Por Kellen Vieira
Hoje dia 20/04, na lógica da data estadunidense, dia 04/20 é o dia dela, a que tem vários nomes e apelidos, extremamente popular e polêmica, e com toda certeza muito versátil: A Maconha!
Membro da família Cannabaceae que inclui 11 gêneros e mais de 170 espécies que inclui a Cannabis sativa, Cannabis ruderalis e Cannabis indica, não se sabe ao certo quem foram os primeiros a registrar os usos da Cannabis em sua cultura.
Há indícios que os chineses já utilizavam a Cannabis para fins medicinais, bem como o cânhamo para a confecção de papel. Também há registros do uso da planta na Índia durante a era védica e, por fim, existem alguns registros da presença da cannabis na Pérsia.
Independente disso, sabemos que a cannabis era utilizada como um medicamento, sendo registrado na primeira farmacopeia da história: o livro chinês Pen Tsao. Lá era indicado o uso para alívio de dores articulares.
Registros históricos também mencionam a presença do cânhamo na fabricação de tecidos, papéis, palitos, óleo, velas e cordas de navio desde a Grécia e Roma antiga até o período de expansão marítima. Inclusive, as velas e cordas das caravelas portuguesas que vieram para o que hoje é o Brasil, eram feitas de cânhamo.
Por sua versatilidade de uso, a maconha já foi um dos principais produtos agrícolas europeus, marcando o momento renascentista onde as telas eram feitas a partir do cânhamo. Nesse sentido, a palavra canvas, que significa tela em diversas línguas, tem origem na palavra cannabis.
Desde tecidos, papéis e até mesmo como fonte de energia, a Cannabis tem usos muito além do seu popular psicoativo, o THC – cujo uso, de acordo com pesquisas recentes, acontece há pelo menos 2,5 mil anos.
Um outro uso da verdinha, é o comestível: ela é super nutritiva, com grandes concentrações de ômega 3 e ômega 6. Além disso, é rica em proteínas e minerais. A sua semente, riquíssima em aminoácidos, ácidos graxos e proteína, é utilizada como ingrediente em pratos indianos como Bosa, Mura, Bangue e até mesmo em Chutneys. Algumas etnias sul-africanas também utilizam a semente na alimentação de bebês devido ao seu valor nutritivo.
Além da semente, as folhas também podem ser utilizadas para fazer desde infusões, até pratos mais elaborados como: Pesto, biscoitos, molho chimichurri e saladas.
É importante enfatizar que o THC, canabinóide responsável pelos efeitos psicoativos, estão presentes de maneira insignificante na semente e leve nas folhas, ou seja, o consumidor pode ficar tranquilo que não ficará “chapado”.
Talvez você já tenha ouvido falar de Cruzeta, no Rio Grande do Norte. Uma cidade pequena, que ficou famosa por uma matéria jornalística de 1996 que se popularizou nos últimos anos no YouTube. Na pequena e pacata cidade, vários habitantes faziam uso medicinal de uma planta conhecida por “liamba”, chegando a cultivá-la nos canteiros da cidade. Confira a matéria:
Em 2018, a BBC fez uma longa matéria sobre o caso na cidadezinha. A planta, que se tratava de uma variação de maconha, foi identificada por um policial que deu início a uma investigação na cidade. Os habitantes que faziam uso da planta, em sua maioria, eram idosos e ficaram muito assustados, com medo de serem presos.
Portanto, apesar desse histórico de usos, atualmente a Cannabis não é legalizada no Brasil para o uso geral, então nada de plantar e dizer que é para botar na salada viu?
De qualquer forma, é importante que a gente abra o diálogo sobre o porquê uma planta é proibida. Mesmo que para tratamentos medicinais com eficiência comprovada em diversos países, como o excelente tratamento para epilepsia, por exemplo. Aqui no Brasil, pessoas enfrentam ações jurídicas para acessar medicamentos à base de cannabis. E, mesmo para o uso recreativo, é necessário questionar a quem serve o interesse de manter esse proibicionismo que trava uma guerra perdida e que leva o Brasil a índices exorbitantes de violência e mortes principalmente de corpos pretos e periféricos.