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Língua de Vaca ou Azedinha

Língua de Vaca ou Azedinha

No outono ou no inverno, em algum gramado, jardim, terreno ou beira de estrada, você já deve ter visto uma plantinha rasteira com folhas verde-escuro alongadas que parecem línguas brotando do chão. Com o passar do tempo, se a planta não tiver sido removida, ela cresce de forma ereta, pequenas flores discretas aparecem e pequenas sementes marrom-esverdeadas envoltas por um tipo de “pele” surgem em pendões. Muitas vezes, em algum dia, a gente passa no local onde a planta estava e percebe que ela desapareceu após algum jardineiro ou trabalhador do serviço público de limpeza cortar a grama. Mas alguns dias depois ressurgem novas plantinhas, jovens, com cor verde ainda mais reluzente. No verão, elas quase desaparecem.

Essa planta é popularmente conhecida como Língua-de-vaca, mas também por labaça e azeda-graúda (Paraná), e no exterior por Lengua de vaca ou Romaza em espanhol e Bitter dock em inglês. São três as subespécies de Língua-de-vaca mais comuns no Brasil: Rumex brasiliensis Link., Rumex crispus L. e Rumex obtusifolius L. A Língua-de-vaca, Rumex obstusifolius L., é nativa da Europa, porém, há muito tempo cresce espontaneamente quase em todo Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, em áreas de altitude, terrenos agrícolas, pomares, jardins, pastagens e terrenos baldios. Já existem diversas variantes da planta no mundo. A Rumex acetosa L., conhecida como azedinha, é muito parecida com as demais citadas.

As Línguas-de-vaca são herbáceas perenes, que possuem raízes pivotantes profundas com pequenos rizomas na base. Gostam de solos úmidos, compactados e ricos em matéria orgânica. E toleram o frio. Na primavera, florescem e nos verões de calor intenso hibernam. Suas folhas são simples, apresentam pecíolos e parecem línguas, como já foi citado acima. Suas flores são reunidas em inflorescências e frutos pequenos, secos, com a semente presa à parede do pericarpo. Sua propagação se dá através das sementes e rizomas.

As folhas da Língua-de-vaca são comestíveis. Podem ser consumidas cruas, em saladas, ou cozidas, em refogados, cremes, panquecas e sopas. As folhas jovens têm sabor mais agradável e as mais velhas são mais fibrosas. Quando a planta floresce as folhas ficam amargas. As sementes, quando secas ao forno e depois trituradas, podem ser usadas para produzir farinha. É uma hortaliça folhosa muito subutilizada no país. A Crioula | Curadoria Alimentar costuma fazer molho Pesto com Língua-de-vaca e fica uma delícia!

Agora que você conheceu um pouco mais sobre a Língua-de-vaca, que tal experimentá-la em algum preparo culinário?

Caso você queira coletar na rua, em algum terreno, praça ou jardim, evite locais sujos, como calçadas, ao redor de vias de trânsito de veículos, locais onde cães e gatos costumam defecar e urinar, próximo a esgotos e águas possivelmente contaminadas. Na dúvida, compre Língua-de-vaca em feiras, e caso ainda não tenha para vender, converse com a/o feirante, pergunte se conhece a planta e se sim, pergunte se a cultiva, se pode fornecê-la, assim você poderá obter a planta para consumo. Algumas plantas comuns, não-convencionais e espontâneas são cultivadas e consumidas pelos produtores, mas seu valor comercial é baixo ou a planta é tão desvalorizada socioculturalmente que nem sequer é considerada para a venda.

Faça um bom proveito!

Texto por André Torresini

Conheça o Lírio-do-Brejo!

Conheça o Lírio-do-Brejo!

A PANC de hoje é nativa da Ásia Tropical, isto é, da região de clima tropical da Ásia, que inclui Bangladesh, Camboja, Índia, Indonésia, Laos, Mianmar, Tailândia e Vietnã. Ela é conhecida como lírio-do-brejo (Hedychium coronarium) e se tornou espontânea no Brasil, sendo encontrada em quase todos os estados do país, principalmente em Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Na Ásia, a planta é chamada de gandasuli em diversos idiomas, como no bengalês, hindi, indonésio e javanês. Há relatos de que, no período colonial da História do Brasil, o lírio-do-brejo era utilizado pelos africanos escravizados para acolchoar o chão onde se deitavam.

O lírio-do-brejo é uma planta herbácea que dá o ano todo, verdejante, com hastes não ramificadas e folhas laminares, sem pecíolos, que se desenvolvem desde a base, chegando a medir até cerca de dois metros de altura. O lírio gosta de terrenos alagados, banhados, brejos, charcos e várzeas pantanosas. A planta não tolera regiões e terrenos secos. Ela é, muitas vezes, considerada uma planta invasiva pelos agricultores e que prejudica a biodiversidade local.

O lírio-do-brejo também é chamado de gengibre-do-brejo, porque seus rizomas são muito semelhantes aos rizomas do gengibre (Zingiber officinale). Seus rizomas são comestíveis e ricos em amido. Eles possuem um perfume intenso e o sabor é adocicado. É muito difícil descrever o sabor dos rizomas dessa planta, pois é singular. O lírio-do-brejo vai muito bem em doces. 

Embora os sabores sejam diferentes, ele pode também substituir o gengibre em pratos e bebidas comumente preparados com os rizomas [de Zingiber officinale], como o quentão, o suco de abacaxi com gengibre, torta de limão com gengibre, sorvete com gengibre, geleia de abacaxi com gengibre, dentre outras possibilidades culinárias. Basta substituir o gengibre pelos rizomas de lírio-do-brejo. Fica uma delícia!

Jasmim-borboleta também é outro nome dado para a espécie Hedychium coronarium, devido ao seu odor semelhante ao de algumas espécies de jasmim; e, vistas de longe, as flores de lírio-do-brejo se parecem com borboletas brancas! Por isso o nome jasmim-borboleta. Há também uma variante da planta com flores rosadas, mas que é muito incomum.

A propagação do lírio-do-brejo se dá através do enraizamento dos rizomas, por sementes ou por divisão de touceiras. Ele cresce muito rápido e se difunde com facilidade. Possui grande capacidade de adaptação. O lírio deve ser cultivado à sombra e em solos ricos em matéria orgânica. 

Se você mora em uma região de clima tropical ou subtropical úmido, você com certeza vai encontrar essa planta em praças com pequenos açudes ou em terrenos alagados. No município de Três Forquilhas, no Rio Grande do Sul, por exemplo, além dos bananais, há centenas de lírios-do-brejo ao longo de banhados e do Rio Três Forquilhas. Dá para sentir o perfume das plantas de longe!

Texto por André Torresini

Saiba mais em:

CASTRO, Wagner Antonio Chiba de. Ecologia da invasora Hedychium coronarium J. König (Zingiberaceae). 2014. 97 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2014.

KINUPP, V.F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. Nova Odessa: Instituto Plantarum de estudos da flora Ltda., 2014.

MARTINS, A.Q. Contribuição para o conhecimento de Hedychium coronarium K. (lírio-do-brejo). Lilloa, v.16, p.243-49, 1949.

MARTINS, M.B.G et al. Caracterização anatômica e fitoquímica de folhas e rizomas de Hedychium coronarium J. König (Zingiberaceae). Rev. bras. plantas med., Botucatu, v. 12, n. 2, p. 179-187, Junho, 2010.

SANTOS, S.B.; PEDRALLI, G.; MEYER, S.T. Aspectos da fenologia e ecologia de Hedychium coronarium (Zingiberaceae) na estação ecológica do Tripuí, Ouro Preto-MG, Planta Daninha, v.23, n.2, p.175-80, 2005.