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Milena Ventre  

Por dezenas de milhares de anos a água e o clima operaram para que rochas fossem decompostas e é deste movimento que surge o solo. Inicialmente o solo era uma estrutura simples, não tendo a capacidade de acumular água e os nutrientes necessários para manter formas de vida. Os primeiros seres vivos a habitar o solo foram os líquens, capazes de recolher água do ambiente e capturar nitrogênio.

Numa dança de milhões de anos, essa interação de líquens + solo permitiu que novas espécies pudessem existir, tal como o surgimento das plantas terrestres e suas micorrizas* (fungos+raízes)*, as quais aumentaram a absorção de nitrogênio e outros nutrientes do solo e rochas.

O solo é 50% sólido, o restante é composto de “vazio” (ar, vapor d’água e pequena quantidade dela em estado líquido). É neste “espaço vazio” que a vida dos microrganismos existe, criando conexões com as plantas e permitindo o movimento de nutrientes.

As plantas e sua capacidade fotossintética, capturando gás carbônico (CO²) disponível na atmosfera por meio de suas folhas e transformando-o em carboidrato, levando diretamente ao solo através de suas raízes, permitindo, assim, que outras formas de vida possam se constituir. Por isso, fungos e bactérias se conectam as plantas e, em contrapartida, fornecem fósforo, magnésio, enxofre, zinco, cobre e tudo mais que as plantas precisam para se desenvolver. No instante em que as plantas vivem, toda uma infinidade de animais também podem existir, e esses permitem a existência de outros, formando assim, não uma pirâmide, mas uma rede viva e mágica.

 

A vida no solo se expandiu muito! Só de plantas conhecemos umas 350 mil espécies, inclusive árvores com até 83 metros de altura ((quê lokura né!?)) imagina todas as conexões subterrâneas que ela tem, e a capacidade de organizar e estruturar carbono.

A maior árvore do mundo

 

Nessas conexões subterrâneas, entre o solo e as plantas, foram cocriados caminhos de água pelo planeta, que permeiam desde as folhas pela sua transpiração às raízes pela troca com o solo, passando pelas rochas, pelos rios e mares, abastecendo os lençóis freáticos e formando as nuvens, compondo, assim, os ciclos hidrológicos.

E o solo, cenário onde ocorrem muitas dessas conexões da vida, abriga um ser que tem uma relação muito especial conosco seres humanos: estamos falando da Mycobacterium vaccae, uma bactéria que, em contato com nosso corpo, estimula nosso cérebro a desenvolver proteínas anti-inflamatórias, auxiliando na redução do estresse e da ansiedade. Que querida ela, não?!

Porém, num dado momento, a humanidade decidiu destruir toda essa criação, toda essa engenharia da vida, desde as sementes, os cursos d’água, as árvores milenares, bactérias e fungos, os elementais, ecossistemas, a biodiversidade… Um plano voraz com foco no PIB que conta as toneladas de alguns 2 ou 3 grãos, controla toda as plantações com adubos químicos e venenos, rezando para que a chuva caia sobre as lavouras.

No ano de 2022 estamos tendo perdas imensas devido a seca. No Paraná, a quebra na safra em função da estiagem chega a 40%, com um prejuízo estimado em R$ 22,5 bilhões, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura.

É evidente que não há como seguir este caminho. Se faz urgente a criação de novos olhares sobre a vida, compreendendo a terra e reinventando a alimentação. Por isso é tão importante que conheçamos os mistérios do planeta e seus fluxos e processos ecológicas para manutenção da vida na Terra. Conhecer o universo do solo é a chave para compreendermos que somos interdependentes de todos os espaços, estruturas naturais e seres vivos que dançam nessa teia da vida.

Ainda há muito o que desbravar no entendimento de como o solo é importante para a vida no planeta. Precisamos captar seus ensinamentos e ressignificar nossas conexões e a alimentação é um portal possível para essas transformações.

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