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   Foto: Ricardo Stuckert

Bruna Crioula

O restaurante Camélia Ododó, estabelecimento da nutricionista, ativista alimentar e apresentadora Bela Gil, foi palco na última quinta-feira (24) de um jantar entre militantes pela Comida de Verdade e o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores). O principal objetivo deste evento foi declarar apoio nas ações de campanha para o ex-presidente, como também promover o diálogo e reforçar a importância de considerar as pautas de soberania e segurança alimentar e nutricional, combate à fome e fortalecimento da agricultura familiar agroecológica e/ou orgânica no seu plano de governo.

Agricultores, referências sociais, políticas, acadêmicas e culturais nas áreas de alimentação, nutrição e ecogastronomia participaram do coquetel, tendo como anfitriãs a própria Bela Gil, a chef de cozinha Bel Coelho e a comunidade Levante Slow Food Brasil. Nomes como Regina Tchelly do projeto Favela Orgânica; Denise Cardoso, presidente da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); Lina Luz da Escola de Gastronomia Social do Ceará; e Marcos José de Abreu (Marquito), ambientalista e vereador pelo PSOL em Florianópolis; demonstram a diversidade de experiências locais brasileiras comprometidas com as lutas pela garantia do direito humano à alimentação adequada para a população brasileira.

Alimentação é um fenômeno bio-sociocultural que se manifesta nas diferentes dimensões da organização humana, perpassando questões políticas e econômicas. Por isso, esta é uma pauta atemporal e estruturante que precisa fazer parte de maneira transversal nas políticas públicas no Brasil. Considerando o contexto de pandemia global e todos os desdobramentos oriundos das crises sociais, políticas e econômicas que o Brasil enfrenta hoje, especialmente pela necropolítica promovida pelo atual governo federal, é necessário restabelecer estratégias e estruturas públicas que combatam o expressivo contexto de fome e miserabilidade da população brasileira.

A defesa da Comida de Verdade, noção forjada tanto no âmbito da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, Agroecologia e Alimentação Saudável e Adequada é uma bandeira comum na mobilização social para promover mudanças radicais nos sistemas alimentares, assim como no enfrentamento à fome e à crise climática global. Nesse sentido, a rede Slow Food Brasil tem uma trajetória de mais de vinte anos de atuação no território nacional, comprometida com estas pautas, tendo a gastronomia sustentável e a conexão campo-cidade como foco de trabalho em todas as regiões do país.

Considerando que este tema necessita ter grande ênfase na campanha presidencial de 2022 e que os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), seminalmente, nos mandatos de Lula, tiveram o compromisso de concretizar políticas públicas de combate à fome, fortalecimento da agricultura familiar e tradicional e da estruturação de um Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil; há o reconhecimento de que a atual candidatura presidenciável de Lula é um fôlego de esperança, tendo em vista as ações do atual governo federal nos desmontes institucionais, de políticas públicas e da agenda política pautada pelo agronegócio que contribuíram para o cenário de insegurança alimentar e nutricional de mais da metade da população, especialmente famílias chefiadas por mulheres negras nas favelas brasileiras. Os ativistas que compuseram este jantar acreditam que este panorama histórico descreve e justifica a manifestação de apoio deste grupo à candidatura do ex-presidente Lula, com a entrega de uma carta que apresenta as contrapartidas de incidência política durante a campanha e após a esperada e desejada posse, colocando-se à disposição no suporte, enquanto sociedade civil, na efetivação das demandas propostas que foram registradas neste documento.

Entre as falas proferidas no coquetel, Lula compartilhou histórias vividas em sua caminhada relacionadas aos sistemas alimentares brasileiros apresentando sua dedicação às lutas de combate à fome e garantia de acesso a alimentos para populações em situação de extrema vulnerabilidade social. Reforçou a necessidade de criar mecanismos de proteção para as políticas públicas ligadas à Segurança Alimentar e Nutricional e que esses temas sejam amplamente divulgados entre a população.

“O Brasil precisa entrar num novo tempo. É preciso popularizar. É preciso tirar o conceito de alimentação saudável/orgânica da boca dos especialistas para a boca do povo”, afirmou o ex-presidente. Para Lula, a alimentação saudável tem que entrar na pauta tanto quanto assuntos como emprego e educação, demonstrando o compromisso com as demandas compartilhadas durante a roda de conversa no Camélia.

Para a anfitriã Bela Gil, este encontro foi um passo em direção à democratização dos significados da alimentação saudável, lembrou que a fome é um projeto político que retira das pessoas a possibilidade de autonomia para fazer escolhas alimentares adequadas. Também reformou a necessidade de incluirmos a reforma agrária de maneira transversal nas políticas públicas agrárias, ambientais e de promoção à saúde.

“Democratizar a alimentação significa democratizar a terra. O Brasil é um dos países com maiores índices de concentração de terra, resgatar a reforma agrária é fundamental”, afirma Bela.

Sem dúvida, o evento foi um espaço fraterno de partilha de experiências múltiplas de pessoas que trazem nas suas trajetórias o empenho nas lutas por soberania e segurança alimentar e nutricional. No decorrer do encontro, a comunidade Levante Slow Food Brasil presenteou o presidente com um estandarte confeccionado pelo coletivo de mulheres Linhas de Sampa para o evento internacional da rede Slow Food Terra Madre, ocorrido em 2018 na Itália. Com a mensagem “Lula Livre” em inglês e italiano, o emblema era um ato de denúncia à prisão do presidente em Curitiba no mesmo ano. Um momento que marca toda a emoção e entusiasmo com que o jantar aconteceu.

Esperança e força foram expressões muito mencionadas num consenso do coletivo presente de enfrentar os desafios postos durante a campanha presidencial este ano a fim de alcançar o objetivo de eleger Lula como presidente do Brasil no próximo mandato. Sem a pretensão de findar esse debate, o evento inaugura novas oportunidades de articulação para a realização de ações conjuntas planejadas e executadas de maneira dialógica e propositiva na construção de sistemas alimentares inclusivos, equânimes e solidários. Acesse a carta de apoio elaborada pelos ativistas alimentares aqui.

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 Bruna Crioula é nutricionista ecológica, comunicadora popular e             pesquisadora alimentar. Atua na popularização da biodiversidade brasileira   há 12 anos. É sócia-fundadora da Crioula | Curadoria Alimentar, empresa   social protagonizada por mulheres negras, comprometida na criação de   soluções ecológicas nos sistemas alimentares, da produção ao consumo.   Contato: @brunacrioula ou brunacrioula@gmail.com