Disponível em https://come-se.blogspot.com/2007/12/da-mandioca-tapioca-e-ao-polvilho.html

Rigo N. Da Mandioca aos seus produtos – carimã ou puba, polvilho, farinha de raspa ou cassava flour. Blog Come-se. Disponível em https://come-se.blogspot.com/2019/02/da-mandioca-aos-seus-produtos-carima-ou.html

Rigo N. Farinha de raspa de mandioca pode substituir o trigo em vários pratos. Fácil de fazer! Blog Come-se. Disponível em https://come-se.blogspot.com/2017/01/farinha-de-raspa-de-mandioca-pode.html 

Guimarães. S. Bolo de Carimã com goiabada. Blog Papacapim. Disponível em http://www.papacapim.org/2021/01/04/bolo-de-carima-com-goiabada/

Receita Maniçoba. Blog Paladar Estadão. Disponível em https://paladar.estadao.com.br/receitas/manicoba,10000084492

Farinha de Mandioca | Tipos de Farinha de Mandioca Site Cozinha Técnica. Disponível em https://www.cozinhatecnica.com/2021/05/farinha-de-mandioca-tipos-de-farinha-de-mandioca/