A PANC de hoje é nativa da Ásia Tropical, isto é, da região de clima tropical da Ásia, que inclui Bangladesh, Camboja, Índia, Indonésia, Laos, Mianmar, Tailândia e Vietnã. Ela é conhecida como lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) e se tornou espontânea no Brasil, sendo encontrada em quase todos os estados do país, principalmente em Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Na Ásia, a planta é chamada de gandasuli em diversos idiomas, como no bengalês, hindi, indonésio e javanês. Há relatos de que, no período colonial da História do Brasil, o lírio-do-brejo era utilizado pelos africanos escravizados para acolchoar o chão onde se deitavam.
O lírio-do-brejo é uma planta herbácea que dá o ano todo, verdejante, com hastes não ramificadas e folhas laminares, sem pecíolos, que se desenvolvem desde a base, chegando a medir até cerca de dois metros de altura. O lírio gosta de terrenos alagados, banhados, brejos, charcos e várzeas pantanosas. A planta não tolera regiões e terrenos secos. Ela é, muitas vezes, considerada uma planta invasiva pelos agricultores e que prejudica a biodiversidade local.
O lírio-do-brejo também é chamado de gengibre-do-brejo, porque seus rizomas são muito semelhantes aos rizomas do gengibre (Zingiber officinale). Seus rizomas são comestíveis e ricos em amido. Eles possuem um perfume intenso e o sabor é adocicado. É muito difícil descrever o sabor dos rizomas dessa planta, pois é singular. O lírio-do-brejo vai muito bem em doces.
Embora os sabores sejam diferentes, ele pode também substituir o gengibre em pratos e bebidas comumente preparados com os rizomas [de Zingiber officinale], como o quentão, o suco de abacaxi com gengibre, torta de limão com gengibre, sorvete com gengibre, geleia de abacaxi com gengibre, dentre outras possibilidades culinárias. Basta substituir o gengibre pelos rizomas de lírio-do-brejo. Fica uma delícia!
Jasmim-borboleta também é outro nome dado para a espécie Hedychium coronarium, devido ao seu odor semelhante ao de algumas espécies de jasmim; e, vistas de longe, as flores de lírio-do-brejo se parecem com borboletas brancas! Por isso o nome jasmim-borboleta. Há também uma variante da planta com flores rosadas, mas que é muito incomum.
A propagação do lírio-do-brejo se dá através do enraizamento dos rizomas, por sementes ou por divisão de touceiras. Ele cresce muito rápido e se difunde com facilidade. Possui grande capacidade de adaptação. O lírio deve ser cultivado à sombra e em solos ricos em matéria orgânica.
Se você mora em uma região de clima tropical ou subtropical úmido, você com certeza vai encontrar essa planta em praças com pequenos açudes ou em terrenos alagados. No município de Três Forquilhas, no Rio Grande do Sul, por exemplo, além dos bananais, há centenas de lírios-do-brejo ao longo de banhados e do Rio Três Forquilhas. Dá para sentir o perfume das plantas de longe!
Texto por André Torresini
Saiba mais em:
CASTRO, Wagner Antonio Chiba de. Ecologia da invasora Hedychium coronarium J. König (Zingiberaceae). 2014. 97 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2014.
KINUPP, V.F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa: Instituto Plantarum de estudos da flora Ltda., 2014.
MARTINS, A.Q. Contribuição para o conhecimento de Hedychium coronarium K. (lírio-do-brejo). Lilloa, v.16, p.243-49, 1949.
MARTINS, M.B.G et al. Caracterização anatômica e fitoquímica de folhas e rizomas de Hedychium coronarium J. König (Zingiberaceae). Rev. bras. plantas med., Botucatu, v. 12, n. 2, p. 179-187, Junho, 2010.
SANTOS, S.B.; PEDRALLI, G.; MEYER, S.T. Aspectos da fenologia e ecologia de Hedychium coronarium (Zingiberaceae) na estação ecológica do Tripuí, Ouro Preto-MG, Planta Daninha, v.23, n.2, p.175-80, 2005.