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MWAMBA | O tradicional molho de amendoim e dendê do oeste africano

MWAMBA | O tradicional molho de amendoim e dendê do oeste africano

Por Natália Escouto

 

Vamos conhecer uma receita ancestral?

Quando vi essa receita pela primeira vez fiquei muito encantada, sempre fui apaixonada por amendoim e desde criança aprendemos a consumir o “cri cri” ou “carapinha” das festas juninas, ou a famosa paçoquinha. Lembro também do “amendocrem”, uma pasta de amendoim comercializada no supermercado, ainda bem distante da loucura que temos por pasta de amendoim hoje em dia (muito mais pela influência dos Estados Unidos do que qualquer outra coisa). O amendoim é o grande astro dessa receita que tem inúmeras variações e aqui vamos compartilhar uma versão vegetal feita com couve.

Na verdade, queria preparar essa receita com alguma PANC, mas vamos primeiro falar um pouco mais sobre o amendoim e os pratos tradicionais com mwamba para depois fazermos nossa coleta de PANC para essa receita.

O Amendoim nas Culinárias Africanas

É possível que o amendoim que tem sua origem na América Latina tenha chegado no continente Africano através das viagens de portugueses e espanhóis no comércio de pessoas escravizadas e bens de consumo. Outras literaturas dizem que o caminho foi ao contrário. Sabemos que este trajeto trouxe para o Brasil a banana, o coco, a palmeira com o dendê, o inhame, o quiabo, entre outros ingredientes, além de tecnologias para agricultura e técnicas culinárias que são utilizadas até hoje nas cozinhas afro-brasileira e africanas.

Lá o amendoim é usado de diversas maneiras como em molhos e cozidos, sopas, é feito o leite de amendoim também consumido em molhos, cremes e sopas além de sobremesas e bebidas. Das variações de mwamba, muamba, nkok, que encontrei a maioria leve o azeite de dendê (óleo de palma) e pasta de amendoim.

Outras receitas semelhantes usam pasta de tomates e pimentões, e normalmente é servido com mandioca cozida ou o fufu, um purê de mandioca ou de milho ou de inhame bem firme já que é tradição em muitas culturas africanas comer com as mãos e o fufu serve como uma base para comer molhos e caldos.

O Mwamba que vamos usar de referência nessa receita é feito a partir de uma pasta de pimentões vermelhos, alho e cebola, azeite ou pasta de dendê, pasta de amendoim e água. Além de sal, pimenta e especiarias locais. Este molho ou variações dele encontrei em diversas preparações como Caril de Amendoim com origens Moçambicanas, além do Mwamba Nsusu que é Congolês. Um dos pratos mais tradicionais de Angola é o Muamba de galinha, que também é referência na culinária brasileira, é muito similar ao nosso frango com quiabo. O frango é cozido com cebola, alho, pimentas, e azeite de dendê e um bom molho de tomate e por fim a pasta de amendoim é adicionada na mistura.

O Vatapá baiano, por acaso, é outra receita que faz parte desta influência do amendoim na nossa cultura alimentar. Feito com amendoim torrado, castanhas de caju, dendê, farinha de mandioca ou fubá (e ainda pão dormido), gengibre, pimenta malagueta, cebola, tomate e leite de coco e camarão seco.

Chef Pitchou Luambo – Chefe de Cozinha do restaurante Congolinária, no centro de São Paulo/SP. Pitchou que além de cozinheiro é advogado, veio ao Brasil buscar abrigo uma vez que seu país natal – a República Democrática do Congo, está em guerra civil à anos.  O restaurante familiar serve um rodízio de culinária afrikana com inspiração congolesa adaptando alguns pratos aos ingredientes brasileiros. Couve na mwamba é um dos mais pedidos, e ainda vemos muitas semelhanças entre os nossos ingredientes como a banana, o dendê, arroz e feijão, quiabo, amendoim, além de milho e mandioca. Pitchou ressalta a importância das comunidades de refugiados que vivem no Brasil e como a culinária fortalece as conexões com a terra natal. 

As versões vegetais do Mwamba foram as que mais me deixaram intrigada e curiosa. Na receita do Chef Pitchou (Chef de Cozinha do Restaurante Congolinária em São Paulo), disponível no youtube, ele usa couve como o vegetal da receita, talvez por ser um vegetal folhoso bem acessível aos brasileiros. Já no vídeo (em inglês) da Fabiola (no instagram @shinewithplants) ela chama a receita de Nkok, e usa uma outra planta chamada de Okazi. Tentei achar mais sobre essa planta, mas só achei conteúdos em inglês e em idiomas locais e não quis arriscar na tradução. O engraçado que as folhas de Okazi lembram muito as folhas de Bertalha e da Batata Doce, sendo as duas panc, acho interessante termos essa possibilidade. (ainda não testei, mas compartilho quando fizer). Além disso, o preparo da receita de Nkok me pareceu semelhante ao da maniçoba (prato amazônico da cultura paraense) que é feita a partir da folha da mandioca.

As folhas de Okazi são bem comuns na África e são vendidas em porções congeladas da folha finamente picada. Fabiola lavou as folhas e bateu no liquidificador e levou numa panela com água em fogo alto e deixou ferver por quase uma hora. Significa que essas folhas precisam de mais tempo de cozimento do que a couve por exemplo. Depois adicionou uma pasta de dendê e por último a pasta de amendoim, além de sal e açúcar. De acompanhamento mandioca cozida no vapor. E também falou sobre uma mandioca fermentada. Vale conferir.

E vamos a receita no nosso Mwamba!

Ingredientes:

  • 1/3 de xícara de azeite de dendê
  • 1 cebola pequena cortada em cubos pequenos
  • 1 dente de alho cortado em cubos pequenos
  • 2 tomates cortados em cubos pequenos
  • 1 pimentão vermelho pequeno cortado em cubos pequenos
  • ½ xícara de extrato de tomate ou molho de tomate
  • 1 Molho de couve verde ou manteiga cortado finamente
  • ¾ xícara de pasta de amendoim
  • +/- 500ml de água
  • Sal e pimenta do reino a gosto

Pode usar pimenta dedo de moça, pimenta malagueta, páprica picante e outros temperos que preferir. Gosto de fazer com um pouco de gengibre.

Modo de preparo:

  • Primeiro comece deixando todos os ingredientes prontos e picados para poder preparar a receita com calma e atenção. 
  • Numa panela média, aqueça o azeite de dendê e acrescente nessa ordem a cebola e deixe murchar um pouco e depois acrescente o alho. 
  • Em seguida acrescente os tomates e os pimentões e deixe dourar bem até desmanchar, se precisar acrescente um pouco de água para facilitar o cozimento.
  • Pode tampar e deixar cozinhar por uns 10 minutos. Quando o molho estiver com os legumes desmanchados acrescente o molho de tomate e misture bem, apertando um pouco com a colher para amassar o que ainda estiver com pedaços.
  • Por fim, acrescente a couve, misture e acrescente água até cobrir e a pasta de amendoim. Misture muito bem e veja se necessita de água novamente, a receita deve ficar bem cremosa. 
  • Deixe cozinhar por mais 5 minutos e misture de vez em quando para não grudar no fundo.
  • Tempere com sal e pimenta e sirva com mandioca cozida, ou ainda inhame.

Esta é uma receita para voltarmos pra casa, sentimos o gosto do que nossos ancestrais cultivaram. Conhecer as nossas origens culinárias também é um processo de cura e de resgate. Principalmente para valorização da nossa cultura. Desfrute!

Fontes de pesquisa: 

Chef Pitchou Lumabo e Restaurante Congolinária – https://congolinaria.com.br/

CRUZ. M. S. R.; MACEDO. J.R. A transmissão do saber em elementos da culinária baiana como depositário da tradição cultural: uma análise à luz da contemporaneidade. V Unecult – UFBA 2009

Fabiola – Shine with Plants (Canal no Youtube) – https://www.youtube.com/channel/UCVPAZQXFNi6yYW6_MKajyvQ/featured 

Muamba Nsusu: Congolese Peanut and Palm Oil Stew (Muamba Nsusu: Ensopado com amendoim e óleo de palma congoles) – https://blog.arousingappetites.com/muamba-nsusu-congolese-peanut-palm-oil-stew/

Órfãos da Terra: Julia Dalavia aprende receita com Chef Congolês – https://youtu.be/DRkN1udSe2c 

PAIVA. M. C. A presença Africana na Culinária Brasileira: sabores africanos no Brasil. 2017 UFJF Pós Graduação Lato Sensu em História da África

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Sobre a autora:

Natália Escouto:

Natália Escouto (@preta.nati) é gastróloga, cozinheira e professora de culinária vegetal. Ministra aulas e oficinas de culinária, consultorias e cria conteúdo nas redes sociais pensando o comer como política, cultura e afeto. Vegetariana há quase 10 anos, é apaixonada pela culinária brasileira e praticidade na cozinha. Pesquisa sobre referências africanas na nossa alimentação e referências ancestrais de se relacionar com o alimento e com o cozinhar.

Contra a fome e em defesa da soberania e segurança alimentar e nutricional, ativistas alimentares declaram apoio a Lula

Contra a fome e em defesa da soberania e segurança alimentar e nutricional, ativistas alimentares declaram apoio a Lula

   Foto: Ricardo Stuckert

Bruna Crioula

O restaurante Camélia Ododó, estabelecimento da nutricionista, ativista alimentar e apresentadora Bela Gil, foi palco na última quinta-feira (24) de um jantar entre militantes pela Comida de Verdade e o presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores). O principal objetivo deste evento foi declarar apoio nas ações de campanha para o ex-presidente, como também promover o diálogo e reforçar a importância de considerar as pautas de soberania e segurança alimentar e nutricional, combate à fome e fortalecimento da agricultura familiar agroecológica e/ou orgânica no seu plano de governo.

Agricultores, referências sociais, políticas, acadêmicas e culturais nas áreas de alimentação, nutrição e ecogastronomia participaram do coquetel, tendo como anfitriãs a própria Bela Gil, a chef de cozinha Bel Coelho e a comunidade Levante Slow Food Brasil. Nomes como Regina Tchelly do projeto Favela Orgânica; Denise Cardoso, presidente da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc); Lina Luz da Escola de Gastronomia Social do Ceará; e Marcos José de Abreu (Marquito), ambientalista e vereador pelo PSOL em Florianópolis; demonstram a diversidade de experiências locais brasileiras comprometidas com as lutas pela garantia do direito humano à alimentação adequada para a população brasileira.

Alimentação é um fenômeno bio-sociocultural que se manifesta nas diferentes dimensões da organização humana, perpassando questões políticas e econômicas. Por isso, esta é uma pauta atemporal e estruturante que precisa fazer parte de maneira transversal nas políticas públicas no Brasil. Considerando o contexto de pandemia global e todos os desdobramentos oriundos das crises sociais, políticas e econômicas que o Brasil enfrenta hoje, especialmente pela necropolítica promovida pelo atual governo federal, é necessário restabelecer estratégias e estruturas públicas que combatam o expressivo contexto de fome e miserabilidade da população brasileira.

A defesa da Comida de Verdade, noção forjada tanto no âmbito da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, Agroecologia e Alimentação Saudável e Adequada é uma bandeira comum na mobilização social para promover mudanças radicais nos sistemas alimentares, assim como no enfrentamento à fome e à crise climática global. Nesse sentido, a rede Slow Food Brasil tem uma trajetória de mais de vinte anos de atuação no território nacional, comprometida com estas pautas, tendo a gastronomia sustentável e a conexão campo-cidade como foco de trabalho em todas as regiões do país.

Considerando que este tema necessita ter grande ênfase na campanha presidencial de 2022 e que os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), seminalmente, nos mandatos de Lula, tiveram o compromisso de concretizar políticas públicas de combate à fome, fortalecimento da agricultura familiar e tradicional e da estruturação de um Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil; há o reconhecimento de que a atual candidatura presidenciável de Lula é um fôlego de esperança, tendo em vista as ações do atual governo federal nos desmontes institucionais, de políticas públicas e da agenda política pautada pelo agronegócio que contribuíram para o cenário de insegurança alimentar e nutricional de mais da metade da população, especialmente famílias chefiadas por mulheres negras nas favelas brasileiras. Os ativistas que compuseram este jantar acreditam que este panorama histórico descreve e justifica a manifestação de apoio deste grupo à candidatura do ex-presidente Lula, com a entrega de uma carta que apresenta as contrapartidas de incidência política durante a campanha e após a esperada e desejada posse, colocando-se à disposição no suporte, enquanto sociedade civil, na efetivação das demandas propostas que foram registradas neste documento.

Entre as falas proferidas no coquetel, Lula compartilhou histórias vividas em sua caminhada relacionadas aos sistemas alimentares brasileiros apresentando sua dedicação às lutas de combate à fome e garantia de acesso a alimentos para populações em situação de extrema vulnerabilidade social. Reforçou a necessidade de criar mecanismos de proteção para as políticas públicas ligadas à Segurança Alimentar e Nutricional e que esses temas sejam amplamente divulgados entre a população.

“O Brasil precisa entrar num novo tempo. É preciso popularizar. É preciso tirar o conceito de alimentação saudável/orgânica da boca dos especialistas para a boca do povo”, afirmou o ex-presidente. Para Lula, a alimentação saudável tem que entrar na pauta tanto quanto assuntos como emprego e educação, demonstrando o compromisso com as demandas compartilhadas durante a roda de conversa no Camélia.

Para a anfitriã Bela Gil, este encontro foi um passo em direção à democratização dos significados da alimentação saudável, lembrou que a fome é um projeto político que retira das pessoas a possibilidade de autonomia para fazer escolhas alimentares adequadas. Também reformou a necessidade de incluirmos a reforma agrária de maneira transversal nas políticas públicas agrárias, ambientais e de promoção à saúde.

“Democratizar a alimentação significa democratizar a terra. O Brasil é um dos países com maiores índices de concentração de terra, resgatar a reforma agrária é fundamental”, afirma Bela.

Sem dúvida, o evento foi um espaço fraterno de partilha de experiências múltiplas de pessoas que trazem nas suas trajetórias o empenho nas lutas por soberania e segurança alimentar e nutricional. No decorrer do encontro, a comunidade Levante Slow Food Brasil presenteou o presidente com um estandarte confeccionado pelo coletivo de mulheres Linhas de Sampa para o evento internacional da rede Slow Food Terra Madre, ocorrido em 2018 na Itália. Com a mensagem “Lula Livre” em inglês e italiano, o emblema era um ato de denúncia à prisão do presidente em Curitiba no mesmo ano. Um momento que marca toda a emoção e entusiasmo com que o jantar aconteceu.

Esperança e força foram expressões muito mencionadas num consenso do coletivo presente de enfrentar os desafios postos durante a campanha presidencial este ano a fim de alcançar o objetivo de eleger Lula como presidente do Brasil no próximo mandato. Sem a pretensão de findar esse debate, o evento inaugura novas oportunidades de articulação para a realização de ações conjuntas planejadas e executadas de maneira dialógica e propositiva na construção de sistemas alimentares inclusivos, equânimes e solidários. Acesse a carta de apoio elaborada pelos ativistas alimentares aqui.

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 Bruna Crioula é nutricionista ecológica, comunicadora popular e             pesquisadora alimentar. Atua na popularização da biodiversidade brasileira   há 12 anos. É sócia-fundadora da Crioula | Curadoria Alimentar, empresa   social protagonizada por mulheres negras, comprometida na criação de   soluções ecológicas nos sistemas alimentares, da produção ao consumo.   Contato: @brunacrioula ou brunacrioula@gmail.com

 

Cosméticos Naturais

Cosméticos Naturais

Por Kellen Vieira

A natureza é construtora de tudo aquilo que utilizamos, desde o alimento, até os utensílios, tudo vem de recursos que a terra proporciona e nós utilizamos. Uma das relações mais antigas que temos com as criações de instrumentos e mecanismos são os cosméticos.

Historicamente, a utilização de plantas e minerais com finalidades cosméticas era muito presente no Egito antigo, onde já existia a cultura de pessoas que  se pintavam e se tatuavam. Estudos sobre esse período relacionam a utilização de argilas para a higiene básica. Inclusive, há registros de muitos faraós que eram enterrados junto de seus diversos bens pessoais, que incluíam cosméticos.

O conceito, produção, uso, abrangência e importância dos cosméticos mudou muito desde os antigos Egípcios. Atualmente, é muito comum associar os cosméticos à recente “revolução da beleza”, que abrange desde tratamentos para resolver problemas dermatológicos (como a acne e alergias) e chega até a problemas mais subjetivos como as rugas, manchas, celulites e demais preocupações estéticas, que hoje estão diretamente relacionadas à indústria da beleza.

No entanto, para  além da manutenção da vaidade humana, os cosméticos estão presentes no nosso dia a dia em itens de higiene para cuidados básicos como: xampu, condicionador, sabonete, creme dental, desodorantes e hidratantes corporais – coisas que utilizamos todos os dias e que praticamente não nos damos conta que também fazem parte dessa indústria.

Os cosméticos compõem uma das maiores indústrias mundiais, com um mercado em constante evolução e crescimento, sendo majoritariamente composta por grandes empresas que fazem parte um modelo comercial ultra capitalista, com produções em larga escala, utilizando de aditivos químicos derivados de petróleo, conservantes e outros elementos que podem ser considerados tóxicos e nocivos tanto para os seres humanos quanto para o meio ambiente. 

Quando falamos de produção em larga escala de qualquer indústria, podemos deduzir que o mercado conta com a participação da monocultura e do agronegócio. E na indústria dos cosméticos isso não é diferente. A extração de matérias primas naturais, nestes casos de produção em escala industrial  é feita com materiais de origem vegetal, animal e mineral, com a adição de insumos sintéticos, muitas vezes criados, e ou, e melhorados em laboratórios.

Para além da problemática da composição de muitos destes produtos, os cosméticos também estão ligados à utilização de animais em testes de eficiência e segurança, para evitar possíveis reações adversas indesejadas. Essa prática carrega uma grande discussão no mundo todo, com o questionamento da necessidade de infringir dor e sofrimento em animais para a fabricação de produtos, considerados supérfulos por muitas pessoas.

  

Recentemente o mundo virtual teve discussões mais afloradas sobre o tema com o vídeo viral “salve o Ralph” que repercutiu no mundo inteiro!

Assista ao vídeo:

Em resposta a esse modelo de produção, se faz necessário olhar para o passado e resgatar as origens de extração, produção e uso dos cosméticos utilizados por tantas culturas diferentes. É a partir desta necessidade que se popularizaram os cosméticos naturais.

Podemos considerar como “produto de beleza” natural desde aquele óleo de coco que a gente aprendeu com nossa avó a passar no cabelo, até produtos artesanais, ou industrializados, com formulações complexas para assuntos específicos – afinal, muito já foi conquistado na indústria dos cosméticos.

Como o nome já indica, os cosméticos naturais, especialmente os que são certificados pelo selo Ecocert, vêm com a proposta de relacionar produtos com matérias primas diretamente extraídas da natureza para os cuidados diários e sem sofrimento animal. Sendo assim, os cosméticos naturais trazem a utilidade de produtos que já conhecemos e utilizamos, somados à vantagem de ter uma origem menos nociva às pessoas e ao meio ambiente.

Nesses anos de Crioula, para além da alimentação, fizemos parcerias com empresas, idealizadas e coordenadas por mulheres maravilhosas, que conversam com a nossa forma de ver o mundo e compactuam com a nossa revolução gentil. 

A alimentação é um caminho dentre vários que podemos abraçar nessa caminhada do cuidado com o planeta com as pessoas, por isso nos juntamos a parceiros como a Eterea | Cosmética Natural e a Anne’s | Ateliê de Cosméticos Naturais, que têm como proposta a utilização de ingredientes naturais para a elaboração de produtos, com fórmulas gentis que não agridem nem o meio ambiente e nem as pessoas que as utilizam.

Produtos da Eterea:

Produtos da Anne’s:

Convidamos a todes que nos acompanham a conhecer esse novo olhar sobre os cosméticos, pois o uso destes itens está diretamente ligado à beleza e ao autocuidado. Apesar desses conceitos serem centrados em indivíduos, não podemos nunca desassociar a pessoa de seu meio. Tendo isso em mente, nada mais coerente do que associar o cuidado do meio ambiente ao auto cuidado, afinal coexistimos com a natureza, fazendo parte dela, ela cuidando de nós e nós cuidando dela.

Fontes:

PCC Group | Matérias-primas para a produção de cosméticos naturais
https://www.products.pcc.eu/pt/blog/materias-primas-para-a-producao-de-cosmeticos-naturais/#:~:text=Ingredientes%20de%20origem%20animal%20podem,ou%20%C3%A0%20vida%20dos%20animais%20.&text=Al%C3%A9m%20de%20mat%C3%A9rias%2Dprimas%20de,mar%20(por%20exemplo%2C%20algas)

Cosmetic Innovation | Crescimento dos cosméticos naturais, orgânicos, veganos e éticos é tendência irreversível
https://cosmeticinnovation.com.br/crescimento-dos-cosmeticos-naturais-organicos-veganos-e-eticos-e-tendencia-irreversivel/

Chemax | A Famosa Matéria-Prima para os Cosméticos
https://www.chemax.com.br/materia-prima-cosmeticos#:~:text=A%20mat%C3%A9ria%2Dprima%20para%20cosm%C3%A9ticos,amaciantes%2C%20entre%20outras%20subst%C3%A2ncias%20qu%C3%ADmicas.

UFSM Agronomia | Conheça a relação entre a agricultura e a indústria de cosméticos
https://www.ufsm.br/pet/agronomia/2021/06/29/conheca-a-relacao-entre-a-agricultura-e-a-industria-de-cosmeticos/#:~:text=Conhe%C3%A7a%20a%20rela%C3%A7%C3%A3o%20entre%20a%20agricultura%20e%20a%20ind%C3%BAstria%20de%20cosm%C3%A9ticos,-Copiar%20para%20%C3%A1rea&text=Entre%20eles%2C%20destacam%2Dse%20os,por%20diversas%20empresas%20de%20cosm%C3%A9ticos.

Conselho Regional de Química | História dos Cosméticos
https://www.crq4.org.br/historiadoscosmeticosquimicaviva#:~:text=Os%20cosm%C3%A9ticos%20n%C3%A3o%20apenas%20cobrem,cremes%20espec%C3%ADficos%2C%20e%20bastante%20caros.

Namu Portal | Tudo o que você precisa saber sobre cosméticos naturais
https://namu.com.br/portal/estetica/corpo-e-pele/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-cosmeticos-naturais/

Forbes | Brasil é o quarto maior mercado de beleza e cuidados pessoais do mundo
https://forbes.com.br/principal/2020/07/brasil-e-o-quarto-maior-mercado-de-beleza-e-cuidados-pessoais-do-mundo/

Mudanças Climáticas e pessoas racializadas

Mudanças Climáticas e pessoas racializadas

por Kellen Vieira

Um novo estudo, compartilhado pela BBC news, indica que pessoas negras na maioria das cidades dos Estados Unidos são sujeitas ao dobro de calor corporal do que as pessoas não negras da mesma cidade.
Os estudos dizem que as diferenças não são explicadas pelo nível de pobreza, mas sim por racismo e segregação históricos.

Como resultado, as pessoas negras geralmente moram em áreas com menos espaços arborizados e mais prédios e asfalto.

O que aumenta o impacto da variação de temperatura e mudança climática, principalmente em cidades que já são conhecidas por terem o clima mais quente do que o normal. O termo técnico para os impactos que os prédios, estradas e demais infraestruturas das cidades causam na temperatura é: ilha de calor urbana. Todo o concreto e asfalto atrai e estoca o calor, fazendo com que dia e noite em grandes áreas urbanas sejam mais quentes do que outros lugares à volta.

Dentro das cidades há uma grande diferença de como a ilha de calor irá impactar, em áreas ricas, por exemplo, há árvores e espaços verdes que são notoriamente mais frios que aqueles com grande quantidade de casas e indústrias.

Um estudo anterior feito nos Estados Unidos provou uma correlação entre bairros quentes em grandes cidades com práticas de segregação racistas datadas de antes de 1930. Naquela época áreas com grande numero de negros e imigrantes ilegais eram marcadas, por oficiais federais, em documentos e quem vivia nesses espaços tinha empréstimos e e investimentos negados, tal prática era conhecida como “redlining”. O que leva a uma concentração de pobreza e dificuldade da aquisição de casas próprias pelas populações mais pobres nessas grandes cidades.

Esse novo estudo olha mais de perto para esses bairros mais quentes e as pessoas que são afetadas por isso. Usando dados satélites de temperatura combinados com as informações do censo demográfico dos Estados Unidos, os autores relacionam que os bairros onde a maioria é de pessoas negras e latinas têm temperatura bem maior do que aqueles bairros onde a maioria é branca.

Para sistematizar o estudo define latinos e negros como “pessoas de cor”, não sendo necessariamente os latinos pessoas negras, mas sim considerando todas as pessoas que não se declaram como brancas.

Em todas as áreas urbanas, com exceção de seis, das 175 maiores áreas urbanas dos Estados Unidos continental, as ditas pessoas de cor sofrem muito mais com o impacto do calor no verão.

As pesquisas mostram que pessoas negras estão expostas, em perímetro urbano, a uma média de 3.12ºC de calor a mais, em comparação com pessoas brancas têm em áreas urbanizadas.

A exposição ao calor não apenas aumenta a taxa de mortalidade, mas também está conectado a diversos impactos como insolação, perda de produtividade no trabalho e dificuldade de aprendizado.

“Nosso estudo ajuda a promover mais dados quantitativos que evidenciem que o racismo climático e racismo ambiental existem”, diz a Dra Angel Hsu, da universidade da Carolina do Norte. Chapel Hill, autora principal do artigo. “E isso não é apenas um incidente isolado, isso se perpetua por todo o país. Embora ser pobre fosse um fator de exposição ao aumento de temperatura urbana no verão, isso não era uma explicação completa.”

Em torno da metade das cidades, a maioria das pessoas de cor enfrentam verões mais quentes do que pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, mesmo considerando que apenas 10% dessas pessoas de cor são classificadas como pobres.

Os especialistas dizem que a raiz dessa diferença pode ser encontrada na história “nós podemos traçar vários dessas iniquidades atuais ligadas ao meio ambiente, problemas socioeconômicas e da saúde como explicitamente ligada às decisões e planejamento urbano do século 20 como o ‘redlining’ ” diz Dr Jeremy Hoffman, o cientista chefe do Museu da Ciência em Virginia, que não está envolvido nesse novo estudo. “Embora o dinheiro não nasça em árvores, o dinheiro está claramente localizado em bairros embaixo das árvores, especialmente nos Estado Unidos”.

Com o aumento das temperaturas provocado pelo aquecimento global com o passar das décadas, esse é um problema que irá ficar pior sem uma atuação significativa dos estados e do governo federal, como o presidente Biden tem prometido.

Soluções, entretanto, precisam ser pensadas cuidadosamente. No papel, os autores refletem o fato que plantar árvores em áreas de calor pode reduzir a temperatura no verão em cerca de 1.5ºC, o que é bom para os moradores.

Mas as novas árvores também podem aumentar o valor das propriedades e acabar expulsando as pessoas as quais a política de plantação de árvores visava beneficiar, a chamada gentrificação.

“Como nossa sociedade emerge da pandemia, que mostrou que essas mesmas comunidades que enfrentam maior calor no verão, são as mesmas que sofrem os maiores impactos da Covid-19, é essencial que a gente assegure e foque na nossa recuperação” diz Dr Hoffman “Mas, se decisões para esses bairros são feitos sem a participação ativa e orientação dos moradores desses espaços, não será algo melhor, seja em teoria ou prática, do que o “redlining”, ou qualquer outro processo de planejamento desvantajoso do passado”

O estudo está publicado na revista Nature Communications.

Fonte: https://www.bbc.com/news/science-environment-57235904

Dinheiro dá em Árvore | Conheça a Erva-Mate

Dinheiro dá em Árvore | Conheça a Erva-Mate

 

Originária do sul do Brasil, a famosinha Ilex Paraguariensis nomeia uma das mais conhecidas músicas da banda sulista Engenheiros do Hawaii.

Essa erva, muito gaudéria, é amplamente consumida não só no sul do Brasil, mas também na Argentina, Paraguai e Uruguai. Trata-se de uma árvore que pode atingir mais de oito metros de altura com pequenos frutos e folhas ovais. Sim, estamos falando dela: a Erva-mate.

Seu uso, extração e cultivo vem de tradições antigas, oriunda dos povos indígenas da região, em especial os povos Guaranis e Quínchua. Conhecida como Kaaguy jerovia, a erva Mate é reconhecida como sagrada pelo povo Guarani. Esses povos batizaram essa erva de acordo com seu consumo que se dá em cuias.

Com o passar do tempo, o consumo foi se diversificando para o Chimarrão, Tererê e até mesmo o chá quente ou gelado.

Por ter origem indígena, durante o período de colonização, os padres da região proibiram o uso da erva, alegando prejuízos à saúde. Porém, essa medida não se manteve por muito tempo.

Atualmente, o cultivo da erva abrange diversas propriedades, principalmente nos estados do Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. A maioria do cultivo ocorre em propriedades pequenas e médias, empregando milhares de pessoas e tendo um impacto social e econômico expressivo nas regiões de plantio.

A preferência do plantio por pequenos agricultores se dá pelo fato da erva mate ter melhor qualidade em áreas sombreadas, e nada mais sombreado do que o interior da floresta, não é mesmo? Mas, além de sua necessidade por sombra, o ciclo da erva mate, diferentemente do ciclo do café, manteve por muito tempo o extrativismo vegetal como principal forma de exploração. Isso também foi responsável pela manutenção da cultura do Mate.

No estado do Rio Grande do Sul existem diferentes aldeias que mantêm a cultura da erva mate, a Nhum Porã e a Tekoa Yvity Porã são exemplos, mantendo os rituais de carijó, preservando florestas nativas com suas ervateiras antigas e enormes.

Se por um lado isso foi importante para manter valores culturais, por outro, a erva mate sofreu com o avanço dos desmatamentos, das monoculturas e da pecuária, uma vez que a erva mate faz parte da produção de pequenas propriedades e também de florestas. Devido a isso, atualmente, apesar da grande produção de erva brasileira, a Argentina é a maior produtora de mate.

Em contrapartida, o Brasil é o segundo maior produtor, e ainda mantém os ervais nativos, colaborando assim com o extrativismo ervateiro que contribui com a manutenção e conservação de florestas, bem como a conservação de genótipos de Ilex. Portanto, mantemos a tradição com qualidade e garantindo a sobrevivência da natureza, sem esquecer dos impactos econômicos regionais.

Mesmo com toda essa “sustentabilidade” em sua produção, a erva mate também é cultivada em diferentes sistemas de produção sendo eles: ervais nativos extrativistas ou adensados, ervais plantados em silviagrícola ou em sistemas agroflorestais, sendo esse último o mais comum.

Os sistemas de plantação em larga escala e expostos ao sol são os menos comuns no Brasil. Particularmente nesses sistemas há o uso de aditivos químicos, porém, se trata de um tipo de exploração que afeta a qualidade da erva.

Outro ponto importante na cadeia produtiva são as condições de geração de renda dos povos extrativistas, que muitas vezes têm dificuldade de escoamento e condições precárias de trabalho, o que precisa ser discutido não só no caso da erva mate, mas de todos os setores que trabalham com o extrativismo.

Mesmo com algumas barreiras que precisam ser ultrapassadas dentro da produção de alimentos do Brasil, a Erva Mate ainda representa a resistência de uma cultura ancestral que hoje representa uma de atividades econômicas mais brandas, e que preza pela utilização sustentável da mata nativa, sendo um produto florestal não madeireiro de muita abundância e lucro.

A Erva Mate é o dinheiro que dá em árvore mas, para além da simples moeda, é cultura, é tradição, é segurança e soberania alimentar e nutricional de diversas comunidades.

A Erva mate é a riqueza que “dá em árvore”.

Por Kellen Vieira