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Plantando a regeneração – conheça a primeira mulher africana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz

Plantando a regeneração – conheça a primeira mulher africana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz

Por Milena Ventre

Wangari Muta Maathai nasceu em Nyeri, uma área rural do Quênia (África), em 1940. Ela obteve um diploma em Ciências Biológicas pelo Mount St. Scholastica College em Atchison, Kansas (1964), um mestrado em Ciências pela Universidade de Pittsburgh (1966), e fez doutorado na Alemanha e na Universidade de Nairobi, antes de obter um Ph.D. (1971) da Universidade de Nairobi, onde também ensinou anatomia veterinária. A primeira mulher na África Oriental e Central a obter um doutorado.

Em 1977 junto ao Conselho Nacional de Mulheres do Quênia, a professora Wangari Maathai fundou o Movimento Cinturão Verde (Green Belt Movement), cujo foco principal é a redução da pobreza e a conservação ambiental por meio do plantio de árvores, sendo destinado principalmente às mulheres.

O Movimento capacitou mulheres, a população com deficiência física e os jovens que abandonaram os estudos, tornando-os capazes de plantar e cultivar mudas adequadamente, as quais seriam vendidas para a organização, gerando fonte de renda, e depois redistribuídas gratuitamente para o reflorestamento de árvores nativas.

O Green Belt Movement incentivava as mulheres a criar maternidades de árvores nativas da África. As pessoas viajavam até encontrar as sementes dessas árvores, depois plantavam em um lugar para elas crescerem um pouquinho e darem mais sementes (a tal maternidade de árvores), e então replantavam as árvores nas fazendas e plantavam as sementes novas na maternidade, recomeçando o ciclo.

Mais de 900.000 mulheres quenianas se beneficiaram de sua campanha de plantio de árvores vendendo mudas para reflorestamento.

Numa realidade onde o desmatamento dificultava o acesso a lenha, matriz energética usada no preparo dos alimentos, fazendo com que as mulheres caminhassem em excesso na busca e no carregamento de lenha, prejudicando a saúde das mulheres e toda a alimentação da comunidade, o Green Belt Movement trouxe dignidade à vida das mulheres, plantou novos acessos à lenha, desenvolveu renda e fortaleceu a comunidade, tudo isso se deu ao passo que reflorestou a paisagem.

No seu livro: “Reabastecendo a Terra: Valores Espirituais para a Cura de Nós e do Mundo” Maathai descreve os 4 valores centrais do Movimento Cinturão Verde, os quais eram ensinados nos seminários, são eles:

Amor ao meio ambiente,
Gratidão e respeito pelos recursos da terra,
Auto-capacitação e auto-aperfeiçoamento,
Compromisso com o serviço

 

No filme “Dirt the Movie”, Maathai conta a história do beija flor, mesmo este sendo tão pequeno, faz o esforço incessante de carregar uma gota de água para apagar o incêndio na floresta, ao ser questionado pelos demais animais que o assistem paralisados pelo fogo, o beija flor responde: “Estou fazendo o melhor que eu posso! E isso pra mim é o que todos deveríamos fazer”.

No centro de sua mensagem está a demanda por um novo nível de consciência e preocupação ambiental.

“Hoje enfrentamos um desafio que exige uma mudança no nosso pensamento, para que a humanidade pare de ameaçar o seu suporte de vida. Somos chamados a ajudar a Terra, a curar as suas feridas e, no processo, curar as nossas – a abraçar, de verdade toda a criação em toda a sua diversidade, beleza e maravilha. Reconhecer que o desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz só resultam juntos.”

Em 1992, enquanto protestava contra a distribuição de terras do presidente Daniel arap Moi, Maathai foi espancada até ficar inconsciente, felizmente resistiu e mesmo diante de toda brutalidade ela seguiu destemida, Wangari Muta Maathai lutou contra a expropriação de terras, contra abusos dos direitos humanos e pela proteção do meio ambiente no Quénia.

“São as pessoas que devem salvar o meio ambiente. São as pessoas que devem fazer seus líderes mudarem. E não podemos ser intimidados. Portanto, devemos defender aquilo em que acreditamos.”- Wangari Maathai

Ao todo o Green Belt Movement plantou 51 milhões de árvores, e Wnagari inspirou as Nações Unidas a lançar uma campanha que levou ao plantio de 11 bilhões de árvores em todo o mundo.

Em 2004 Maathai recebeu Prêmio Nobel da Paz por tudo o que fez pelo meio-ambiente, pelas mulheres e pela democracia no seu país. Em 2011 aos 71 anos, Wangari Maathai deixou de existir num corpo físico.

Após sua morte, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, chamou Maathai de “pioneira na articulação dos vínculos entre direitos humanos, pobreza, proteção ambiental e segurança”. O ativista ambiental nigeriano, Nnimmo Bassey, comentou: “Se ninguém aplaude esta grande mulher da África, as árvores baterão palmas”

Toda vida humana é co criada junto à Terra, o convite para regenerar nossa relação com a Terra está feito! Já é sabido que a nossa cultura mercadológica só resulta em lixos e escassez, esquecemos o quão precioso é compreender o organismo vivo ao qual habitamos, além da nossa espécie, existe o infinito da criação, todos os seres, formas de vida, habitando nesse tempo espaço (templo) da Terra.

Wangari Maathai recebe o Prêmio Nobel da Paz em Oslo – a primeira mulher negra africana a fazê-lo.

Uma ancestral que tem muito a nos ensinar!

Engana-se quem pensa que construir um futuro digno para as pessoas e o planeta é uma batalha simples de ser travada. Não há romantismo, é de fato uma disputa de narrativa e práticas frente a forças com poder econômico, político e, muitas vezes, bélico. As mulheres são protagonistas nas lutas em defesa da natureza, desde muito tempo, são elas que trabalham de maneira alinhada aos princípios da agroecologia e soberania alimentar dos territórios aos quais pertencem.

Siga acompanhando nossos conteúdos para conhecer mais mulheres inspiradoras que fazem desse mundo um lugar mais solidário e nutrido.

A Crioula | Curadoria Alimentar tem como propósito trazer ancestralidade, conceitos sobre regeneração, princípios de ecologia, alimentação biodiversa, e partilhar isso com a sociedade, espalhando nossas sementes, construindo uma cultura regenerativa. Para isso acontecer é importante que mais pessoas contribuam conosco, através do Clube de Assinaturas da Crioula ou fazendo uma transferência via pix pela chave: oi.crioula@gmail.com.

REFERÊNCIAS:

Youtube – Wangari Maathai e a luta pela defesa do meio ambeinte. Disponível em: link para vídeo  

Green Belt Movement

http://www.greenbeltmovement.org/

DW – Wangari Maathai: A ambientalista queniana que ganhou o Nobel da Paz. Disponível em:. link

Wangari Maathai e as florestas da África

https://medium.com/@oquecoisa/wangari-waathai-e-as-florestas-da-%C3%A1frica-d52746ec0a4d

Onu – Wangari Maathai, a mulher das árvores morre.

https://www.un.org/africarenewal/web-features/wangari-maathai-woman-trees-dies

Facebook – Green Belt Movement

https://m.facebook.com/greenbeltmovement/reviews/

Reflorestamento no Quênia

http://www.womenaid.org/press/info/development/greenbeltproject.html

Green Belt Movement Principais discrusos e artigos. Acesse em:

https://www.greenbeltmovement.org/wangari-maathai/key-speeches-and-articles

Viemeo. Filme – A visão de Wangari Maathai

https://vimeopro.com/marlboroproductions/taking-root-the-vision-of-wangari-maathai

Filme – Criando Raízes

http://takingrootfilm.com/

GBM – Iniciativa Nacional de Plantio de Árvores

https://www.greenbeltmovement.org/node/854

Mãedioca na mesa: as suas possibilidades na culinária

Mãedioca na mesa: as suas possibilidades na culinária

Dia 22 de abril é uma data especial, pois é comemorado o dia da Terra, dia do suposto “descobrimento” do Brasil e Dia da Mandioca. São datas que significam tanto para a nossa história e talvez a mandioca representa muito sobre as nossas vidas aqui na terra, e, por isso, hoje trazemos esse conteúdo especial.

A mandioca está na nossa mesa há mais de 500 anos de Brasil. Embora os europeus tenham catalogado a planta quando chegaram nas terras americanas, a Mandioca é ancestral, é sabedoria da floresta amazônica, resiste e alimenta nossa nação até hoje. Uma raiz venenosa que, através da tecnologia indígena foi amansada (ou talvez os indígenas amansados por ela), ao longo dos anos, vimos os usos da mandioca e seus derivados se expandirem conforme o império brasileiro descia ao sul, e com isso, cada região adaptou o cultivo e uso culinário da mandioca às suas regiões.

No norte e nordeste os beijus, farinhas, e gomas são alimentos diários e compõem praticamente todas as refeições do dia. Desde a mandioca cozida, ao beiju e o açaí com tapioca ou farinha d’água.

Macaxeira também conhecida como Mandioca brava é a variedade mais comum ao norte – variedade essa que é venenosa e precisa ser utilizada com técnica, mas nos presenteia com o Caldo de Tucupi. A mandioca brava normalmente é usada na indústria para fazer farinhas, por conta do ácido cianídrico ela não pode ser consumida crua ou cozida sem processamento. 

Já a Mandioca Doce, é nomeada como Mandioca ou Aipim, é cultivada principalmente no sudeste e sul do Brasil, onde a farinha de mandioca, o aipim cozido e o sagu se fazem mais presentes.

Se fossemos listar cada receita com aipim não iríamos parar nunca, de tão abundante que essa planta é. Da planta in natura até seus subprodutos temos inúmeros itens que são usados na culinária e nas indústrias têxtil, farmacêutica e química, onde o amido de mandioca serve de matéria prima para inúmeros produtos como plásticos biodegradáveis.

Quando nos deliciamos com os usos da mandioca na nossa culinária, cada regionalidade vai falar por si. Eu, enquanto moradora do sul do Brasil, aprendi a comer mandioca ou aipim cozido servido com molho de carne, e as sobras fritas em óleo quente. Uma das sobremesas mais comuns aqui é o Sagu de Vinho, que embora seja uma tradição da colonização italiana, nada mais é do que pérolas de amido de mandioca cozidas no vinho ou suco de uva. Minha mãe prepara um ótimo sagu de laranja e meu pai ama Vaca Atolada, um típico prato da culinária tropeira feita costela bovina e aipim.

A farinha de mandioca crua ou torrada é um item essencial num churrasco aqui no Sul para preparar nossa amada farofa, que no Nordeste é consumida acompanhando qualquer refeição.

Na verdade, o que me inspirou a produzir este texto foi perceber que eu mesma ainda sei muito pouco sobre os usos da mandioca na nossa culinária, além do senso comum. Em 2020, durante a pandemia, aprendi a fazer Púba, que é a massa da mandioca fermentada.

É do processo de fermentação da mandioca que é feito os polvilhos (doce e azedo), assim como a goma de tapioca, a fécula de mandioca, e outras farinhas que utilizamos no dia a dia. Meu primeiro contato com a puba foi com a Ale Nahra (nossa amiga agricultora urbana). Nas suas redes sociais, Ale compartilhou o processo de fermentar a mandioca, que depois pode ser utilizada de várias maneiras como preparar bolos, pães, doces, a própria tapioca, entre outras iguarias. Lembrando que os processos de fermentação são ótimas estratégias de armazenamento de alimentos.

A primeira vez que fui reproduzir a técnica de pubar a mandioca, tive uma surpresa: minha mãe ao me ver preparando a mandioca lembrou que minha avó fazia da mesma maneira quando morava no campo, e assim fazia polvilho artesanalmente para fazer pães, bolos e bolachas. Foi uma emoção tremenda, tanto minha, quanto da minha mãe. Ela, por ter a memória viva da mãe dela, e eu, por estar aprendendo um saber ancestral.

Pesquisando sobre a puba fiz meu primeiro bolo de carimã, receita da querida Sandra Guimarães do blog Papacapim. Carimã é como é chamada a goma de mandioca fermentada, também conhecida como púba ou mandioca pubada. Além disso, Neide Rigo nos dá uma aula sobre os usos e farinhas de mandioca que vale a pena conferir.

Mil e uma possibilidades da Mandioca na Culinária

Mandioca in natura

É o alimento fresco, recém colhido. Da mandioca fresca podemos aproveitar a entrecasca, que pode ser usada de várias formas. Eu já preparei frita em imersão, na Air Fryer, fiz farofa, e cozida com molho vermelho. A raíz, que tem variedades brancas e outras em tons amarelados, podemos preparar cozida, assada, como purê, bolinhos salgados, e é matéria prima para outras formas de preparo.

Folhas da Mandioca

Cm as folhas da mandioca é feito um prato tradicional da culinária amazônica: a Maniçoba – feita com as folhas de maniva e carne de porco. Como um ensopado, as folhas de mandioca são cozidas lentamente, por mais de um dia e depois cozida com legumes, carne de porco e temperos. Apelidado de feijoada sem feijão, normalmente acompanhada de arroz e farinha d’água.

Goma de mandioca fresca

A goma é feita a partir da mandioca ralada ou processada, dessa fibra são feitos bolos, pães e biscoitos. No processo de manufatura é extraído o Tucupi, que é o caldo fermentado, muito usado na culinária amazônica. Além do Tucupi, da sedimentação do caldo o que se forma, temos o amido de mandioca, que também é conhecido como polvilho doce, goma seca, fécula de mandioca ou tapioca, e a farinha de mandioca seca ou torrada.

Tucupi

É o caldo fermentado da mandioca, uma tradição amazônica. Ele é extraído artesanalmente com o tipiti, uma tecnologia indígena. Feito de palha, o tipiti espreme a mandioca ralada para obter o caldo amarelo, que depois é fermentado por dias. Um dos pratos clássicos da culinária paraense é o Tacacá, feito com o tucupi, camarão e jambu.

Massa Fermentada, Massa Púba, Farinha de Carimã, Farinha D’Água

No processo de fermentação da mandioca ela é descascada, cortada em pedaços e deixada de molho em água por pelo menos 7 dias. O tempo de fermentação dependerá da temperatura ambiente e assim que ela estiver macia pode ser ralada numa peneira. Assim, pode formar uma farinha úmida que pode ser usada para fazer beijus, bolo de carimã, mingaus entre outras preparações. O caldo que sobra desse processo também se torna Tucupi, e o amido seco é o polvilho azedo.

Não só  as comunidades indígenas, mas também as comunidades de terreiro e comunidades quilombolas têm um papel importantíssimo na manutenção dos saberes tradicionais na fabricação de farinhas e beijus. No nordeste, por exemplo, a mandioca deu vida às paçocas, aos beijus, bobós, pirões e várias preparações da culinária afro-diaspórica. Na África, a mandioca também se faz presente, e com nossos ancestrais aprendemos a utilizá-la de várias maneiras, preparando muitas delícias. Deixo também como referência o trabalho da Chef Solange Borges (@culinariadeterreiro) com uma live muito bacana “Mulheres Solares apresentam: ‘A Farinha, a Casa e os Saberes” falando sobre o trabalho das Mulheres Solares e sua Casa de Farinha no interior da Bahia. 

Agora que você sabe tudo sobre a mandioca, aproveite para experimentar jeitos novos e farinhas diferentes! Mandioca é nossa mãe, o alimento presente na mesa de todos os brasileiros em todos os cantos do país, por isso sua importância histórica, cultural e soberana.

Texto por Natália Escouto

Saiba mais em:

Embrapa. Cultivares de Mandioca da Embrapa. Disponível em https://www.embrapa.br/cultivar/mandioca 

Maranhão R., Bastos S. Marchi M. Cultura e Sociedade no Sistema Culinário da Mandioca no Brasil. SOCIAIS E HUMANAS, SANTA MARIA, v. 28, n. 02, mai/ago 2015, p. 54 – 6 Disponível em https://periodicos.ufsm.br/sociaisehumanas/article/view/16893/pdf 

Menezes S. Sabores da Mandioca: A tradição do consumo das iguarias no Estado de Sergipe.  Ponta de Lança, São Cristóvão, v.6, n. 12 abr. 2013- out 2013

Rigo N. Da mandioca à tapioca e ao polvilho. Blog Come-se. Disponível em https://come-se.blogspot.com/2007/12/da-mandioca-tapioca-e-ao-polvilho.html

Rigo N. Da Mandioca aos seus produtos – carimã ou puba, polvilho, farinha de raspa ou cassava flour. Blog Come-se. Disponível em https://come-se.blogspot.com/2019/02/da-mandioca-aos-seus-produtos-carima-ou.html

Rigo N. Farinha de raspa de mandioca pode substituir o trigo em vários pratos. Fácil de fazer! Blog Come-se. Disponível em https://come-se.blogspot.com/2017/01/farinha-de-raspa-de-mandioca-pode.html 

Guimarães. S. Bolo de Carimã com goiabada. Blog Papacapim. Disponível em http://www.papacapim.org/2021/01/04/bolo-de-carima-com-goiabada/

Receita Maniçoba. Blog Paladar Estadão. Disponível em https://paladar.estadao.com.br/receitas/manicoba,10000084492

Farinha de Mandioca | Tipos de Farinha de Mandioca Site Cozinha Técnica. Disponível em https://www.cozinhatecnica.com/2021/05/farinha-de-mandioca-tipos-de-farinha-de-mandioca/

Café: uma volta ao mundo

Café: uma volta ao mundo

Existem hábitos, tão incorporados ao nosso dia, à nossa vida, que raramente questionamos como começaram ou por quê os fazemos. Visto tanto como alimento quanto hábito, o café é um dos itens mais presentes no cotidiano da maioria das pessoas.

Com exceção da água, o café é a bebida mais consumida no mundo inteiro (1). Logo, o hábito de tomar café todos os dias extrapola as fronteiras brasileiras e se torna, praticamente, um hábito mundial.

Para entender o papel que essa bebida tem na nossa vida e no mundo, fizemos uma linha do tempo para entender o contexto histórico desta que é bebida, planta, ritual e símbolo social carregado de história, cultura, problemas, dinheiro e popularidade.

Da África ao Brasil

Não existe um registro que confirme quando ou quem descobriu o café. No entanto, a maioria dos pesquisadores concordam que o café é originário da região que hoje chamamos de Etiópia, na África (2). Existem diferentes histórias e versões sobre como o café foi descoberto, uma das mais conhecidas é a do pastor que, ao levar seu rebanho para pastar, notou que as ovelhas que comiam um fruto vermelho ficavam mais agitadas e não demonstravam cansaço. Ele, por sua vez, ao provar o fruto se sentiu revigorado e cheio de energia (3). Então ele levou os grãos para um monge, que ficou curioso e resolveu preparar uma infusão com as folhas e frutos.

Caso você queira saber mais sobre as histórias de origem do café e suas versões, de forma resumida, confira o vídeo produzido pela revista Exame:

Há registros de que o consumo do café, como fruto, começou por volta de 575 d.C., coincidindo com o período das lendas. Inclusive, a Etiópia ainda é hoje uma região produtora de café, conhecida por realizar uma elaborada cerimônia do café, que envolve café torrado e moído na hora manualmente, e braseiros de carvão para aquecer os utensílios especiais de cerâmica, onde o café será fervido e servido (2). O tempo pode variar, mas há cerimônias que duram até uma hora.

No entanto, seria apenas uma questão de tempo até os frutos do café começarem a ser comercializados e ganharem popularidade em outras regiões. A península arábica, que é separada da Etiópia por um braço do Mar Vermelho, foi o local onde o café, enquanto bebida como conhecemos hoje, começou a ser consumido, mais especificamente no Iêmen (2).

Os árabes da região usavam a palavra qahwa para se referir ao café, sendo a mesma palavra se referiam ao vinho – essa é uma das possíveis origens da palavra café. Em um primeiro momento, a bebida era considerada sagrada e também usada como medicamento; depois, famílias mais abastadas começaram a ter a sua própria sala de café, destinadas a cerimônias; e para aqueles que não dispunham de recursos, começaram a surgir as casas de cafés, chamadas de kaveh kanes. (2)

Os árabes da região usavam a palavra qahwa para se referir ao café, sendo a mesma palavra se referiam ao vinho – essa é uma das possíveis origens da palavra café. Em um primeiro momento, a bebida era considerada sagrada e também usada como medicamento; depois, famílias mais abastadas começaram a ter a sua própria sala de café, destinadas a cerimônias; e para aqueles que não dispunham de recursos, começaram a surgir as casas de cafés, chamadas de kaveh kanes. (2)

No final do século 15, peregrinos mulçumanos já haviam introduzido o café no mundo Islâmico pela Pérsia, Egito, Tuquia e norte da África. Em 1475, foi criada a primeira cafeteria na Turquia, dando ao café um aspecto social3. Em 1570, já haviam mais de 600 só na cidade de Constantinopla – hoje, Istambul – e a popularidade do café só continuava a crescer. (4)

Demoraria alguns anos e longos caminhos até o café chegar na europa e, posteriormente, às Américas. 

Entretanto, foi por volta de 1600 que algumas amostras de grãos/sementes de café foram surrupiadas por um peregrino indiano e levadas ao sul da Índia, nas montanhas de Mysore. Após, em 1616, os holandeses, que dominavam o comércio mundial por navios na época, transportaram uma árvore de café do Iêmen para a Holanda. A partir disso, começaram a plantar café em suas colônias por Timor, Sumatra e Java, sendo os abastecedores de toda a Europa. (5)

Em 1629 começaram a surgir as primeiras cafeterias europeias em Veneza, no entanto seguindo os modelos turcos e árabes (4). Visto que o café tinha origem em países mulçumanos, a igreja católica considerava a bebida pecaminosa, e foi um dos grandes entraves que a Europa teve para popularizar o café.

 Por mais que a disponibilidade do café estivesse em crescimento na Europa, vale lembrar que, nessa época, o café ainda se tratava de um artigo de luxo.

Afinal, as casas de café eram frequentadas, em sua maioria, por intelectuais e membros da alta sociedade (4). E apesar de elitistas, as cafeterias europeias estão diretamente ligadas ao movimento iluminista, que revolucionou as áreas da ciência, artes e filosofia da época, que se tornaram um marco histórico do pensamento humano.(6)

E em 1714, os holandeses tiveram a iniciativa de presentear o rei da França, Luís XIV, com sementes de café – o que acabou se tornando um infortúnio para os holandeses, uma vez que foi assim a planta chegou nas colônias francesas e a França se tornou o principal concorrente comercial da Holanda nas vendas de café. (5)

Mas é em 1727 que o caminho do café chega em um destino, até então, inesperado. Foi por meio de mais plantas de café roubadas, desta vez por um militar luso-brasileiro – Francisco Melo Palheta – com plantas vindas da Guiana Francesa, que o café chegou em solo brasileiro, no Pará. (6, 2)

Do Brasil para o mundo

Ao estudarmos a história do Brasil durante a colonização, aprendemos que os acontecimentos políticos e sociais são fortemente vinculados aos ciclos econômicos. Do século XVI ao XVIII, a grande força econômica do Brasil colônia, assim como diversas outras colônias pelas Américas, foi a produção de açúcar. (7)

Visto que o solo e clima eram propícios para o cultivo de cana-de-açúcar, criou-se uma demanda enorme de mão de obra para as plantações. Na tentativa falha de escravizar os nativos, os europeus deram início ao sequestro em massa de africanos para terras brasileiras. (2) 

Mas o que teria de relação com o café? Quase tudo.

Com as plantações de cana-de-açúcar nas diversas colônias europeias pelas Américas, o açúcar, que antes era uma iguaria destinada à realeza e aristocratas, se tornou popular. E foi este mesmo açúcar que adaptou a bebida amarga do oriente para o paladar europeu. (2)

Apesar do café ter chegado em terras brasileiras em 1727, demoraram alguns anos até o cultivo ser estabelecido como a principal atividade econômica do país. Somente em 1800, dentro do contexto europeu da Revolução Industrial, que a demanda por café aumentou consideravelmente, sendo uma das bebidas mais utilizadas pelos operários das fábricas nas exaustivas jornadas de trabalho.(4, 6)

A produção de café fez a economia brasileira disparar de forma inédita. As plantações ficavam concentradas na região sudeste, principalmente no Vale do Paraíba, entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. (2, 6, 7)

A produção de café fez a economia brasileira disparar de forma inédita. As plantações ficavam concentradas na região sudeste, principalmente no Vale do Paraíba, entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo. (2, 6, 7)

Além de estar diretamente ligado a uma imensa devastação ambiental, uma vez que a mata atlântica da região foi destruída para dar lugar às plantações, o café também traz como seu principal legado histórico a intensificação do tráfico de africano e a escravização destes. (6)

O Brasil é o café, e o café é o negro.
Uma frase proferida por um parlamentar brasileiro, em 1880, que dá um bom contexto da mentalidade, economia e sociedade da época. (2, 6)

Além de ser o país que mais recebeu pessoas sequestradas do continente africano, também foi o último país a abolir a escravatura institucionalmente. E a economia cafeicultora foi um dos principais fatores da resistência – chegando a gerar demandas de ressarcimento pelos proprietários de terras, caso a abolição acontecesse. (6)

 

Diferente do que os grandes produtores achavam, a abolição não acabou com a produção de café do Brasil. Os Barões do Café receberam subsídios para trazerem famílias europeias, em sua maioria italianas, para trabalharem nas lavouras de café (6). O ciclo do café só teve seu fim, em 1930, com a Grande Depressão de 29 nos Estados Unidos, que era o principal comprador do Brasil (3). No entanto, até hoje o Brasil é o maior exportador de café do mundo, sendo um dos principais produtores do grão (9).

O café não acabou

Ainda existem muitas perspectivas que eu gostaria de abordar sobre o café. Começar o assunto trazendo essa linha do tempo, nos ajuda a contextualizar, pelo menos um pouco, como esse alimento, tão presente no nosso cotidiano, ajudou a moldar a nossa sociedade-mundo e a nossa sociedade-Brasil.

Uma planta oriunda do continente africano se tornou uma das principais justificativas para a manutenção de um sistema escravocrata que desumanizou pessoas sequestradas deste mesmo continente. O café e o racismo são os frutos da escravização que colhemos até hoje. Ambos com sabor amargo, ambos incorporados ao nosso cotidiano, ambos fomentados pelo sistema capitalista.

O café é a bebida mais consumida do mundo, depois da água. Com essa linha do tempo, temos o “como?”. Em breve, traremos algumas possibilidades do “por quê?”.

As inquietações ao redor do café, no entanto, assim como para diversos outros alimentos tão cotidianos e marcantes em nossos hábitos sociais, não se acabam.

Texto por Betina Aleixo

Caso deseje ler sobre mais alimentos inquietantes e cotidianos, recomendamos o nosso conteúdo especial sobre o chocolate. Leia aqui.

Dinheiro dá em Árvore: Serigueira

Dinheiro dá em Árvore: Serigueira

Por Kellen Vieira

Ao seguir mais ao norte do país existe uma árvore que dá tanto dinheiro que chegou a ser sequestrada para outros locais do mundo para um consumo predatório. Apesar disso, sabemos muito bem onde ficam suas raízes. Através de indígenas e extrativistas , a Hevea brasiliensis, sempre teve importância para a cultura local e é popularmente conhecida como “árvore de borracha”, e não é porque ela é maleável não, mas porque através dela se faz a borracha: Hoje, vamos falar da seringueira.

A seringueira é uma árvore tropical pertencente à floresta Amazônica e possui mais de 11 espécies. De sua seiva se extrai o látex, matéria prima da borracha. Este, por sua vez, já era extraído a muitos anos pelas populações indígenas antes mesmo da invasão da América.

Desde meados do século XIX, a região amazônica foi explorada pelo cultivo de seringueira e extração do látex, sendo esse um grande colaborador do desenvolvimento econômico da região, contribuindo para o desenvolvimento das populações locais. 

O ciclo da borracha no Brasil se encerrou através do roubo das sementes de seringueira, que foram levadas para Londres, dando início às pesquisas com a modificação e adaptação da árvore fora do Brasil. Configurando assim, um dos primeiros e maiores casos de biopirataria do mundo.

Atualmente, existem plantações de seringueira nas regiões dos trópicos e subtrópicos, especialmente no sudeste da Ásia e na África ocidental. No Brasil, a maior parte da produção de látex passou a ser realizada no estado de São Paulo, principalmente no noroeste paulista, na região de São José do Rio Preto. Contudo, isso não diminui nem a produção e nem o impacto econômico e social dos seringueiros nativos da Amazônia.

O Látex

Matéria-prima da borracha e outros materiais, o látex natural nada mais é do que a seiva da seringueira. Tradicionalmente retirada de vincos talhados na casca da árvore. Com o avanço nos estudos sobre este material conseguimos aprimorar diversos processos de beneficiamento para tornar o látex mais resistente.

A vulcanização é um dos exemplos mais conhecidos para aumentar a resistência e durabilidade do látex, uma vez que a borracha de látex natural não suporta altas intempéries sem se degradar. O processo de vulcanização, que implica em adicionar enxofre ao látex, foi descoberto incidentalmente em 1839 por Charles Goodyear, e é o método que permite, por exemplo, a fabricação de borrachas utilizadas nas câmaras de pneus. Este processo ampliou a utilização do Látex na indústria, sendo utilizado desde a produção de calçados até apagadores.

Sustentabilidade

Diferente da borracha sintética, que é produzida a partir do petróleo, a borracha natural é mais resistente, mais elástica e tem alta qualidade. Atualmente, o Brasil conta com mais de 40 mil produtos que utilizam o látex como matéria prima, como: pneus, acessórios, calçados, luvas, seringas, preservativos… enfim a lista é grande.

Outro ponto positivo da utilização da borracha natural é a “pegada ecológica”, uma vez que a produção de CO² na produção de borracha sintética chega a ser equivalente a 17 vezes o volume da produção de CO² da borracha natural.

E quando consideramos o impacto dos seringais na absorção do CO², a poluição na produção da borracha natural chega ser nula. Além disso, a energia utilizada para a produção da borracha natural também é bem menor.

No entanto, apesar da produção, aparentemente, ser amiga da natureza, não podemos deixar de falar sobre a monocultura no cultivo de seringueiras, que utilizam agrotóxicos e demais aditivos químicos poluindo a água e o solo, causando diversos danos ao meio ambiente. Nesse sentido, para considerar uma produção de borracha sustentável, ela precisa estar relacionada ao extrativismo.

Extrativismo, ativismo e História

O processo de exploração do látex e do extrativismo seringueiro está muito além de uma simples produção comercial. Em virtude do contato e vivência na floresta, os seringueiros também assumem o papel de fiscalizar e prevenir desmatamentos: sem floresta não há seringueira.

Um dos precursores e mais falados nomes nessa luta dos seringueiros pela manutenção da floresta é o Chico Mendes – nascido e criado na cultura extrativista, Chico foi uma liderança na organização dos seringueiros na década de 80.

Nesse período, uma prática muito comum era a troca de látex por produtos industrializados, em vez de uma remuneração adequada pelo trabalho, o que causava diversos conflitos e miséria na região. Contra esse abuso, começou a surgir o movimento dos seringueiros, os quais Chico Mendes sempre esteve atuante, até assumir a liderança e ser assassinado de forma brutal, em 1988, a mando de Darly Alves – grileiro de terras com história de violência em vários lugares do Brasil.

A luta de Chico Mendes e dos seringueiros, não era limitada apenas a condições melhores de trabalho ou salário digno, eles também entravam em conflito com aqueles que queriam destruir a floresta, quebrando motosserras e o que mais fosse preciso.

Essa luta não acabou e nem morreu com Chico, o movimento dos seringueiros ainda é vivo e inspira muitas pessoas, como por exemplo a carioca Bia Saldanha, uma das precursoras do “couro vegetal”, um material de origem no látex e que compõe uma alternativa à exploração animal.

Inspirada pelo legado de Chico, a estilista e ambientalista Bia Saldanha decidiu se mudar do Rio de Janeiro para o Acre após o assassinato do ativista, em 1988, e continuar o trabalho iniciado por ele. Bia se uniu aos seringueiros na busca de novas aplicações e alternativas de mercado para a borracha nativa. Começava então o trabalho do “couro vegetal” (como ficou conhecido popularmente na região), um material emborrachado, inspirado no artesanato tradicional que já era desenvolvido por lá, transformado por ela em matéria-prima para a indústria da moda, usado na fabricação de bolsas e acessórios, como uma alternativa ecológica ao couro animal. “É essencial provar que o manejo sustentável através do extrativismo é possível”, diz ela.

Com todo esse contexto histórico, econômico e social, é possível perceber que, a partir de uma única árvore podemos ver riqueza, dinheiro, histórias e lutas. As árvores se conectam diretamente com a terra e de lá tiramos o nosso alimento, sustento, insumos e casas. Elas são essenciais para a sobrevivência enquanto raça humana e de todos os outros seres com os quais dividimos o planeta. Uma árvore não é só uma árvore. 

A seringueira é o dinheiro que dá em árvore mas, para além da simples moeda, ela também é cultura, é tradição, é segurança e soberania alimentar e nutricional de diversas comunidades.

Seringueira é a riqueza que “dá em árvore”, e ela encerra a nossa jornada pelo Brasil em torno das árvores nativas que ajudaram a moldar a nossa economia, história e cultura, e seguem gerando renda com potencial ecológico.

Fontes:

Borracha Brasileira | Seringueira causa danos ao meio ambiente?
http://borrachanatural.agr.br/cms/index.php?option=com_content&task=view&id=573&Itemid=9

Vogue | Látex de seringueiras da Amazônia geram renda para quem vive na floresta
https://vogue.globo.com/moda/noticia/2021/03/dia-da-floresta-latex-de-seringueiras-da-amazonia-geram-renda-para-quem-vive-na-floresta.html

SciELO | Direitos à floresta e ambientalismo: seringueiros e suas lutas
https://www.scielo.br/j/rbcsoc/a/9hyLqvGyMWs9xBy5b8QMvVh/?lang=pt

Memorial Chico Mendes
http://www.memorialchicomendes.org/chico-mendes

IAC | Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais
https://www.iac.sp.gov.br/areasdepesquisa/seringueira/importancia.php

Deutsche Welle (DW) | Borracha natural causa menos impacto ao meio ambiente
https://www.dw.com/pt-br/borracha-natural-causa-menos-impacto-ao-meio-ambiente/a-16279621#:~:text=Mat%C3%A9ria%2Dprima%20extra%C3%ADda%20da%20seringueira,vers%C3%A3o%20sint%C3%A9tica%20derivada%20do%20petr%C3%B3leo.&text=Na%20floresta%20peruana%2C%20como%20mostrou,forma%20de%20aumentar%20sua%20renda

Embrapa | Biotecnologia
https://www.embrapa.br/contando-ciencia/biotecnologia/-/asset_publisher/wNet9XcMlLFn/content/seringueira/1355746?inheritRedirect=false

IstoÉ | O homem que roubou a borracha do Brasil
https://istoe.com.br/154500_O+HOMEM+QUE+ROUBOU+A+BORRACHA+DO+BRASIL/

Ministério da Ciência | Seringueira, a planta que sustentou uma região
https://www.museu-goeldi.br/noticias/seringueira-a-planta-que-sustentou-uma-regiao-1

Prepara Enem | A vulcanização da borracha
https://www.preparaenem.com/quimica/vulcanizacao-borracha.htm

Roda da Moda | Bia Saldanha (parte 1 e 2)
https://www.youtube.com/watch?v=FMsa2kWlfnM
https://www.youtube.com/watch?v=SU8rBrb9zww

Rio Ethical Fashion | Bia Saldanha
https://www.rioethicalfashion.com/biasaldanha

Universo Solo

Universo Solo

Milena Ventre  

Por dezenas de milhares de anos a água e o clima operaram para que rochas fossem decompostas e é deste movimento que surge o solo. Inicialmente o solo era uma estrutura simples, não tendo a capacidade de acumular água e os nutrientes necessários para manter formas de vida. Os primeiros seres vivos a habitar o solo foram os líquens, capazes de recolher água do ambiente e capturar nitrogênio.

Numa dança de milhões de anos, essa interação de líquens + solo permitiu que novas espécies pudessem existir, tal como o surgimento das plantas terrestres e suas micorrizas* (fungos+raízes)*, as quais aumentaram a absorção de nitrogênio e outros nutrientes do solo e rochas.

O solo é 50% sólido, o restante é composto de “vazio” (ar, vapor d’água e pequena quantidade dela em estado líquido). É neste “espaço vazio” que a vida dos microrganismos existe, criando conexões com as plantas e permitindo o movimento de nutrientes.

As plantas e sua capacidade fotossintética, capturando gás carbônico (CO²) disponível na atmosfera por meio de suas folhas e transformando-o em carboidrato, levando diretamente ao solo através de suas raízes, permitindo, assim, que outras formas de vida possam se constituir. Por isso, fungos e bactérias se conectam as plantas e, em contrapartida, fornecem fósforo, magnésio, enxofre, zinco, cobre e tudo mais que as plantas precisam para se desenvolver. No instante em que as plantas vivem, toda uma infinidade de animais também podem existir, e esses permitem a existência de outros, formando assim, não uma pirâmide, mas uma rede viva e mágica.

 

A vida no solo se expandiu muito! Só de plantas conhecemos umas 350 mil espécies, inclusive árvores com até 83 metros de altura ((quê lokura né!?)) imagina todas as conexões subterrâneas que ela tem, e a capacidade de organizar e estruturar carbono.

A maior árvore do mundo

 

Nessas conexões subterrâneas, entre o solo e as plantas, foram cocriados caminhos de água pelo planeta, que permeiam desde as folhas pela sua transpiração às raízes pela troca com o solo, passando pelas rochas, pelos rios e mares, abastecendo os lençóis freáticos e formando as nuvens, compondo, assim, os ciclos hidrológicos.

E o solo, cenário onde ocorrem muitas dessas conexões da vida, abriga um ser que tem uma relação muito especial conosco seres humanos: estamos falando da Mycobacterium vaccae, uma bactéria que, em contato com nosso corpo, estimula nosso cérebro a desenvolver proteínas anti-inflamatórias, auxiliando na redução do estresse e da ansiedade. Que querida ela, não?!

Porém, num dado momento, a humanidade decidiu destruir toda essa criação, toda essa engenharia da vida, desde as sementes, os cursos d’água, as árvores milenares, bactérias e fungos, os elementais, ecossistemas, a biodiversidade… Um plano voraz com foco no PIB que conta as toneladas de alguns 2 ou 3 grãos, controla toda as plantações com adubos químicos e venenos, rezando para que a chuva caia sobre as lavouras.

No ano de 2022 estamos tendo perdas imensas devido a seca. No Paraná, a quebra na safra em função da estiagem chega a 40%, com um prejuízo estimado em R$ 22,5 bilhões, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura.

É evidente que não há como seguir este caminho. Se faz urgente a criação de novos olhares sobre a vida, compreendendo a terra e reinventando a alimentação. Por isso é tão importante que conheçamos os mistérios do planeta e seus fluxos e processos ecológicas para manutenção da vida na Terra. Conhecer o universo do solo é a chave para compreendermos que somos interdependentes de todos os espaços, estruturas naturais e seres vivos que dançam nessa teia da vida.

Ainda há muito o que desbravar no entendimento de como o solo é importante para a vida no planeta. Precisamos captar seus ensinamentos e ressignificar nossas conexões e a alimentação é um portal possível para essas transformações.

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