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Originária do sul do Brasil, a famosinha Ilex Paraguariensis nomeia uma das mais conhecidas músicas da banda sulista Engenheiros do Hawaii.

Essa erva, muito gaudéria, é amplamente consumida não só no sul do Brasil, mas também na Argentina, Paraguai e Uruguai. Trata-se de uma árvore que pode atingir mais de oito metros de altura com pequenos frutos e folhas ovais. Sim, estamos falando dela: a Erva-mate.

Seu uso, extração e cultivo vem de tradições antigas, oriunda dos povos indígenas da região, em especial os povos Guaranis e Quínchua. Conhecida como Kaaguy jerovia, a erva Mate é reconhecida como sagrada pelo povo Guarani. Esses povos batizaram essa erva de acordo com seu consumo que se dá em cuias.

Com o passar do tempo, o consumo foi se diversificando para o Chimarrão, Tererê e até mesmo o chá quente ou gelado.

Por ter origem indígena, durante o período de colonização, os padres da região proibiram o uso da erva, alegando prejuízos à saúde. Porém, essa medida não se manteve por muito tempo.

Atualmente, o cultivo da erva abrange diversas propriedades, principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. A maioria do cultivo ocorre em propriedades pequenas e médias, empregando milhares de pessoas e tendo um impacto social e econômico expressivo nas regiões de plantio.

A preferência do plantio por pequenos agricultores se dá pelo fato da erva mate ter melhor qualidade em áreas sombreadas, e nada mais sombreado do que o interior da floresta, não é mesmo? Mas, além de sua necessidade por sombra, o ciclo da erva mate, diferentemente do ciclo do café, manteve por muito tempo o extrativismo vegetal como principal forma de exploração. Isso também foi responsável pela manutenção da cultura do Mate.

No estado do Rio Grande do Sul existem diferentes aldeias que mantêm a cultura da erva mate, a Nhum Porã e a Tekoa Yvity Porã são exemplos, mantendo os rituais de carijó, preservando florestas nativas com suas ervateiras antigas e enormes.

Se por um lado isso foi importante para manter valores culturais, por outro, a erva mate sofreu com o avanço dos desmatamentos, das monoculturas e da pecuária, uma vez que a erva mate faz parte da produção de pequenas propriedades e também de florestas. Devido a isso, atualmente, apesar da grande produção de erva brasileira, a Argentina é a maior produtora de mate.

Em contrapartida, o Brasil é o segundo maior produtor, e ainda mantém os ervais nativos, colaborando assim com o extrativismo ervateiro que contribui com a manutenção e conservação de florestas, bem como a conservação de genótipos de Ilex. Portanto, mantemos a tradição com qualidade e garantindo a sobrevivência da natureza, sem esquecer dos impactos econômicos regionais.

Mesmo com toda essa “sustentabilidade” em sua produção, a erva mate também é cultivada em diferentes sistemas de produção sendo eles: ervais nativos extrativistas ou adensados, ervais plantados em silviagrícola ou em sistemas agroflorestais, sendo esse último o mais comum.

Os sistemas de plantação em larga escala e expostos ao sol são os menos comuns no Brasil. Particularmente nesses sistemas há o uso de aditivos químicos, porém, se trata de um tipo de exploração que afeta a qualidade da erva.

Outro ponto importante na cadeia produtiva são as condições de geração de renda dos povos extrativistas, que muitas vezes têm dificuldade de escoamento e condições precárias de trabalho, o que precisa ser discutido não só no caso da erva mate, mas de todos os setores que trabalham com o extrativismo.

Mesmo com algumas barreiras que precisam ser ultrapassadas dentro da produção de alimentos do Brasil, a Erva Mate ainda representa a resistência de uma cultura ancestral que hoje representa uma de atividades econômicas mais brandas, e que preza pela utilização sustentável da mata nativa, sendo um produto florestal não madeireiro de muita abundância e lucro.

A Erva Mate é o dinheiro que dá em árvore mas, para além da simples moeda, é cultura, é tradição, é segurança e soberania alimentar e nutricional de diversas comunidades.

A Erva mate é a riqueza que “dá em árvore”.

Por Kellen Vieira