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Entrevista concedida às alunas da disciplina de Introdução à Nutrição do curso de Nutrição do Instituto Federal do Ceará – Campus Limoeiro do Norte. Desejo contribuir com a formação da turma com minhas experiências profissionais enquanto nutricionista.

Qual a sua graduação? Quando concluiu o curso?

Sou graduada em nutrição pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, localizada no município de São Leopoldo no estado do Rio Grande do Sul. Concluí minha graduação em julho de 2015.

Se você fez pós-graduação, qual o seu último título?

Fui mestranda no Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural – PPG MADER, na Faculdade de Planaltina – Universidade de Brasília. O curso não foi concluído.

Atualmente, onde atua profissionalmente?

Atualmente sou empreendedora social com a Crioula – Curadoria Alimentar.

Qual função exerce?

Sou fundadora da empresa e desenvolvo diferentes funções na organização.

Quais as principais atividades desenvolvidas diariamente?

Não trabalho no formato convencional de ocupação profissional. Não tenho uma carga horária fixa diária de trabalho nem uma rotina fixa de atividades.

Produzo conteúdo digital então, diariamente acesso diferentes plataformas de notícia e instituições de pesquisa para me inteirar das descobertas e acontecimentos em torno dos temas que a empresa trabalha: meio ambiente, ecologia, alimentação e cultura. Além das atividades de produção de conteúdo; trabalho com marketing digital, assessoria e consultoria para restaurantes, escolas e demais instituições que querem desenvolver soluções ecológicas nos sistemas alimentares formados.

Como trabalho com Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANC, também saio para realizar coletas pelos bairros da cidade onde estou atualmente, Porto Alegre. Cozinho, registro minhas preparações para as redes sociais. Tenho uma linha de produtos ecológicos chamada Nobis e beneficio os alimentos: molhos salgados, compotas, conservas e geleias com alimentos produzidos de forma agroecológica, orgânicas e coletadas pela cidade.

Organizo planos de aula para cursos e formações. Cozinho em restaurantes veganos. Eu faço várias coisas. Cada dia é um dia, cada semana é uma semana. Mas sempre realizo coletas pelas cidades e produzo conteúdo para a internet.

Este foi o seu primeiro emprego? Se Não, em que outros locais atuou e funções que exerceu?

Não, eu já trabalhei um bocado! kkkkk  Minha primeira experiência profissional depois de formada foi no campo da pesquisa. Atuei como auxiliar de pesquisa na Gerência Regional de Brasília da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Brasília no Programa de Alimentação Nutrição e Cultura. Por 3 anos contribuí nas pesquisas elaboradas pelo programa; contribuí no desenvolvimento do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares – OBHA.

Já realizou/participou de algum curso, congresso, fórum, palestra na área de Nutrição? Se Sim, definir temáticas:

Sempre participei de eventos relacionados à Alimentação e Nutrição: Segurança Alimentar e Nutricional; Agroecologia; Cultura Alimentar e Sustentabilidade.

II Workshop sobre Estratégias Alimentares e de Abastecimento (II WEAA). Ocorreu em Porto Alegre em outubro de 2019 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. |https://www.ufrgs.br/weaa/

II Encontro Nacional sobre Hortaliças não Convencionais (HortPANC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ocorreu em agosto de 2018. | http://www.fm.usp.br/fmusp/noticias/ii-hortpanc-atrai-pessoas-de-outros-estados-para-acompanhar-oficinas-de-culinaria-e-manejo-de-plantas-nao-convencionais

III Conferência Internacional Agricultura e Alimentação em uma Sociedade Urbanizada – AgrUrb. Aconteceu em setembro de 2018 em Porto Alegre na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS | http://www.ufrgs.br/ufrgs/eventos/iii-conferencia-internacional-agricultura-e-alimentacao-em-uma-sociedade-urbanizada-agurb

Você se considera realizado profissionalmente? Quanto ao nível de satisfação profissional, como se considera?

Sim, muito satisfeita!

Quais os motivos que o (a) levam a este grau de satisfação?

Trabalho com algo que têm sentidos e significados que extrapolam as fronteiras do exercício profissional, sinto-me realizada enquanto ser vivo na existência por ter a oportunidade de atuar com uma nutrição socioambiental que considera as dimensões culturais do alimento. Considero-me uma nutricionista ativista e regenerativa, pela nutrição encontro caminhos de transformar modos de vida que sejam saudáveis e adequadas para as pessoas e o planeta.

A Nutrição vem se tornando cada vez mais conhecida pela população. A que você atribui esta evolução?

Para além de pensar quanto a população conhece a nutrição, é preciso refletir como as pessoas conhecem a nutrição. O destaque desse campo de atuação ainda está bastante vinculado a dimensão biológica do nutrir. A dimensão da alimentação enquanto setor econômico e elo social do ser humano com seu habitat é uma perspectiva ainda pouco difundida na população. Nutrição estética e esportiva ainda são os perfis mais procurados nas redes sociais e a busca por um emagrecimento por um símbolo de beleza magro amplificam a audiência dessas linhas.

Percebo que as atenções sob as mudanças climáticas e seus prejuízos ambientais atualmente no mundo, leva uma parcela da população a buscar práticas saudáveis e sustentáveis para sua alimentação cotidiana.

Em suma, a internet amplificou as informações que circulam entre as pessoas e isso também incluí o setor de alimentos. A oportunidade de apresentar as diferentes possibilidade de comer e nutrir pela web, me parecem ser elementos importantes de serem estudados. Romper com o nutricionismo que cerca a formação do nutricionista é importante para que a evolução entre as pessoas seja qualitativo.

Quais os desafios desta profissão?

Penso que respondi indiretamente essa questão na anterior. Pensar nos diferentes sistemas alimentares existentes e como a nutricionista pode contribuir para promoção de saúde no território que atua é essencial. E para isso, é preciso uma formação abrangente, integrada e sistêmica. Isso pressupõem uma reformulação na formação que inclua temas como agrotóxicos; desertos alimentares; desigualdades alimentares e muitas outras temáticas que estão na dimensão do produzir e comer. Borrar as fronteiras do nutrir compreendendo que, sem biomas saudáveis; sem populações originárias e ancestrais; sem cuidado e respeito com o ambiente não há uma boa nutrição.

O que o (a) levou a escolha desta profissão?

Escolhi cursar nutrição porque queria trabalhar com combate à fome. A formação acadêmica foi o necessário para ter um título de profissional, mas os saberes e conexões que realizei para ser a profissional que sou hoje ocorreram fora do currículo da universidade. As atividades complementares, os projetos de extensão em Saúde Pública, os intercâmbios que trataram sobre inovação e setor de alimentos foi o que oportunizou que hoje eu me sinta exercendo a profissional seguindo a motivação primordial que me fez ser nutricionista.

Você possui outros objetivos/planos profissionais? O que deseja ainda?

Eu desejo obter uma fonte de renda financeira suficiente para seguir realizando as atividades que acredito serem transformadoras e disruptivas. Não é fácil enfrentar o mundo do empreendedorismo, ainda mais na temática que escolhi com negócio ecológico. Meus planos são me especializar na edição de vídeos para aperfeiçoar minhas redes sociais e fazer conteúdos cada vez mais acessíveis.

Tenho o sonho de criar um ponto de cultura alimentar onde poderei articular todas as frentes que atuo hoje em um só lugar. Plantar, colher, cozinhar, exercer a comensalidade que é um fenômeno coletivo, gentil, afetivo e muito potente para geração de vida que desdobra-se num estado de bem-estar – que é saúde no meu ponto de vista.

Que mensagem você daria a um estudante de Nutrição?

Saiam da bolha. Conversem com as pessoas. Olhem para uma cenoura vendo-a como um ser vivo que se relaciona conosco tanto quanto nós ao preparar uma salada ou bolo. Precisamos ser mais animais e menos humanos. Precisamos romper com as gaiolas que os nutrientes colocam nosso campo de saber para que ele tenha plasticidade o suficiente para acolher essa dinâmica complexa e múltipla que é a alimentar e nutrir a humanidade.

Na sua visão, quais as principais funções de um nutricionista?

Temos o privilégio de trabalhar com a fonte de vida de pessoas, sociedades. Pra mim, não há principais funções porque cada realidade exige competências e habilidades diferentes. Pra mim, os principais elementos de um nutricionista deve ser a empatia e ecologia para um mundo mais nutrido e solidário.