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Conheça a uva-japonesa!

Conheça a uva-japonesa!

A Hovenia dulcis é uma planta ornamental que se tornou uma alimentícia não convencional!

Ela é conhecida pelos nomes comuns de Uva-do-japão, uva-japonesa, caju-do-japão e tripa-de-galinha. Trata-se de uma árvore que perde as folhas no inverno ou na estação mais seca do ano, cresce até cerca de 30 metros de altura, possui tronco cilíndrico, grosso e com casca espessa, com até 50 cm de diâmetro. 

As folhas da Uva-do-japão são simples, têm forma oval, flexíveis, sem penugem e são perpassadas por nervuras. Suas inflorescências possuem flores brancas. Os ramos das inflorescências se tornam espessos e suculentos (pseudofrutos) ao amadurecer, adquirindo a cor marrom e sabor agridoce, em cujas extremidades se formam bolinhas (os verdadeiros frutos) que armazenam minúsculas sementes marrons.

A Uva-do-japão é nativa do leste da Ásia: China, Península Coreana e Japão. No Japão, é chamada de Kemponashi. Na China, chama-se de kouai tsao. Atualmente, é possível encontrar a planta também na Argentina, Brasil, Cuba, Estados Unidos, Paraguai, Uruguai, Sul da Europa e Norte da África. No Brasil, a Uva-do-japão é amplamente cultivada na arborização paisagística da Região Sul, tornando-se subespontânea. É muito comum ver árvores de uva-do-japão nas ruas das cidades do Rio Grande do Sul e no Oeste de Santa Catarina, por exemplo. Sua propagação se dá através das sementes e por estaquia. Ela tolera geadas, mas seu desenvolvimento diminui com frios intensos. A seca e o calor excessivos podem matar a planta.

Seus pseudofrutos são comumente consumidos frescos e com um preparo culinário adequado podem servir como base para doces, sucos, vinhos e geleias. O sabor dos pesudofrutos é intensamente doce, porque contêm elevado teor de açúcares (dissacarídeos de sacarose) em sua composição. Quando desidratados, em forma de passas, os pseudofrutos podem ser armazenados por meses. Também podem ser usados na produção de frisantes e cervejas. Seu suco é muito bom e naturalmente adoçado, sendo utilizado na cultura popular para amenizar ressacas. É uma fonte rica em fibras, vitamina C e minerais como cálcio, magnésio ferro, zinco, manganês e cobre.

Texto por André Torresini

Saiba mais em:

CARVALHO DE CASTRO, Tatiana et al . Caracterización de pseudofrutos, semillas y plántulas obtenidas a partir de la geminación in vivo e in vitro de la especie medicinal Hovenia dulcis (Rhamnaceae). Ver. Cubana Plant. Med,  Ciudad de la Habana, v.10, n.1, abr. 2005 .

Embrapa. Uva-do-japão (Hovenia dulcis Thunb.): valor nutricional e aceitabilidade. 2015. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1038599/uva-do-japao-hovenia-dulcis-thunb-valor-nutricional-e-aceitabilidade

SCHNEIDER, A. A. A flora naturalizada no estado do Rio Grande do Sul, Brasil: herbáceas subespontâneas. Biociências, Porto Alegre, v. 15, n. 2, p. 257-268, 2007.

Chocolate dos Deuses: dos Maias aos Capitalistas

Chocolate dos Deuses: dos Maias aos Capitalistas

Por Betina Aleixo

É muito provável que quando você tem vontade de comer um doce, recorra a um chocolatinho. Todos nós fazemos isso. Ele pode ser um presente de páscoa, de aniversário ou apenas uma recompensa depois de um dia cheio. Além de muito gostoso, o chocolate é acessível para a maioria da população e está presente na maioria dos estabelecimentos que comercializam alimentos. Do mercadinho de bairro à farmácia, é possivelmente o doce mais consumido no ocidente e é responsável por um nicho de mercado imenso e poderoso.

No entanto, as crises climáticas e humanitárias trouxeram à luz vários problemas que envolvem a produção de chocolate no mundo. Sem a pretensão de condenar o consumo de chocolate, vamos debater os recortes históricos, acontecimentos recentes e nos aprofundar nas discussões socioambientais que cercam a indústria do chocolate.

Chocolate Sagrado

Para saber onde estamos, precisamos saber de onde viemos. E o chocolate está longe de ser uma invenção de séculos atrás: é um alimento milenar e sagrado, muito diferente do que conhecemos hoje.

As civilizações mesoamericanas já cultivavam e preparavam as sementes de cacau por volta de 1900 a.C. para preparar uma bebida utilizada em cerimônias religiosas e eventos da realeza(1). A bebida era considerada revigorante, era temperada com pimenta, espumante e tinha sabor amargo. Independente das diferenças culturais, as civilizações mesoamericanas acreditavam que o cacau era um alimento sagrado dado aos humanos pelos deuses.

Com as grandes navegações, financiadas pelos impérios europeus, em 1519, Hernán Cortez e sua tripulação chegam no que hoje conhecemos como América Central, e entram em contato com a civilização asteca e a corte do Rei Montezuma(2).

Infelizmente este vídeo não possui legendas em português, mas é um excelente conteúdo sobre a história do chocolate durante a colonização europeia.

Os astecas apresentam aos espanhóis a sua bebida, seu cacau e sua cultura. E quando os espanhóis retornam para a Europa, levam consigo muitas sementes de cacau para apresentar à corte. Com o passar do tempo, e a adição de açúcar, mel ou baunilha, a bebida foi se tornando mais palatável ao gosto europeu e assim foi se popularizando nas cortes de diversos países, até se tornar o doce popular que conhecemos hoje.

É interessante pensar nos diferentes significados de um alimento para cada civilização, e na história que cada alimento carrega. Sim, os astecas apresentaram a Cortez o seu sagrado e precioso cacau e, mesmo assim, tiveram sua confiança traída: a civilização asteca, assim como outros povos mesoamericanos, tiveram seu povo, seu reino e sua cultura dizimados pelos invasores espanhóis em massacres sangrentos.

O cacau foi do sagrado à commodity, e, tanto a história dos mesoamericanos quanto a do chocolate são contadas pelos europeus. Por muito tempo, os únicos registros pré-colonização que tínhamos sobre o uso do cacau diziam respeito às culturas mesoamericanas. No entanto, pesquisas recentes indicam uma nova história por trás do fruto dos deuses.

O cacau é Amazônico

 

Em 2013, uma pesquisa desenvolvida por arqueólogos equatorianos e franceses apontou que o cacau tem origem amazônica(3), com base em resquícios encontrados em recipientes na província de Zamora Chinchipe, na Amazônia equatoriana.

Ao submeter os materiais encontrados a testes de carbono 14, os arqueólogos constataram que o cacau já era utilizado há mais de 5,5 mil anos e que a planta existe na Amazônia Equatorial por, pelo menos, 7 mil anos(4).

Para Francisco Valdez, que dirige a missão de pesquisa na jazida Santa Ana-La Florida, as evidências apontam que a cultura Mayo-Chinchipe-Marañón possuía uma sofisticação social complexa e que, possivelmente, houve relação entre culturas dos Andes e da costa do Equador.

Neste sentido, é sugerido que de alguma forma as sementes de cacau foram levadas da região amazônica até a América Central, onde temos a teoria de origem mais conhecida.

No entanto, para além da origem, existem outros aspectos do cacau que são desconhecidos para a maioria das pessoas. Por exemplo, as variedades de cacau existentes(4): tanto as diversas plantas da variedade Theobroma, quanto outras plantas da variedade Pachira, que entram na categoria popular de “cacau-selvagem”.

Fizemos um conteúdo especial sobre as variedades de cacaus classificados como PANC. Você pode conferir aqui.

E mesmo para a indústria do chocolate existem variedades e variedades de cacau (Theobroma cacao L.), algumas mais valiosas do que outras. Curiosamente, os resquícios de cacau amazônico encontrados na pesquisa dirigida por Valdez, pertenciam a uma variedade “cacau fino”, muito apreciada atualmente pela indústria do chocolate.

 

Os gigantes do chocolate e o cacau

 

Talvez você nunca tenha ouvido falar da Mars Inc. ou da Mondelez, mas com certeza conhece os M&M’S e o Bis. Estas e outras empresas com nomes mais conhecidos como a Nestlé, Hershey’s, Ferrero, e muitas outras, compõem um mercado imenso(6) de fabricação de chocolates – os chocolates que a maioria de nós conhece, consome ou já consumiu em algum momento da vida. Estes, são produzidos a partir das sementes do cacau forastero, espécie mais comum e mais cultivada ao redor do mundo.

Existem três variedades dominantes de cacau: o forastero, que corresponde a mais de 80% da produção mundial(7) e é considerado como de “qualidade inferior”; o criollo, que é a variedade mais antiga de cacau conhecida – seriam estes os frutos utilizados pelos mesoamericanos em seus rituais – é considerado um insumo de altíssima qualidade, é utilizado apenas por fabricantes de chocolates premium e corresponde por 1% da produção mundial e pode valer até 3 vezes mais do que o cacau comum; e a variedade trinitario, que se trata de um híbrido entre o forastero e o criollo, intermediário entre valores e qualidade, é cultivado em vários lugares do mundo e corresponde a 5% da produção mundial de cacau. Também existem outras variedades de cacau, híbridas e crioulas, que são cultivadas em quantidades menores(8), e mesmo dentro das 3 variedades dominantes de cacau há inúmeras classificações internas dadas pela indústria(9).

Para produzir os chocolates que comemos, as grandes fabricantes muitas vezes compram o chocolate já processado, ou os subprodutos do cacau que compõem o chocolate: massa de cacau, licor de cacau, manteiga de cacau, etc. Essa mistura e processamento de ingredientes acaba descaracterizando certos aspectos do cacau, padronizando sabor e textura.

Então, se por um lado temos estes imensos conglomerados empresariais por trás da fabricação massificada de chocolate que comemos, existem outras empresas menores que atendem um público com muito poder aquisitivo para consumir chocolates finos e exclusivos. 

Dois exemplos de produtos deste “seleto” mercado, que muitos desconhecem, e são válidos para a nossa análise aqui:

chocolate ruby

Chocolate Ruby | Comercializado como o 4º tipo de chocolate (amargo, ao leite, branco e ruby), se trata de um chocolate de coloração naturalmente rosa, criado pela Barry Callebaut, uma das maiores processadoras de cacau do mundo. Os cacaus utilizados na produção deste chocolate são as mesmas espécies que citamos aqui. A diferença está no processamento das sementes, que dão a coloração rosa ao chocolate e o sabor mais ácido. Como é feito exatamente? É segredo industrial. A Nestlé foi a primeira marca a criar uma versão comercial para a Kit Kat, que chegou a ser comercializada aqui no Brasil(10).

Fortunato n4

Fortunato nº4 | Considerado “o Rolex dos Chocolates”, é comercializado de forma limitada a fabricantes de chocolate finos, encontrados em distribuidores nos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido. No entanto, o cacau que dá origem a esse cobiçado chocolate é cultivado no norte do Peru. Trata-se da variedade mais antiga de cacau, considerada extinta desde o início do século XX, e reencontrada acidentalmente em 2007 por dois americanos. Resultado deste encontro? Descoberta de um cacau que produz o que se considera um dos melhores chocolates do mundo e um acordo comercial com fabricantes renomados de chocolate na Suíça(11).

Além da Suíça e Bélgica serem países referência em qualidade de chocolate [e incluírem a lista de países que mais consomem chocolate no mundo(12)], são nestes países de primeiro mundo que ficam localizadas as sedes das maiores fabricantes de chocolates, tanto os conglomerados gigantes da alimentação (leia-se, Nestlé) quanto os fabricantes de chocolates finos.

Mas o que mais estes distintos mercados de chocolate têm em comum?

A origem do cacau. Nenhum destes países produzem cacau, apenas o chocolate. Para a produção de chocolates finos, há os cultivos de cacau na América Central, América do Sul e até mesmo Ásia(13). Para a produção dos chocolates comuns, países da África são os principais fornecedores das sementes. Destes, a Costa do Marfim e Gana correspondem a 60% da produção mundial de cacau(14).

Sabor amargo

Em um documentário de 2010, chamado “The Dark Side of Chocolate” (O Lado Escuro do Chocolate), o diretor e roteirista Miki Mistrati e sua equipe se infiltram nas plantações de cacau da Costa do Marfim e registram os inúmeros jovens e crianças, entre 7 e 15 anos de idade, trabalhando em plantações em condições análogas à escravidão. O documentário trouxe fortes denúncias e embates com a indústria do chocolate, mas não houveram consequências para os fabricantes(15)

Se há denúncia, mas não há consequências, nada muda. No entanto, em 2021 o jogo parece virar.

Somente agora as multinacionais tiveram sua iniquidade abalada por uma ação judicial nos Estados Unidos. A peça elaborada pela organização de direitos humanos International Rights Advocates (IRA) relaciona as empresas Nestlé, Mars e Hershey, além de Cargill, Mondelez e Barry Callebaut(16) ao tráfico de crianças, exploração do trabalho infantil e trabalho em condições análogas à escravidão, em países da África Ocidental.

Mesmo com denúncias desde 2005, é a primeira vez que a indústria do chocolate enfrenta este tipo de ação nos Estados Unidos.

Com o depoimento de 8 jovens do Mali, relatando o seu sequestro para trabalhar em plantações de cacau no país vizinho, Costa do Marfim, o texto da ação judicial argumenta que estes jovens representam milhares de outras crianças e jovens que se encontram na mesma situação.

Em um estudo elaborado pela Universidade de Chicago, apontou-se que entre 2018 e 2019, em Gana e Costa do Marfim, aproximadamente 43% da sua população de crianças e jovens, entre idades de 5 a 17 anos, trabalham em plantações de cacau, sob condições perigosas – como uso de facões e aplicação de pesticidas.(17)

Palavras talvez não sejam o suficiente para expressar o absurdo da situação. Então, vamos colocar em desenhos e gráficos:

Gráfico 01

A marca atual e assustadora de 1,56 milhões de crianças e jovens, somente nestes dois países, representa um aumento de 14% no trabalho infantil nas plantações, entre 2018 e 2019, e um aumento de produtividade para a produção de cacau em 62% no mesmo período(18).

Vale ressaltar que, em uma investigação feita pelo jornal estadunidense The Washington Post, estimou-se que a indústria global de chocolate movimenta cerca de US$103 bilhões em vendas anuais. Contudo, ao longo de 18 anos, o setor investiu um pouco mais de US$150 milhões para combater as violações de direitos humanos que envolvem a produção de cacau(19). Extrapolando os valores e dividindo por ano, este investimento da indústria equivaleria a 0,008% das suas vendas.

Gráfico_investimento

Você pode pensar “bem, os produtores de cacau devem lucrar muito”. Ledo engano. Os agricultores ganham, em média, de 45 a 47 centavos por dia. Este cenário de exploração degradante, somado à criação do AFCFTA – African Continental Free Trade Area (Zona de Comércio Livre Continental Africana), faz com que Gana seja um dos países a cogitar uma coibição de importações de cacau para a Suíça para iniciar uma produção própria de chocolates(20).

Além da crise humanitária alarmante, a produção de cacau nestes países da África Ocidental está relacionada a níveis altíssimos de desmatamento florestal(21). E o cacau não é o único insumo polêmico na produção do chocolate. O óleo de palma, que é amplamente usado na indústria alimentícia, também integra a lista de vilões do chocolate que causam devastação ao meio ambiente.

Curiosidade: O óleo de palma é muito conhecido e usado no Brasil. Aqui, chamamos de azeite de dendê. Ingrediente fundamental na culinária nordestina e nortista.

O cacau brasileiro: passado e futuro

 

Tudo pode parecer muito distante quando falamos em países africanos, do outro lado do Atlântico. Mas o Brasil mesmo já foi um dos maiores produtores de cacau do mundo. Com os primeiros registros de cacau na Bahia datados em meados de 1600, o Brasil teve o início do cultivo de cacau para fins comerciais em 1830, e, até os anos 90, passando por diversas mudanças sociopolíticas, a produção de cacau brasileiro ocupava as principais colocações em rankings de exportação(22).No entanto, um fungo veio para mudar tudo. A “vassoura de bruxa” dizimou as plantações de cacau na Bahia. Esta situação, somada à queda dos preços no mercado internacional da época, fez com que o setor sofresse uma grave crise(22) e não voltasse ao mesmo patamar. 

De acordo com uma publicação do Ministério da Agricultura, de 2019, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de produção de cacau(23), e existem muitas ambições do setor de retomar os primeiros lugares.

Esta sinalização de interesse deve acender alguns alertas. É bem verdade que os alimentos nativos do nosso país são diversos, abundantes e com um imenso potencial de comércio sustentável, por enquanto sub explorado. No entanto, há de se ter cuidado para não transformar essa valorização de alimentos brasileiros em um novo “boom de commodities”. 

Para existir um futuro saudável do Brasil dentro dos mercados de exportação de cacau, é preciso que se leve em conta os problemas socioambientais enfrentados pelos países que detém os maiores índices de produção. Afinal, aumentar vendas e produção com base em exploração infantil e desmatamento não deve ser um objetivo almejado, não é mesmo? Este alerta é importante, pois, ainda hoje, com uma produção consideravelmente menor do que Gana e Costa do Marfim, o Brasil ainda enfrenta diversas denúncias de trabalho análogo à escravidão em plantações de cacau(24).

Você já se perguntou se quem planta o cacau, chega a comer o chocolate(25)? A maioria das pessoas que prestam serviços de base no nosso país, infelizmente, não desfruta do produto do seu trabalho. E esta é uma realidade dura de alienação e expropriação da Vida.

No entanto, na contramão desta mentalidade hegemônica de produção e consumo, existem diversas iniciativas, e até mesmo empresas pequenas da indústria do chocolate, que prezam pela qualidade de vida e trabalho dos agricultores e do meio ambiente.

 

Chocolate que faz bem para as pessoas e o planeta

 

A maioria do cacau plantado no Brasil é cultivado em sistema cabruca, onde se preserva a vegetação nativa para auxiliar no crescimento dos cacaueiros. Apesar desta técnica não se restringir apenas a plantações orgânicas, é amplamente utilizada em produções orgânicas e agroecológicas.

O movimento da Reforma Agrária é um dos maravilhosos exemplos de cultivo de cacau e produção de chocolates ecológicos e de qualidade. Em movimentos como Teia dos Povos, Povos da Mata e o Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (Ceta), muitos agricultores e agricultoras, que antes trabalhavam numa lógica de exploração, hoje são apresentados a um processo de trabalho emancipatório. Dos saberes de povos tradicionais para o cultivo do cacau, até à produção das barras de chocolate, os agricultores são incentivados a participarem de todas as etapas de produção(26).

Não basta ser “bean-to-bar” (do grão à barra) –  movimento de produção artesanal de chocolate, que visa uma cadeia curta de produção – para ter um chocolate de qualidade. A qualidade vai muito além do sabor. Por isso, separamos aqui algumas marcas brasileiras de chocolate que utilizam matéria prima orgânica e cacau de produção cabruca.

outros cacaus

Nem só de cacau se faz chocolate e nem só chocolate se faz do cacau.

Além das barrinhas doces, o cacau tem diversas outras potencialidades alimentares subutilizadas e, por isso, é considerado uma Planta Alimentícia Não Convencional. A polpa da fruta pode ser utilizada em diversas preparações. Talvez a mais conhecida delas seja o suco de cacau – que mesmo assim, não é muito popular em algumas regiões do Brasil. Somente no livro Guia das PANC(5), há três receitas diferentes preparadas com a polpa de cacau: geleia, bolo e salada de cacau verde.

Nesse sentido, como já abordamos anteriormente, se faz necessário observar que temos diversas espécies de cacau, para além das três variedades mais comercializadas pelos produtores de chocolate.

Esta biodiversidade também se expressa em outras variedades de “chocolates alternativos” que são comercializados. Os dois mais populares são:

Alfarroba

alfarroba

A alfarroba é um doce feito a partir das sementes de bagas da Alfarrobeira (Ceratonia siliqua), muito parecido com chocolate na aparência, que não leva adição de açúcar na produção, uma vez que as sementes já possuem sabor adocicado.

Cupulate

cupulate

O Cupulate é um doce muito parecido com o chocolate, feito a partir das sementes do Cupuaçu (Theobroma grandiflorum), fruta amazônica parente do Cacau (Theobroma cacao). O doce possui sabor um pouco mais ácido – característica predominante no sabor do cupuaçu – e é facilmente encontrado em versões veganas para consumo.

 

Não falamos aqui sobre a quantidade obscena de açúcar refinado encontrada na maioria dos chocolates, nem da extensa lista de aditivos químicos que a indústria utiliza, ou do contra-senso de muitos destes chocolates quase não terem cacau na sua composição.  

Nosso objetivo o de construir um contexto histórico para repercutir a ação judicial que escancara a iniquidade dos grandes conglomerados da indústria frente às assombrosas, históricas e recorrentes violações de direitos humanos, que somente agora começam a ser seriamente questionadas.

É muito simbólico e sintomático que esta atividade comercial tenha começado com o massacre dos povos mesoamericanos e até hoje rouba a vida de milhares de pessoas. A ação judicial movida pela International Rights Advocates (IRA) é um marco histórico com potencial de, pela primeira vez, abalar a indústria do chocolate a ponto de efetuar mudanças significativas. Que seja apenas o início, e que não pare no chocolate.

Fontes:

1) TED | The history of chocolate – Deanna Pucciarelli
https://ed.ted.com/lessons/the-history-of-chocolate-deanna-pucciarelli

2) Revista Galileu | Chocolate para todos os gostos
http://galileu.globo.com/edic/117/rep_chocolate.htm#:~:text=Estima%2Dse%20que%20foi%20do,que%20surgiu%20a%20palavra%20chocolate.&text=Em%201519%2C%20Cortez%20tomou%20contato,divino%2C%20que%20aumenta%20a%20resist%C3%AAncia.

3) History Stories | Chocolate’s Sweet History: From Elite Treat to Food for the Masses
https://www.history.com/news/the-sweet-history-of-chocolate

4) G1 | Reportagem
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/09/pesquisa-diz-que-cacau-e-originario-da-amazonia-nao-da-america-central.html

5) KINUPP, Valdely Ferreira; LORENZI, Harri. Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil –  Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas, 2014.

6) Candy Industry | 2021 Global Top 100 Candy Companies | Candy Industry
https://www.candyindustry.com/2021/global-top-100-candy-companies

7) Phayanat | What are the different varieties of cacao?
https://chocolatephayanak.com/unkategorisiert/what-are-the-different-varieties-of-cacao/

8) Chocólatras Online | Chocolates premium serão como vinhos
https://chocolatrasonline.com.br/chocolates-premium-serao-como-vinhos/

9) Perfect Daily Grind | Getting to know the three main cacao varietieshttps://perfectdailygrind.com/2018/08/is-criollo-chocolate-really-king-the-myth-of-the-3-cacao-varieties/

10) Estadão | Chocolate rosa chega às lojas do Brasil e é tendência para 2019
https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,chocolate-rosa-chega-as-lojas-do-brasil-e-e-tendencia-para-2019,70002703349#:~:text=Apresentado%20como%20uma%20intensa%20experi%C3%AAncia,processadoras%20de%20cacau%20do%20mundo.&text=Os%20gr%C3%A3os%20do%20cacau%20que,no%20Brasil%20e%20no%20Equador.

11) BBC | A redescoberta da árvore de cacau responsável pelo ‘Rolex dos chocolates’
https://www.bbc.com/portuguese/vert-tra-52945424

12) Forbes | 10 países que mais consomem chocolate no mundo
https://forbes.com.br/listas/2015/07/10-paises-que-mais-consomem-chocolate-no-mundo/

13) CACAU FINO: conceitos e evolução no Brasil | Universidade Estadual de Santa Cruz
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/ceplac/publicacoes/chocolates-finos-e-de-aroma/cacau-fino-conceitos-e-evolucao

14) Folha de São Paulo | Ação nos EUA liga indústria do chocolate a trabalho infantil na África
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/02/acao-nos-eua-liga-industria-do-chocolate-a-trabalho-infantil-na-africa.shtml?origin=folha

15) IMDB | The Dark Side of Chocolate
https://www.imdb.com/title/tt1773722/

16) Folha de S.Paulo | Ação nos EUA liga indústria do chocolate a trabalho infantil na África
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/02/acao-nos-eua-liga-industria-do-chocolate-a-trabalho-infantil-na-africa.shtml

17) NORC | Assessing Progress in Reducing Child Labor in Cocoa Growing Areas of Côte d’Ivoire and Ghana
https://www.norc.org/Research/Projects/Pages/assessing-progress-in-reducing-child-labor-in-cocoa-growing-areas-of-c%C3%B4te-d%E2%80%99ivoire-and-ghana.aspx

18) The Guardian | Chocolate industry slammed for failure to crack down on child labour
https://www.theguardian.com/global-development/2020/oct/20/chocolate-industry-slammed-for-failure-to-crack-down-on-child-labour

19) Folha de S.Paulo | Boa parte do chocolate que você compra começa com trabalho infantil
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/07/boa-parte-do-chocolate-que-voce-compra-comeca-com-trabalho-infantil.shtml

20) Jornal Clarin Brasil | Gana Opta Por Não Fornecer Mais Cacau Para A Suíça
https://jornalclarinbrasil.com.br/2021/03/13/gana-opta-por-nao-fornecer-mais-cacau-para-a-suica-e-pretende-o-proprio-pais-produzir-em-solo-africano-o-chocolate-mais-famoso-do-mundo/

21) ONU News | ONU alerta para impacto ambiental da produção de cacau 
https://news.un.org/pt/story/2019/04/1668941

22) Mercado do Cacau | História do Cacau
https://www.mercadodocacau.com.br/artigo/historia-do-cacau/rss.xml

23) Ministério da Agricultura | Brasil quer ganhar posições na produção mundial de cacau e chocolate
https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/brasil-quer-retomar-protagonismo-no-cenario-global-de-cacau-e-chocolate

24) Repórter Brasil | Monitor: O Trabalho escravo no Cacau da Bahia
https://reporterbrasil.org.br/wp-content/uploads/2020/10/Monitor-6-Cacau-PT.pdf

25) Hypeness | Eles produzem milhões de toneladas de cacau na Costa do Marfim, mas nunca tinham provado o resultado: chocolate.
https://www.hypeness.com.br/2014/09/produtores-de-cacau-da-costa-do-marfim-provam-chocolate-pela-primeira-vez/

26) O Joio e o Trigo |  Nascida da ‘Reforma Agrária’, a quarta geração do Cacau na Bahia
https://ojoioeotrigo.com.br/2019/10/nascida-da-reforma-agraria-a-quarta-geracao-do-cacau-na-bahia/

Conheça o Jambolão

Conheça o Jambolão

O jambolão (Syzygium cumini) é a nossa PANC de hoje. Trata-se de uma árvore originária da Índia, pertencente à família das Mirtaceae, assim como a jabuticabeira, a gabiroba, a pitangueira e o araçá. No Brasil, também é conhecido como jamelão, jalão, jambeiro, guapê e baga de freira.

A árvore do jambolão – que é frondejante, troncuda e ramosa – chega a cerca de 10 metros de altura e é muito comum nas cidades do Brasil como planta ornamental, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país. Em Porto Alegre, por exemplo, há inúmeras árvores de jambolão nas ruas de todos os bairros da cidade. A capital gaúcha é uma grande plantação de jambolão!

Bem adaptada a climas tropicais, solos ricos em nutrientes e solo úmido ou pouco úmido, a árvore do jambolão produz uma quantidade enorme de flores brancas e frutos. Os frutos maduros do jambolão parecem bagas pretas, muito semelhantes às azeitonas e podem ser consumidos ao natural, direto no pé, ou transformado em geleias, doces, sorvete, bebidas fermentadas, vinho, frisante, licor, tintura e até em vinagre.

Muita gente não sabe o seu nome, mas o pequeno fruto ovóide arroxeado-escuro é conhecido por tingir as calçadas com sua cor e exalar seu cheiro, que atrai muitos pássaros e insetos. As pessoas também não têm o hábito de consumir os frutinhos do jambolão que têm gosto adstringente, mas consistência macia. Entretanto, as pessoas mais velhas que conhecem o fruto geralmente usam o chá das folhas da árvore com fins terapêuticos, devido às propriedades antioxidantes presentes nelas, que são ótimas para prevenir o envelhecimento e para fortalecer o sistema imunológico.

O pequeno fruto do jambolão é rico em vitamina C, fósforo, flavonoides e taninos, que são substâncias muito importantes para remediar doenças cardiovasculares e diferentes tipos de câncer. Acredita-se também que o jambolão melhora sintomas de prisão de ventre, diarreia, cólicas, gases intestinais, problemas no estômago e no pâncreas.

Outro potencial de uso do jambolão é a cocção da casca da árvore do jambolão, que apresenta propriedades anti-inflamatórias e anticarcinogênicas, assim como as folhas, que, acredita-se, provoca ação hipoglicemiante. E o chá da casca pode ser usado para aliviar processos inflamatórios. No entanto, não há evidências científicas de que os chás das folhas ou da casca de jambolão realmente tenham efeito anti-hiperglicêmico e/ou antidiabético. Já o extrato das folhas do jambolão apresenta ação antiviral, anticarcinogênica, antibacteriana e antialérgica.

As sementes, as folhas, os frutos e produtos derivados do jambolão podem ser encontrados em sites que comercializam sementes e mercadorias fitoterápicas. Mas se você passear pelas ruas de seu bairro e de sua cidade, há grandes chances de você se deparar com uma grande árvore de jambolão sobre a calçada ou em praças.

Texto por André Torresini

Algumas indicações de leitura sobre as propriedades terapêuticas do consumo do jambolão:

Ayyanar M, Subash-Babu P. Syzygium cumini (L.) Skeels: a review of its phytochemical constituents and traditional uses. Asian Pac J Trop Biomed. 2012. March;2(3):240–6. – PMC – PubMed.

Chagas VT, França LM, Malik S, Paes AM. Syzygium cumini (L.) Skeels: a prominent source of bioactive molecules against cardiometabolic diseases. Front Pharmacol. 2015. November;6:259. – PMC – PubMed.

LOGUERCIO, A. P. et al. Atividade antibacteriana de extrato hidro-alcólico de folhas de jambolão (Syzygium cumini (L.) Skeels). Ciência Rural, Santa Maria, v. 35, p.37-376, Mar./Abr. 2005.

Raza A, Butt MS. Iahtisham-Ul-Haq, Suleria HAR. Jamun (Syzygium cumini) Seed and Fruit Extract Attenuate Hyperglycemia in Diabetic Rats. Asian Pac J Trop Biomed. 2017;7(8):750–4.

Teixeira, Claudio Coimbra. Syzygium cumini (L.) Skeels no tratamento do diabetes melito tipo 2 : resultado de um ensaio clínico randomizado, controlado, duplo-cego e double-dummy. Porto Alegre. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Medicina: Clínica Médica. 2004.

A maconha é PANC

A maconha é PANC

Por Kellen Vieira

Hoje dia 20/04, na lógica da data estadunidense, dia 04/20 é o dia dela, a que tem vários nomes e apelidos, extremamente popular e polêmica, e com toda certeza muito versátil: A Maconha!

Membro da família Cannabaceae que inclui 11 gêneros e mais de 170 espécies que inclui a Cannabis sativa, Cannabis ruderalis e Cannabis indica, não se sabe ao certo quem foram os primeiros a registrar os usos da Cannabis em sua cultura.

Há indícios que os chineses já utilizavam a Cannabis para fins medicinais, bem como o cânhamo para a confecção de papel. Também há registros do uso da planta na Índia durante a era védica e, por fim, existem alguns registros da presença da cannabis na Pérsia.

Independente disso, sabemos que a cannabis era utilizada como um medicamento, sendo registrado na primeira farmacopeia da história: o livro chinês Pen Tsao. Lá era indicado o uso para alívio de dores articulares.

Registros históricos também mencionam a presença do cânhamo na fabricação de tecidos, papéis, palitos, óleo, velas e cordas de navio desde a Grécia e Roma antiga até o período de expansão marítima. Inclusive, as velas e cordas das caravelas portuguesas que vieram para o que hoje é o Brasil, eram feitas de cânhamo.

Por sua versatilidade de uso, a maconha já foi um dos principais produtos agrícolas europeus, marcando o momento renascentista onde as telas eram feitas a partir do cânhamo. Nesse sentido, a palavra canvas, que significa tela em diversas línguas, tem origem na palavra cannabis.

Desde tecidos, papéis e até mesmo como fonte de energia, a Cannabis tem usos muito além do seu popular psicoativo, o THC – cujo uso, de acordo com pesquisas recentes, acontece há pelo menos 2,5 mil anos.

Um outro uso da verdinha, é o comestível: ela é super nutritiva, com grandes concentrações de ômega 3 e ômega 6. Além disso, é rica em proteínas e minerais. A sua semente, riquíssima em aminoácidos, ácidos graxos e proteína, é utilizada como ingrediente em pratos indianos como Bosa, Mura, Bangue e até mesmo em Chutneys. Algumas etnias sul-africanas também utilizam a semente na alimentação de bebês devido ao seu valor nutritivo.

Além da semente, as folhas também podem ser utilizadas para fazer desde infusões, até pratos mais elaborados como: Pesto, biscoitos, molho chimichurri e saladas.

É importante enfatizar que o THC, canabinóide responsável pelos efeitos psicoativos, estão presentes de maneira insignificante na semente e leve nas folhas, ou seja, o consumidor pode ficar tranquilo que não ficará “chapado”.

Talvez você já tenha ouvido falar de Cruzeta, no Rio Grande do Norte. Uma cidade pequena, que ficou famosa por uma matéria jornalística de 1996 que se popularizou nos últimos anos no YouTube. Na pequena e pacata cidade, vários habitantes faziam uso medicinal de uma planta conhecida por “liamba”, chegando a cultivá-la nos canteiros da cidade. Confira a matéria:

Em 2018, a BBC fez uma longa matéria sobre o caso na cidadezinha. A planta, que se tratava de uma variação de maconha, foi identificada por um policial que deu início a uma investigação na cidade. Os habitantes que faziam uso da planta, em sua maioria, eram idosos e ficaram muito assustados, com medo de serem presos. 

Portanto, apesar desse histórico de usos, atualmente a Cannabis não é legalizada no Brasil para o uso geral, então nada de plantar e dizer que é para botar na salada viu?

De qualquer forma, é importante que a gente abra o diálogo sobre o porquê uma planta é proibida. Mesmo que para tratamentos medicinais com eficiência comprovada em diversos países, como o excelente tratamento para epilepsia, por exemplo. Aqui no Brasil, pessoas enfrentam ações jurídicas para acessar medicamentos à base de cannabis. E, mesmo para o uso recreativo, é necessário questionar a quem serve o interesse de manter esse proibicionismo que trava uma guerra perdida e que leva o Brasil a índices exorbitantes de violência e mortes principalmente de corpos pretos e periféricos.

Fontes:

https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/2019/06/encontradas-evidencias-de-fumo-de-maconha-ha-25-mil-anos

O grande livro da cannabis: https://matonoprato.com.br/2019/12/04/maconha/

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45475933#:~:text=A%20pequena%20cidade%20de%20Cruzeta,pra%C3%A7a%20e%20at%C3%A9%20no%20cemit%C3%A9rio.

CRISE CLIMÁTICA: 11.000 CIENTISTAS ALERTAM SOBRE O “SOFRIMENTO INDESCRITÍVEL”

CRISE CLIMÁTICA: 11.000 CIENTISTAS ALERTAM SOBRE O “SOFRIMENTO INDESCRITÍVEL”

Declaração define ‘sinais vitais’ como indicadores de magnitude da emergência climática

Texto de: Damian Carrington | Traduzido por: Betina Aleixo

A população mundial vai enfrentar um “sofrimento indescritível devido à crise climática”, a menos que haja grandes transformações na sociedade global, de acordo com o severo alerta feito por mais de 11.000 cientistas.

“Nós declaramos clara e inequivocamente que o planeta Terra está encarando uma emergência climática”, afirma. “Para garantir um futuro sustentável, nós devemos mudar a forma que vivemos. [Isso] implica em grandes transformações na maneira como a nossa sociedade global funciona e interage com os ecossistemas naturais.”

Não há tempo a perder, os cientistas dizem: “A crise climática chegou e está acelerando mais rápido do que a maioria dos cientistas esperava. É mais grave do que prevemos, ameaçando os ecossistemas naturais e o destino da humanidade.”

A declaração está publicada no periódico BioScience, no 40ª aniversário da primeira conferência mundial do clima que foi sediada em Genova em 1979. A declaração foi uma colaboração de dezenas de cientistas e endossada por mais de 11.000 cientistas de 153 países. Eles dizem que as mudanças urgentes precisam incluir: acabar com o crescimento populacional, deixar os combustíveis fósseis no solo, parar com a destruição das florestas e cortar o consumo de carne.

O Prof. William Ripple, da Universidade do Estado de Oregon, e o principal autor da declaração, disse que foi levado a iniciá-la devido ao aumento de eventos climáticos extremos que ele estava vendo acontecer. Um dos principais objetivos do alerta é estabelecer uma gama completa de indicadores de “sinais vitais” das causas e efeitos do colapso climático, em vez de apontar somente para as emissões de carbono e aumento da temperatura da superfície.

“Uma série mais ampla de indicadores deve ser monitorada, incluindo o crescimento populacional humano, consumo de carne, perda de cobertura de árvores, consumo de energia, subsídio para combustíveis fósseis e as perdas econômicas anuais para eventos climáticos,” disse o co-autor Thomas Newsome, da Universidade de Sidney.

Outros “sinais profundamente problemáticos das atividades humanas” selecionados pelos cientistas, incluem o estrondoso número de passageiros de avião e o crescimento mundial do PIB. “A crise climática está estreitamente ligada ao consumo excessivo proveniente de um estilo de vida opulento,” afirmou.

Como resultado dessas atividades humanas, existem tendências “especialmente perturbadoras” de aumento das temperaturas dos oceanos e da terra, elevação dos níveis do mar e eventos climáticos extremos, e os cientistas dizem que: “Apesar de 40 anos de negociações climáticas globais, com algumas exceções, nós falhamos amplamente em resolver essa situação. É particularmente preocupante o potencial irreversível dos pontos de inflexão climáticos. Essas reações em cadeia podem causar rupturas significativas em ecossistemas, sociedades e economias, com o potencial de deixar a Terra com grandes áreas inabitáveis”.

“Nós desejamos que o uso difundido desses sinais vitais permita que os políticos e o público entendam a magnitude da crise, redefinam prioridades e se alinhem com o progresso,” disse o cientista.

“Você não precisa ser um cientista de foguete para olhar para os gráficos e perceber que as coisas estão dando errado”, disse Newsome. “Mas ainda não é tarde”. Os cientistas identificaram alguns pontos encorajadores, incluindo o decréscimo na taxa de natalidade, aumento do uso de energia solar e eólica e a perda de investimentos em combustíveis fósseis. Os níveis de desmatamento na Amazônia também estavam caindo até o recente aumento sob a nova presidência de Jair Bolsonaro.

Eles estabeleceram uma série de ações urgentes e necessárias:

  • Usar energia de uma forma muito mais eficiente e aplicar impostos altos para emissões de carbono, para cortar o uso de combustíveis fósseis.
  • Estabilizar a população global – atualmente aumenta em 200.000 pessoas por dia – usando abordagens éticas como uma educação mais longa para meninas.
  • Cessar a destruição da natureza e recuperar florestas e mangues para a absorção co2.
  • Comer mais plantas e menos carne, e reduzir o desperdício de alimentos
  • Afastar as metas de economia do crescimento do PIB.

“A boa notícia é que tal mudança transformadora, com justiça social e economia para todos, promete bem-estar humano muito maior do que os negócios de sempre”, disseram os cientistas. A recente preocupação foi encorajadora, eles acrescentaram, de greves escolares globais para processos judiciais contra poluidores, e alguns países e empresas começaram reagir.

O alerta sobre os perigos da poluição e a extinção em massa eminente da vida selvagem na Terra, também liderado por Ripple, foi publicado em 2017. Com o apoio de mais de 15.000 cientistas e lido em parlamento do Canadá a Israel, ele chega 25 anos depois do original “Cientistas do Mundo – Um alerta para a humanidade”, em 1992, que dizia: “É necessária uma grande mudança na administração da Terra e na vida nela, para evitar uma vasta miséria humana.”

Ripple diz que os cientistas têm a obrigação moral de emitir avisos sobre as ameaças catastróficas: “É mais importante que nunca que nós falemos, baseados em evidência. É tempo de ir além das pesquisas e publicações, e falar diretamente com os cidadãos e os parlamentares”.

FONTE: The Guardian

 

 

Uma porção de comida | lembretes culinários sobre chutney

Uma porção de comida | lembretes culinários sobre chutney

Frutas são, comumente, utilizadas no beneficiamento de alimentos em preparações doces. Geleias e compotas, por vezes, são as únicas possibilidades que pensamos quando nos deparamos com o excesso desses alimentos em casa.

Esse molho salgado abriu minha mente e paladar para encontrar novos sabores com frutas. O primeiro chutney que experimentei foi de manga. Pra mim que tenho preferência por pratos salgados a doces ou sobremesas foi uma grata aprendizagem a elaboração de chutneys no meu repertório culinário.

Uma criação indiana, chutney é um preparo a base de frutas ou legumes com muitos condimentos, pimenta e açúcar mascavo e vinagre. A palavra tem a mesma raiz que outras na língua persa que significa “uma porção de comida”. Uma porção de comida extremamente versátil que pode ser acompanhamento para petiscos ou molho para massas e recheios de pastéis ou assados. 

Com o desenvolvimento da linha de produtos ecológicos Nobis eu tenho me dado licença poética para misturar frutas e plantas alimentícias não convencionais nesse envolvente prato. Por que não utilizar mamão maduro em preparações salgadas? Não há preconceitos na minha cozinha e o mamão maduro foi base para o chutney de mamão com xique-xique (nome popular de uma espécie de cacto comestível).

Em São Paulo, simplesmente não encontrei mamão para refazer minha invenção. Também não encontrei nenhum lugar que pudesse coletar o cacto… Estaria minha produção perdida? Claro que não! A fruta mais barata que encontrei no mercado próximo a casa da minha amiga Alessandra (fundadora da Herbívora) foi o abacaxi. A ora-pro-nobis foi a companheira panc da vez para o novo preparo: chutney de abacaxi com ora-pro-nobis

Ao chegar em Porto Alegre, encontrei frutos de ora-pro-nobis e não muitas folhas. Quem está em abundância pela capital gaúcha é a bertalha linda que super ornou com o abacaxi que segue como fruta da estação nas regiões sul e sudeste.  

Hoje realizei uma oficina de preparações culinárias com no grupo de mulheres para geração de trabalho e renda na Aldeia da Fraternidade. Fizemos duas possibilidades de chutneys com mamão e abacaxi. Como essas são as últimas lembranças que tenho da receita, compartilharei os lembretes culinários para elaboração dessas preparações.

Lembretes culinários são memórias das etapas e ingredientes combinados para o desenvolvimento de qualquer receita. Eu não gosto de usar receita, tampouco gosto de passar receitas. Não porque eu seja egoistinha (aushuahush), mas porque eu mesma não sigo receita alguma ou anoto as quantidades certinhas de cada ingrediente nas comidas que faço. É o que eu chamo de culinária intuitiva, tenho vídeo falando sobre isso no canal amor do PorQueNão? – Mídia Interdependente. Chega de tagarelar, vamos aos lembretes culinários dos chutneys.

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Chutney de mamão com xique-xique

INGREDIENTES

1 mamão madura

5 ou 6 ‘mãos’ da palma

sal a gosto

suco de 1 limão

azeite de oliva

cebola roxa

alho

quantidade de água

pimenta do reino a gosto

páprica doce

PREPARAÇÃO

1. Descasque o mamão e o cacto

2. Corte em cubos pequenos

3. Aqueça uma panela com o azeite de oliva

4. Refogue os cubos de mamão e do xique-xique acrescentando os temperos

5. Acrescente água e tampe. Deixe ferver por alguns minutos, acrescente mais água

6. Acrescente o suco de limão

7. Envase 

DICAS

Você pode utilizar chimichurri como um dos temperos complementares nesta preparação

Utilize luvas para descascar o cacto, seus espinhos são bem pequenos e chatos de serem retirados da mão

Não se preocupe com a “baba” que surgirá na preparação, o cacto tem bastante viscosidade 

Não tenha pressa em apagar o fogo, quanto mais tempo ferver, mais os sabores se harmonizam

Chutney de abacaxi com bertalha

INGREDIENTES

1 abacaxi grande

bertalha

sal a gosto

suco de 1 limão 

azeite de oliva

cebola roxa

alho

quantidade de água 

pimenta do reino a gosto

açafrão

pimentão amarelo  

PREPARAÇÃO

1. Descasque o abacaxi

2. Corte em cubos pequenos

3. Corte a bertalha em tiras

4. Aqueça uma panela com azeite de oliva

5. Refogue a cebola roxa cortada em cubos pequenos, acrescente o alho e meio pimentão amarelo também cortado em cubos pequenos; acrescente a bertalha cortada em tiras

6. Acrescente o abacaxi cortado, refogue

7. Acrescente água e tampe. Deixe ferver por alguns minutos, acrescente mais água se necessário

7. Acrescente o suco de limão

8. Envase 

DICAS

Quanto mais maduro estiver o abacaxi melhor

Eu deixo ferver bastante mesmo. O bom são os pedacinhos se desmancharem em meio as borbulhas na panela

Você pode utilizar açafrão como tempero complementar dessa preparação